Foi um momento importante para mim. Tão importante que eu ainda me lembro dele 40 anos depois.
Nossa professora de música, que eu adorava, havia agrupado minha sala de jardim da infância sentada ao redor de seus pés. Enquanto ouvíamos atentamente, ela cantarolou uma série de notas adoráveis. Então perguntou: “Meninos e meninas, essas notas vão para cima ou para baixo?”
Em uníssono, a classe respondeu: “Baaaixo”.
Mas a professora, com uma expressão que não consegui decifrar, examinou nosso grupo e disse: “Qual de vocês disse ‘cima’’? As outras crianças olharam umas para as outras, encolhendo os ombros, enquanto eu estava cheia de vergonha. Tinha sido eu.
Sentindo-me humilhada, levantei minha mão. Mas, para a grande satisfação do meu “eu” infantil, a professora de música disse: “Shannon, bom trabalho! Você estava certa — as notas foram para cima!”
Eu exultei. Eu estava certa quando todo mundo estava errado.
Estar Certa
Já ouvi dizer que nossas primeiras memórias — eventos que evocam emoções suficientes para adentrarem na memória consciente — podem nos dizer alguma coisa sobre nós.
Então, o que essa história diz sobre mim? Eu amo estar certa. Eu amo estar certa especialmente quando o resto do grupo não está. Como adulta, eu dei nome a essa habilidade de ver claramente quando os outros estão errados como “discernimento”. Eu presunçosamente me considerei discernida. É claro que eu não digo às pessoas isso. Isso não seria muito discernido, seria? Mas confesso que disse isso a mim mesma.
Discernimento — perceber a diferença entre o certo e o errado — pode ser uma grande qualidade para a Igreja, mas só quando vem junto com humildade e amor. Discernimento presunçoso, que se deleita em estar certo quando os outros estão errados, é distorcido e, na verdade, falta justamente em discernimento.
Condenação
Uma amiga me contou sobre a primeira vez que ela foi a um evento de jovens usando um biquíni. Ela sempre usou biquínis e nunca pensou nada de mais a respeito disso. Mas, quando ela se juntou com as outras garotas na praia usando maiôs, ela podia sentir o julgamento. Ninguém disse nada, mas olharam diferente para ela. Elas falaram dela pelas suas costas.
Ela não foi para casa aquele dia com clareza sobre as atitudes do coração que inspiram a modéstia, mas com um senso vago de vergonha. Ela disse a sua mãe: “Você pode me comprar um maiô? Eu acho que pode ser errado usar um biquíni”.
Embora eu não estivesse nesse grupo de meninas, lançando olhares de condenação, eu teria me encaixado muito bem nele. Esse geralmente é o jeito (errado) que eu reajo quando vejo alguém fazendo algo que considero errado. Em vez de me humilhar e remover a trave de orgulho do meu próprio olho para que eu possa ver claramente e ajude a outra pessoa a remover o argueiro dela (Mt 7:3-5), eu geralmente apenas observo num julgamento quieto. Eu deixo um espírito crítico e um senso de superioridade crescer em meu coração. Em vez de amar mais a outra pessoa, eu deixo meu amor próprio crescer.
Como Julgar
Julgar, analisar se os outros estão errados ou fizeram algo errado, não é inerentemente errado. 2 Timóteo 4:2 diz que os cristãos devem corrigir, repreender e exortar uns aos outros — o que requer de nós um julgamento sadio. Quando vemos uns aos outros seguindo o caminho errado, não devemos simplesmente dar de ombros. Mas também não devemos interferir com críticas duras e um espírito de julgamento.
Esse amor por estar certa enquanto os outros estão errados é um amor que exalta meu próprio eu.
Jesus nos chama para fazermos algo muito diferente no Sermão da Montanha. Lucas 6:37-38 diz:
“Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.”
Imagine-se sentada com seu colo cheio de bilhetes graciosos e de encorajamento escritos à mão por centenas de pessoas diferentes — todos amontoados no seu colo, quase caindo de tantos que são. Várias pessoas se deram ao trabalho de dizê-la o que elas acham bom, certo, amável e digno em você. Essa é uma imagem bem agradável, não é?
Agora se imagine sentada com seu colo cheio de bilhetes de confrontação e condenação escritos à mão — todos amontoados no seu colo, quase caindo de tantos que são. Várias pessoas se deram ao trabalho de dizê-la o que elas acham errado, desagradável, feio e indigno em você. Essa é uma imagem completamente desagradável, não é?
Deixe-me acrescentar mais um detalhe. Nessas duas suposições, os bilhetes vieram em envelopes de retorno, adicionados em cartas que você já enviou. As pessoas estão respondendo usando o mesmo meio. Então, o primeiro conjunto de bilhetes é em resposta ao encorajamento que você enviou. O segundo conjunto de bilhetes é em resposta ao seu criticismo e julgamento.
Jesus usou essa imagem para nos motivar. Ele não quer que sejamos pessoas que constantemente enviam mensagens às pessoas dizendo como e por que elas estão erradas. Ele diz em Lucas 6:36: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai”. Jesus está nos encorajando a graciosamente encontrarmos o bem nas pessoas e as ajudarmos a se desenvolver, em vez de exaltarmos a nós mesmos criticando e condenando os outros.
Sim, haverá tempos em que teremos de corrigir os outros. Mas isso nunca deve acontecer num espírito de condenação e de orgulho arrogante.
Escolhendo Sua Medida
Aquele momento na aula de música, há 40 anos, foi um grande momento para mim, mas ninguém mais se lembraria dele.
Quando eu amo estar certa enquanto os outros estão errados, eu amo a mim mesma. Eu me limito a momentos pequenos e facilmente esquecíveis que são centrados em mim. Discernimento que é somente pura crítica (e geralmente é só isso mesmo) não aconselha ninguém e afasta todo mundo.
Deus quer que sejamos pessoas envolvidas e generosas. Jesus diz: “porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também” (Lucas 6:38). Então nós podemos escolher o tamanho da nossa medida! Podemos medir nossa bondade em um copo do tamanho de um dedal ou do tamanho de um balde. Podemos medir nossos julgamentos e críticas em pás gigantes ou em pequenas colheres de chá.
Pessoas generosas e bondosas que se esforçam em achar bênçãos nos outros não são necessariamente pessoas que não têm discernimento. Elas simplesmente se recusam a deixar seu discernimento alimentar um senso de superioridade. Elas levantam as outras pessoas em vez de elevarem a si mesmas. Elas perdoam facilmente. Elas deixam passar erros com facilidade. E Deus promete que qualquer coisa que elas estejam se esforçando em achar nas outras pessoas será acumulado de volta em seu próprio colo.
Mencione uma situação em que você gostou de estar certo enquanto os outros estavam errados. Qual é a sua medida para críticas e julgamentos? Qual é a sua medida para generosidade e perdão? Escolha uma pessoa ou situação para quem ou para qual você oferecerá graça generosa e/ou perdão em vez de condenação.
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* Esse artigo foi publicado www.reviveourhearts.com/true-woman, traduzido mediante permissão.
**Shannon Popkin é uma palestrante e escritora de Grand Rapids, MI, que gosta de misturar seu amor pelo humor e por contar histórias com sua paixão pela Palavra de Deus. O primeiro livro de Shannon, “Control Girl: Lessons on Surrendering Your Burden of Control From 7 Women of the Bible” [Garota Controladora: Lições sobre Entregar o Seu Fardo de Controle a partir de 7 Mulheres da Bíblia] será lançado em Janeiro de 2017. Shannon é feliz em compartilhar sua vida com Ken, que a faz rir todos os dias. Juntos, eles vivem a vida agitada de serem pais de três adolescentes.
*** Tradução : Rebeca Romero