Conduzir o lar em conformidade com as Escrituras e ganhar o coração de nossos filhos é o desejo genuíno daqueles que amam a Deus. Este livro de Jerry Marcelino oferece ao leitor um rico material, conteúdo bíblico e sugestões práticas e simples para o exercício dessa importante prática familiar. 

O livro começa nos lembrando de uma citação de A. W. Pink muito interessante:

“Visto que o crente não pertence a si mesmo, mas foi comprado por preço, seu alvo é glorificar a Deus em todos os relacionamentos da vida. (…) Juntamente com a igreja de Deus, o lar do crente deve ser a esfera de sua mais evidente dedicação a Deus. Todas as realizações do lar têm de estampar o selo da divina chamada do crente, e todos os seus afazeres devem ser dispostos de tal modo, que todas as pessoas vindas ao seu lar percebam que Deus está ali.”

Partindo desse pressuposto, o culto familiar ocupa posição fundamental em um lar cristão. Entretanto, Jerry afirma que esta tem sido uma prática desprezada entre muitos cristãos. Um dos principais motivos apresentados pelo autor é o abandono das veredas antigas. 

Jerry resgata alguns relatos dos puritanos acerca da importância do culto familiar bem como da negligência da adoração em família que já era percebida naquela época e afirma que a restauração do cristianismo em nosso tempo depende diretamente do resgate da prática do culto familiar. 

São apresentadas quatro razões para restaurarmos o culto em família:

1- Somos mordomos dos dons de Deus, ou seja, nossos filhos pertencem a Deus, somos mordomos designados para cuidar dessas almas que nunca morrerão. Devemos usar todos os meios que Deus nos deu para alcançar nossos filhos com o evangelho.

2- Seu filho foi colocado em seu lar por um desígnio de Deus, então precisamos reconhecer não somente a soberania de Deus orquestrando nosso lar, mas também, usar todos os meios designados por Deus para alcançar nossos filhos, procurando iniciar, de maneira responsável, e cultivar, de maneira regular, a adoração diária a Deus com nossa família.

3- O culto familiar nos prepara para a adoração pública, não é uma atividade isolada, ela é essencial para a nossa adoração particular, e pública. A família que adora a Deus de segunda a sábado, terá mais facilidade em adorar a Deus publicamente no domingo como um resultado natural de sua prática particular e familiar. Jerry diz que a falta de vida que muitas igrejas experimentam pode ter origem nas famílias cujos membros só adoram a Deus no domingo.

4- O declínio espiritual de um povo se deve, em grande parte, à negligência em relação às famílias. As unidades familiares constituem, de modo cumulativo, as nações. Se as famílias não forem instruídas na adoração a Deus, as igrejas e a nação sofrerão as consequências negativas desta negligência. 

Após conhecer algumas das razões para cultuarmos a Deus em nosso lar, Jerry nos apresenta algumas instruções práticas para começarmos a fazer o culto familiar. O estabelecimento começa com a convicção e prossegue rumo à ação.

A adoração familiar deve ser vista como parte integral das responsabilidades espirituais diárias de cada família, e cabe aos familiares escolherem o melhor horário para que todos os membros da família participem. 

Jerry recomenda que todos os filhos participem do culto familiar, independentemente da idade. Ele diz:

“O culto familiar lhes fornecerá em seu próprio lar, uma circunstância em que tenham reflexão saudável e prudente, discussão, interação, assimilação e, felizmente, aplicação das coisas mais necessárias para o bem-estar eterno da alma deles.”

Sobre o local onde deve acontecer a adoração familiar, o autor nos lembra de Deuteronômio 6:7

“Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, a ao deitar-te, e ao levantar-te”

Devemos sempre observar que há flexibilidade do lugar e horário para realizar o culto familiar, isso depende de cada família. O importante é a regularidade e a dedicação.

Os elementos que compõem o culto familiar são os cânticos, a leitura bíblica e a oração.

É interessante separar alguns cânticos que são entoados nos cultos públicos, assim as crianças já conhecerão as letras e melodias de antemão e terão mais facilidade para cantar louvores no Dia do Senhor.

A leitura bíblica pode ser feita de várias maneiras. A família pode seguir um plano de leitura, pode ser feita memorização de versículos e pode ser enriquecida com o uso de um catecismo, um bom devocional, a leitura de um livro de histórias bíblicas, livros clássicos cristãos e biografias de crentes.

É importante que sejamos reverentes e, ao mesmo tempo, criativos ao ensinarmos a Palavra de Deus aos nossos filhos, evitando a monotonia, lançando mão de ferramentas que possam ajudar no ensino.

Devemos aproveitar este momento também para ensinarmos nossos filhos a orar, lembrando-os de orar pela família, pelos necessitados e enfermos, pelas necessidades de sua família, de sua igreja local e de seu país, a lista de oração não tem fim, podemos explorar bastante essa parte, para que nossos filhos nos vejam orando e aprendam naturalmente esta prática tão necessária na vida do crente.

Jerry ressalta a importância de aproveitarmos os primeiros anos dos nossos filhos para transmitirmos a preciosidade do Evangelho:

“Com frequência, um filho vê além da aparência religiosa de seus pais e descobre o que é realmente precioso para eles. Um filho vê padrões de coração que induzem os pais a buscarem riqueza, diversão, esportes, entretenimento, televisão, shoppings ou mera ocupação religiosa. Um filho pode perceber facilmente quando tais coisas são mais estimulantes para seus pais do que a devoção ao Senhor”.

O que é precioso para nós, tem grandes chances de se tornar precioso para nossos filhos.

Precisamos, de fato, amar a Deus sobre todas as coisas, ter profundo desejo de adorá-lo, nossos filhos perceberão se somos superficiais ou se não praticamos o que falamos.

John Geree escreveu a respeito de um pai tipicamente puritano, em 1646:

“Ele se esforça para que sua família se torne uma igreja, tanto no que se refere às pessoas como às práticas, admitindo ali somente alguém que teme ao Senhor; e empenha-se para que os nascidos em seu lar sejam também nascidos de novo”.

Jerry finaliza seu livro encorajando os pais a assumirem sem demora a responsabilidade que Deus lhes outorgou para conduzirem seus pequenos a Deus, praticando a adoração particular, familiar e pública juntamente com sua família. 

Famílias que adoram a Deus juntos podem ser instrumentos nas mãos de Deus para trazerem avivamento para a igreja e até mesmo para a nação.

Jerry Marcelino é o pastor da Audubon Drive Bible Church, nos EUA. É diretor da editora Audubon Press e moderador da Fellowship of Independent Reformed Evangelicals. É autor de vários livros e artigos teológicos. Ele é casado com Dawn, com quem tem sete filhos.


Ana Carolina é casada com Jonatha Bongestab, mãe da Melissa, Manuela, deste lado da Eternidade, e da Aimée, que está com o Senhor. Congrega na igreja Presbiteriana de Ponta D’areia no Rio de Janeiro. É advogada por formação, mas atualmente exerce livremente seu direito de servir sua família em tempo integral, educando suas filhas em casa, ajudando seu marido, escrevendo sempre que pode, e se dedicando aos estudos sobre Educação Clássica Cristã.