Há um problema real, desânimo real e trabalho árduo real que vêm com a maternidade. Dizer “ser mãe não é fácil” é como dizer “chocolate é gostoso”. Isso é óbvio. Basta assistir a uma mãe grávida de nove meses tentando sair do carro sem distender nenhum músculo. Basta ouvir uma mãe compartilhar as dores em seu coração pelo filho que ela está esperando para adotar. Ou peça a uma mãe para lhe dizer seus pedidos de oração. Ser mãe não é fácil.
Mas, algumas vezes, as mães pensam que suas mãos estão ocupadas com inconveniência, trabalho ingrato e futilidade. Manter a perspectiva de que Deus abençoou você abundantemente é uma luta muito real. A luta pela fé não pode ser travada com a ideia caprichosa de que você só precisa ver que “o copo está meio cheio”. A luta por fé deve ser tratada com sensibilidade e graça, e sempre sujeita à inerrante Palavra de Deus e à sua autoridade.
Sei que as lutas, decepções e dores são questões significativas na maternidade, por isso é com toda a seriedade e sinceridade que eu me lembro do que o apóstolo Pedro diz em 1 Pedro 1.3-5: Nasci de novo para uma viva esperança por meio da ressurreição de Cristo, e tenho uma herança incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada nos céus para mim. Mesmo que a minha vida seja cheia de angústias e vitórias triunfantes, incógnitas e esperanças, estou sendo guardada pelo poder de Deus mediante a fé, para a salvação a ser revelada no futuro. Pregar o evangelho para mim mesma todos os dias é a melhor maneira de lembrar que a minha vida em Cristo é a realidade principal e permanente em minha vida. A habitação do Espírito Santo conforta minha alma com as verdades da Palavra de Deus.
Quando Jesus me resgatou do inferno, ele também me resgatou para si. Fui poupada de uma eternidade de justo castigo que mereço e foi-me entregue vida para sempre com o meu Salvador. Ele pegou aquele cálice – cheio até a borda com a ira de Deus contra o pecado – e bebeu até a última gota. Então, ele não me entregou de volta um cálice vazio (que por si só já teria sido uma misericórdia indizível).5 A Bíblia diz que o meu copo não está apenas meio cheio. Por causa de Jesus, o nosso copo está transbordando com as bênçãos de Deus (Sl 23.5).
Sei que posso não estar livre da próxima fralda cheia que vazar até o chão do meu carro enquanto estou presa no trânsito com crianças chorosas que só querem sair e brincar. Mas, por causa do evangelho, estou livre de ter que responder a esses problemas na forma como a minha carne pecaminosa desejaria – estou fortalecida pela graça porque me foi dada a justiça de Jesus Cristo quando eu, de fato, reajo de forma pecaminosa. Por causa do evangelho, também posso ver as boas intenções de Deus para cumprir suas promessas em mim ao me tornar semelhante a Cristo e me aproximar mais de si mesmo. Essas são apenas algumas maneiras de como é possível considerar o evangelho na vida diária de uma mãe.
Como o evangelho de Jesus Cristo impacta a sua vida de uma forma significativa quando a sua realidade no momento parece ser absorvida pelas coisas mundanas, como acidentes com xixi ou vômito e birras no supermercado?
Qualquer um pode aconselhar você sobre a forma de lidar com essas coisas práticas, tangíveis. Por exemplo, alguém pode sugerir que você compre uma capa de chuva e use-a até que seus filhos estejam no sexto ano escolar. Para abafar suas birras em público, talvez você possa entrar em algum provador de roupas ou banheiro e ter um ataque de raiva em particular. Hein? Você pensou que eu estivesse falando sobre a birra do seu filho no supermercado? Bem, isso é uma coisa completamente diferente!
Mesmo que o seu primeiro filho tenha acabado de ser concebido em seu ventre ou você tenha sido recentemente aprovada para uma adoção, você já pode saborear a bondade de Deus para com você na maternidade.
Quando vejo a maternidade não como um dom de Deus para me fazer santa, mas sim como uma função com tarefas que ficam no meu caminho, estou deixando de ver um dos meios ordenados por Deus de crescimento espiritual em minha vida. Não apenas isso, mas estou deixando de desfrutar Deus. Nenhuma angústia de mãe pode se comparar com a miséria que vem de uma vida desprovida da presença consoladora, encorajadora, protetora, provedora e gratificante de nosso Deus santo.
Quero para mim o que Paulo queria para os seus amados filipenses: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco” (Fp 4.9). Quero que a paz de Deus governe a minha maternidade.
Quero para mim o que o autor de Hebreus queria para os seus leitores: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Quero viver cada dia da maneira pela qual fui salva por Cristo – isto é, pela graça mediante a fé. Preciso me despojar do velho homem, sendo renovada no espírito do meu entendimento, e me revestir do novo homem criado à semelhança de Deus, em verdadeira justiça e santidade (Ef 4.20-24). John Owen comentou sobre o papel do evangelho nessa busca: “O que então é a santidade? Santidade não é senão a implantação, escrita e vivência do evangelho em nossas almas (Ef 4.24)”.6
Essa vida de fé infundida pela graça faria maravilhas na forma como crio os meus filhos, é claro, mas, além disso, ela mantém o meu olhar fixo em Deus. Pode-se dizer que o mandamento mais amoroso na Bíblia é este:
Tu, ó Sião, que anuncias boas-novas,
sobe a um monte alto!
Tu, que anuncias boas-novas a Jerusalém,
ergue a tua voz fortemente;
levanta-a, não temas
e dize às cidades de Judá:
Eis aí está o vosso Deus! (Is 40.9)
Quero ser contada entre aqueles que “verão o Senhor”. Quero contemplar o meu Deus!
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*Esse post é um trecho do lançamento de Maio de 2015 da Editora Fiel: “Sem Tempo para Deus”, escrito por Gloria Furman. Postado originalmente no site do Ministério Fiel.