Quantas ansiedades diárias estão sobre algumas pessoas por não terem filhos! Eles têm muitas outras coisas boas, mas a falta dos filhos os deixa amargurados. O próprio Abraão estava aflito com isso: “Senhor Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro” (Gn 15:2-3). O desespero de Rachel foi maior: “Dá-me filhos, senão morrerei” (Gn 30:1).
Filhos são bênçãos muito grandes, eles são prometidos a nós como tais no Salmo 128:3-4, e em outras passagens da Bíblia. Certamente, eles são uma das mais doces flores que crescem no jardim dos confortos terrenos. Sendo assim, é difícil para as pessoas suportar a falta deles com contentamento. Mas, seja quem você for, se estiver passando por essa aflição, lute para ter uma mente contente mesmo diante disso. E, a fim disto, considere:
1- É Deus quem retém a misericórdia de ter filhos. Ele dá ou retém como bem lhe parecer. É nesse assunto que vemos da melhor forma a providência de Deus; alguns podem ter muitos, ou poucos, alguns, ou nenhum; tudo está sob o beneplácito e disposição de Deus.
Quando Rachel se colocou com tanta intensidade diante da falta destes, Jacó a repreendeu bruscamente: “Acaso, estou eu em lugar de Deus que ao teu ventre impediu frutificar?” (Gn 30:2). “Herança do SENHOR são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão” (Sl 127:3). “Faz que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe de filhos. Aleluia!” (Sl 113:9). Se pensássemos mais sobre esse assunto, isso não traria paz ao nosso coração? Quando Deus ordena todas as coisas, nós podemos nos entristecer e lamuriar pelo que Ele fez? Ele não deve dispensar suas bênçãos de acordo com o beneplácito de sua vontade? Se Ele nos der filhos, nós devemos estar gratos por possuirmos Sua bondade; se Ele nos negar, nós devemos ser pacientes confiando em Sua soberania.
2- Algumas vezes essa misericórdia nos é negada, mas o melhor nos é concedido. As vezes Deus não nos dá filhos mas Ele nos dá a Si mesmo; não é Ele “melhor do que dez filhos” como disse Elcana à Ana acerca de si mesmo (1Sm 1:8)? Existe, prometido para nós, “um nome melhor do que filhos e filhas;” (Is 56:5).
Aqueles que têm esse “nome melhor” não têm motivos para murmurar, por não possuírem algo inferior [afinal eles têm algo que é superior: O próprio Cristo]. Aqueles que têm a Deus como seu Pai no céu estarão contentes aqui na terra mesmo sem filhos. Mesmo Deus não me dando algo inferior, Ele me deu o meu bem maior, tenho eu motivos para estar irado?
3- Algumas vezes, Deus tarda em nos dar filhos, mas no final ele nos dá, há muitos casos assim. O importante é nunca se desesperar enquanto pudermos entregar [nossas ansiedades a Ele] e esperar. A nossa esperança é de que o desígnio de Deus seja nos dar conforto, mesmo com a falta de filhos nós podemos estar contentes.
4- Se filhos nos são dados após desejos perversos e irregulares [uma ansiedade pecaminosa], é de se questionar se isso foi feito em misericórdia [ou juízo]. É de se temer que esse tipo de quadro vai estragar a ação da misericórdia. O que nós ganhamos por descontentamento, raramente aproveitaremos com conforto. Quantos pais já tiveram a experiência da verdade disso! Eles estavam ansiosos até que tiveram filhos, e ficaram mais ansiosos quando os tiveram; eles se mostraram tão impiedosos, teimosos e impertinentes que houve muito mais aborrecimento quando tiveram filhos do que quando não os tinham.
5- Filhos são grandes confortos, mas são como confortos mistos. A rosa tem sua doçura, mas tem suas picadas também, assim são os filhos. São tantos cuidados, medos, distrações que os pais têm com relação aos seus filhos. Como costumamos dizer, cuidados certos e confortos incertos. Nós só vemos o lado doce dessa relação, e isso nos deixa inquietos, se nós enxergarmos o lado amargo, nós seremos mais tranquilos.
6- Se as misericórdias do Senhor fossem concedidas em todos as âmbitos de acordo com nossos desejos e expectativas, nossos corações seriam definidos por nossas vontades, o que teria uma consequência fatal para nós em muitos aspectos! Portanto, Deus prevendo isso, é por bondade e amor que nos nega algumas de nossas vontades.
Levando em consideração essas coisas, devemos ter contentamento mesmo debaixo dessa aflição.
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*Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth (Edição online de Fevereiro de 2015), traduzido com permissão do editor.
**Thomas Jacomb (1622–1687) era um ministro Puritano Inglês.
*** Traducão: Rebecca Figueiredo
****Revisão: Erika Monteiro e Flávia Silveira