Antes de darmos algumas sugestões para facilitar a integração de nossas crianças ao culto público, precisamos nos lembrar de alguns fundamentos básicos. Sem eles, a importância do assunto será minimizada. Nosso objetivo com este texto é entender a relevância da Assembléia Solene e como inserir filhos pequenos neste contexto cúltico. Para isto precisamos partir de alguns pressupostos bíblicos e entendê-los com profundidade.
O Culto Público é um momento solene
Se não entendermos a diferença que existe entre o Culto Público e qualquer outra atividade executada na igreja, também não entenderemos a necessidade de ensinar nossos filhos a reverência devida a este momento. Uma classe de Escola Dominical, uma reunião plenária ou uma palestra, por exemplo, merecem respeito e devem ser ordeiras e reverentes, mas quando falamos de Culto Público, o assunto fica muito mais sério. No Diretório de Culto de Westminster encontramos diretrizes para nos portarmos nos momentos de Culto Público:
“Quando a igreja se reúne para o Culto Público, as pessoas (tendo antes preparado seus corações para o mesmo) devem todas vir, e tomar parte; não se ausentando das Ordenanças Públicas por negligência, ou por pretexto de reuniões Particulares.Que todos entrem no recinto da Reunião, não com irreverência, e sim de maneira comedida e decorosa, tomando seus lugares sem mesuras (cumprimentos) em direção a um ou outro lado…
Uma vez começado o Culto Público, as pessoas deverão dirigir toda a sua atenção a este culto, evitando ler qualquer coisa que não seja o que o Ministro está lendo ou citando no momento; e abstendo-se sobretudo de todos os cochichos, consultas, saudações, ou cumprimentos particulares a quaisquer pessoas presentes, ou que estejam entrando; como também de todos os olhares fixos, cochilos, e outros comportamentos indecorosos, que possam perturbar o Ministro ou as pessoas, ou impedir a si mesmo ou a outros de cultuar a Deus.”
Será que a cada sábado à noite temos pensado na seriedade do que vai acontecer na manhã seguinte? Será que temos a noção exata de diante de QUEM pretendemos comparecer no domingo bem cedinho? Será que temos feito do Culto Solene ao Senhor algo mecânico e sem importância? Em Eclesiastes 5.1-2, vemos um alerta importante: “Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus; achegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.”
No livro “Sola Scriptura e o princípio regulador do culto”, Brian Schwertley comenta este trecho da seguinte forma: “Basta esta passagem para provar que o Culto Público é único e especial. Deve haver o solene reconhecimento da presença especial de Deus no Culto Público e, portanto, muito zelo em ser sincero, reverente, sossegado, consciente e atento. Matthew Henry escreveu: Prepare-se para o Culto a Deus com uma pausa solene, e gaste algum tempo em sossegar-se, não se aplicando a ele com precipitação… Quando estamos na Casa de Deus, estamos de um modo especial diante de Deus e na Sua presença, lá onde Ele prometeu encontrar-se com seu povo, onde os Seus olhos estão sobre nós, e os nossos olhos voltados para Ele.”
A Bíblia claramente nos ensina que no Culto Público desfrutamos da especial presença de Deus no meio do seu povo. Brian resume assim: “Num sentido especial, Cristo está falando ao povo da Sua aliança através da Palavra pregada. O povo como comunidade da aliança responde à Palavra de Deus com oração e louvor. A confissão de pecados a Deus inclui tanto os pecados individuais quanto os corporativos… A congregação não apenas recebe uma bênção especial pelos meios públicos de graça e presença única de Deus, mas Deus é mais glorificado quando é louvado pela assembléia do corpo de Cristo. David Clarkson escreveu: O Senhor comprometeu-se em estar com cada um dos seus santos individualmente, mas quando eles estão reunidos em Culto Público, todos esses compromissos individuais estão conjuntamente unidos. O Senhor compromete-se em deixar defluir, por assim dizer, um fluxo de sua presença confortadora, revigorante, para cada um dos que o temem, mas quando muitos desses indivíduos ajuntam-se para adorar a Deus esses diversos fluxos, então, combinam-se numa única torrente. Assim, portanto, a presença de Deus, que, desfrutada em particular, é mero regato, em público torna-se num rio que alegra a cidade de Deus. O Senhor tem um prato para cada alma que individualmente O serve em verdade; mas quando muitos indivíduos se congregam, há uma grande variedade, uma confluência, uma multidão de pratos. A presença do Senhor no Culto Público torna-o um banquete espiritual.”
Se conseguirmos entender a grandiosidade e a seriedade que é estar diante do grande Deus de toda a terra, talvez o comportamento de nossos filhos no Culto Público passe a nos preocupar mais e talvez tenhamos mais zelo no ensinamento e no treinamento que damos aos pequenos filhos da Aliança.
Culto Público É SIM, lugar de crianças!
Certa vez ouvi da boca de uma esposa de pastor a seguinte e estarrecedora frase: “As crianças não deveriam sair do culto na hora da mensagem. Elas atrapalham tanto o culto, que não deveriam sequer entrar na Igreja, deveriam ir direto lá para trás.” Nada mais antibíblico do que excluir as crianças do lugar onde Deus se encontra com seu povo, com o povo da aliança! Em momento algum nas Escrituras Sagradas, nem no Novo nem o Antigo Testamento, se vê a prática de tirar as crianças do ambiente de culto e levá-las a um lugar à parte, para um “cultinho”. Você não acha que se esta fosse realmente uma idéia brilhante, a Bíblia a incluiria nas Ordenanças acerca de como o culto a Deus deveria ser prestado? Nós, que somos reformados, cremos que, se a Bíblia não ordena claramente que se faça algo no Culto Público, não podemos inserir por conta própria. O Culto Solene deve constar das Ordenanças estabelecidas pelo próprio Deus. Ele determinou a maneira como Ele deseja ser adorado. E em lugar algum das Escrituras somos instruídos a retirar os filhos do pacto do momento mais importante da vida do povo de Deus: o Culto Solene! Pelo contrário, sempre que se fala em ajuntamento solene, a prescrição é que a família compareça toda diante do Seu Deus. Quer ver alguns exemplos?
O Profeta Joel convoca todo o povo ao arrependimento, mostrando que a misericórdia do Senhor estava sobre eles: “Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo jejum, proclamai uma assembléia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos, e os que mamam, saia o noivo da sua recâmara, e a noiva, do seu aposento.” Joel 2.15-16
Outro episódio marcante foi a saída do povo hebreu do cativeiro egípcio. O Senhor havia ordenado a Moisés que saísse para adorar no deserto com todo o povo. Depois da sétima praga, Faraó, tendo o coração endurecido pelo Senhor, é aconselhado por seus oficiais a permitir que apenas os homens saiam ao deserto para servirem ao Senhor. O diálogo foi o seguinte: “Então, Moisés e Arão foram conduzidos à presença de Faraó; e este lhes disse: Ide, servi ao Senhor vosso Deus; porém quais são os que hão de ir? Respondeu-lhe Moisés: Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos, e com os filhos, e com as filhas, e com os nossos rebanhos, e com os nossos gados; havemos de ir, porque temos de celebrar festa ao Senhor.” Êxodo 10.8-9.
De igual modo, temos Moisés instituido a Páscoa e ordenando aos pais que instruíssem seus filhos a respeito do que estava acontecendo e o que significava aquele ritual (Êxodo 13.14). As crianças estavam presentes na festa da Páscoa, que hoje corresponde à Ceia do Senhor. Elas sempre fizeram parte integrante da aliança de Deus com seu povo, sempre acompanharam seus pais nos rituais solenes.
“Todo o Judá estava em pé diante do Senhor, como também suas crianças, as SUAS mulheres, e os seus filhos.” 2 Crônicas 20.13
“Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse para toda a congregação de Israel, e para as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles.” Josué 8.35
Esta prática moderna não apenas não é encontrada na Bíblia, como é uma afronta ao Deus que escolheu trazer o Messias por meio da geração de filhos, que inclui os filhos em todas as promessas que faz ao seu povo. “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar.” (Atos 2.39). Ele não os alija da adoração, não se incomoda com sua presença, não os quer longe de si. Uma geração de pais que terceiriza o ensino bíblico dos filhos às igrejas (por isso acham que o culto tem que ser na linguagem deles, pois não o fazem em casa), e de pais que não têm controle algum sobre os filhos e os entregam na classinha para ‘poderem assistir o culto em paz’, formaram uma cultura. Esta nova cultura de retirar as crianças do ambiente cúltico, no entanto, é completamente estranha ao Antigo Testamento, ao Novo Testamento, à igreja primitiva, aos pais da igreja, à Reforma Protestante e aos nossos pais Puritanos.
Por outro lado, além do Culto Público ser uma ordenança para as crianças, como para todas as faixas etárias, ele é um privilégio para nossos pequenos! Eles são membros da família da Aliança e têm direito aos benefícios desta filiação!
Portanto, se você entende a seriedade da Santa Convocação que é o Culto Público e não se rende ao pragmatismo moderno – que prefere retirar as crianças a educá-las – este texto poderá lhe ajudar. Na próxima semana tentarei dar alguns conselhos práticos para que nossos cultos sejam ordeiros e lotados de crianças ao mesmo tempo! Partindo da minha própria experiência como mãe de quatro crianças com idades bem parecidas, e da experiência de queridas amigas que venho observando ao longo dos anos, me atrevo a dar alguns conselhos que talvez sejam úteis.
Ao ler este texto lembre-se que o que foi dito acima representa o que a Bíblia nos revela a respeito deste tema, sendo esta inerrante e autoritativa. Os conselhos que darei a seguir, entretanto, não têm o mesmo caráter. Talvez você não concorde com um ou outro ponto e talvez tenha idéias muito melhores que as minhas para manter seus filhos como parte integrante da adoração em sua igreja. O que vem a seguir são apenas conselhos, o que foi posto acima são ordenanças prescritas pelo próprio Deus!
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* Simone Quaresma é casada há 24 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (22 anos), Israel (20 anos), Davi (18 anos) e Júlia (16 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler… de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por meu marido; trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.
Muito edificante.Sinto muita vontade de me capacitar de me encher de bagagem para confrontar pensamentos como esses!!!Triste realidade de nossas igrejas em isolar nossas crianças só na intenção de “não atrapalharem o culto”.