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III. Treine os seus filhos com uma consciência constante de que muito depende de você.
A graça é a mais forte das doutrinas cristãs. Veja que revolução a graça efetua quando ela adentra o coração de um velho pecador, como ela destrói as fortalezas de Satanás – como ela derruba as montanhas e preenche os vales – endireita as veredas e os caminhos, e renova completamente o homem. Verdadeiramente, nada é impossível para a graça.
A nossa própria natureza pecaminosa, também, é muito forte. Veja como ela luta contra as coisas do reino de Deus, – como ela combate contra cada tentativa que fazemos de sermos mais santos; como ela mantém uma incessante batalha dentro de nós até o último instante das nossas vidas. A natureza é, de fato, muito forte.
Mas depois da natureza e da graça, sem dúvida, não há nada mais poderoso do que a educação. Hábitos criados na infância (se assim podemos chamá-los) nos constituem por inteiro, embora estejam também sujeitos à vontade de Deus. Nós nos tornamos o que somos pelo treinamento que recebemos. O nosso caráter toma a forma daquele molde no qual os nossos primeiros anos são moldados.
“Aquele que não enxerga em todo lugar o efeito da educação nas opiniões e hábitos de pensar humanos, tem uma visão muito limitada da vida. As crianças trazem do berçário aquilo que se manifestará durante toda a sua vida.” (Cecil) Nós dependemos, em vasta medida, daqueles que nos educam. Nós ‘pegamos’ deles uma cor, um gosto, uma inclinação que se impregna em nós, mais ou menos, por toda a nossa vida. Nós adquirimos a linguagem de nossas mães e babás, e aprendemos a falar esta mesma língua quase sem nos notarmos, e inquestionavelmente, nós adquirimos alguma coisa dos seus jeitos e dos seus modos de pensar e agir ao mesmo tempo. Apenas o tempo poderá mostrar, eu suspeito, o quanto nós todos devemos às impressões infantis, e quantas coisas em nós podem ser traçadas de volta às sementes semeadas nos dias da nossa infância por aqueles que nos cercavam. Um Inglês muito culto Mr. Locke, chegou até a dizer: “De todos os homens que nós encontramos, nove das dez partes que os constituem são o que eles são, bons ou maus, úteis ou não, de acordo com a educação que receberam.”
E tudo isso faz parte dos graciosos arranjos de Deus. Ele dá aos seus filhos uma mente que receberá impressões como o barro maleável. Ele dá a eles uma disposição, logo na linha de partida da vida, para acreditar naquilo que você diz, para assimilar aquilo a que você os aconselha, e para confiar na sua palavra muito mais do que na palavra de um estranho. Ele dá a você, em suma, uma oportunidade de ouro para fazer-lhes o bem. Atente para que essa oportunidade não seja negligenciada e desperdiçada. Uma vez que você deixar que ela escorregue, ela nunca mais voltará.
Cuidado com aquela ilusão miserável, na qual alguns têm caído, de que os pais não podem fazer nada pelos seus filhos, de que você deve deixá-los e apenas sentar de braços cruzados esperando pela graça de Deus sobre eles. Tais pessoas estão esperando para os seus filhos os desejos de Balaão, eles gostariam que eles morressem a morte do justo, mas eles não fazem nada para que eles possam viver a vida do justo. Eles desejam muito e não possuem nada. E o Diabo se regozija em ver tal raciocínio, assim como ele sempre se regozija em qualquer coisa que pareça desculpar o ócio, ou que encoraje a negligência dos meios de graça.
Eu sei que você não pode converter a sua criança. Eu bem sei que aqueles que são nascidos de novo, nasceram não pela vontade do homem, mas de Deus. Eu também sei que Deus nos diz expressamente: “treina a criança no caminho em que deve andar” e que Ele nunca impõe ao homem um mandamento que ele não dê juntamente a graça para que possa observar. Sei também que o nosso dever não é ficar parado e disputar com Deus, e sim seguir avante e obedecer. É apenas quando seguimos avante, que Deus se encontrará conosco. O caminho da obediência é o modo pelo qual ele concede a Sua bênção. Nós apenas temos de fazer como os servos foram ordenados na festa de casamento em Canaã: encher os potes com água, e então confiantemente deixar ao Senhor que transforme a água em vinho.
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* Esse artigo foi publicado em português originalmente no blog Maçãs de Ouro e re-publicado com autorização da tradutora. Trata-se da tradução de um capítulo do livro “Os Deveres do Pais”, publicado em português pela Editora Letras. Observação: Esse artigo não foi tirado do livro em português, é uma tradução independente.
** John Charles Ryle, comumente referido com J.C.Ryle foi um clérigo inglês, e o primeiro bispo da diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool. Ele foi espiritualmente despertado em 1838 enquanto ouvia a leitura de Efésios 2 na igreja e foi ordenado em Winchester em 1842. Ryle ficou muito conhecido por defender a doutrina evangélica da Igreja da Inglaterra contrária ao Anglo catolicismo, por meio de diversos tratados e livretos, chegando a ser reconhecido como um dos lideres da chamada “Baixa Igreja” da Inglaterra. Alem desses tratados, Ryle procurou sempre escrever material para que o povo pudesse compreender as doutrinas cristãs evangélicas, e escrever diversos livros práticos, como “Santidade” , e os “Comentários aos Evangelhos”.
*** Tradução: Anna Layse Anglada Davis