XY2-1016872 - © - Classic VisionPensei em diversas maneiras de começar esse texto sem ser clichê, mas concluí que o clichê não pode ser sempre desprezado! Isso mesmo, vocês irão “ouvir” novamente: “não existe nenhuma passagem bíblica que nos leve a concluir que o a prática do namoro como tem sido nos dias atuais é aceitável para os cristãos”. Pronto. Passado o impasse do clichê, quero desenvolver a ideia de um novo ponto de vista: o namoro do modo que tem sido praticado nos dias de hoje, não só não é bíblico, como pode levar ao pecado e resultar em problemas futuros. Além disso, podemos identificar outros sérios problemas como egoísmo, quebra do quinto mandamento e (pasmem!) idolatria. No meio cristão, o namoro não tem diferido em praticamente nada do namoro de não cristãos. Relacionamentos começam e terminam sem que essa decisão passe pelo filtro da vida cristã que deve ser vivida com o propósito único de exaltar a glória do Deus que quer que vivamos segundo seus preceitos. Não existem questionamentos a respeito do outro sobre como é a vida dele diante de Deus, como é o procedimento dele diante da família, da igreja, do trabalho (se é que ele trabalha, já que os namoros têm começado antes mesmo dos jovens terem sequer um emprego). A inconsequência tem sido uma marca dos inícios, que acontecem baseados em critérios superficiais e que não dizem nada a respeito de como o “candidato a namorado” é como servo do Deus que exige de nós santidade, pureza, sinceridade, amor ao próximo, fidelidade, verdade, amor pela sua lei e outra série de características que devem distinguir-nos do mundo. Os filmes e livros dos dias atuais têm feito um desserviço para o mundo atual. Desde os contos de fadas que ouvimos e lemos quando éramos crianças , quando a gata borralheira encontra o príncipe – que ela nunca tinha visto anteriormente, muito rico, lindo de doer, filhinho de papai e que só aparece na história nos momentos finais –, que irá olhá-la e, tchan nan!, apaixonar-se perdidamente e pedi-la em casamento, no qual os dois serão felizes para sempre! Isso sem mencionar a tendência moderna de legitimar relacionamentos absurdamente problemáticos como sendo padrão de amor, já que tudo é justificado por este: violência, possessividade, egoísmo, falta de respeito, dureza no falar, desrespeito aos pais, controle, contato íntimo, etc. Chegamos àquele momento em que você pode pensar que no seu namoro não existe nada disso. Vejamos:

  • Você e seu namorado se respeitam, não há nenhum tipo de violência física ou verbal (a não ser aqueles “pequenos desentendimentos” em que gritaram um com o outro por causa do “calor do momento”);
  • Não existe possessividade (você apenas “prefere” fazer absolutamente tudo o que o ele quer e da maneira que ele quer para evitar estresse desnecessário e, lógico, quer que ele faça o que você quer, afinal, deve ser recíproco);
  • Nunca teve problema com desrespeito aos seus pais por causa dele (sua mãe não tinha nenhum pouco de razão em todas aquelas vezes em que discutiram por causa do seu namoro ou algo relacionado a ele);
  • Quanto ao controle, não vê nada de mal nisso, já que estão juntos e devem saber e dizer tudo um para o outro, inclusive onde, com quem e por que foi em algum lugar e, além disso, por qual razão você não atendeu o celular no exato momento em que ele ligou e o que estava fazendo de tão importante (sim, porque o namorado deve ser a pessoa mais importante) que não pode atendê-lo;
  • Por fim, no seu namoro não existe contato íntimo. Você não faz nada demais, apenas abraça e beija seu namorado (de língua, inclusive), como todos os outros fazem (inclusive, a respiração e o ritmo cardíaco alterados nada têm a ver com os seus hormônios – que pedem mais -, são simplesmente sinal do amor que existe entre os dois), porque sua santidade não permitirá que você peque (sim, porque, enquanto você beija, pensa em como Deus não quer que você ultrapasse os limites).

Releiam o parágrafo anterior. Algum alarme soou? Se sim, esse é um momento excelente para reavaliar seu ponto de vista sobre o assunto. Se não, peço que leia o artigo até o final mesmo assim. Os cristãos estão caindo numa armadilha terrível: a de achar que sempre terão controle; Achar que conseguirão dizer não quando as coisas se tornarem mais intensas; Achar que são diferentes de todos os cristãos que ouvimos falar e até conhecemos que acabaram tendo que administrar uma gravidez indesejada (que tristeza dizer essas duas palavras na mesma frase!); Achar que sua espiritualidade é suficiente para converter o coração de um namorado incrédulo; Achar que sua santidade é suficiente para reprimir os desejos sexuais também do outro; Achar que um relacionamento pode se desenvolver de maneira saudável com falta de respeito mútuo, isolamento, controle e afastamento da família. Quanta ilusão!

O apóstolo Paulo disse o seguinte em Romanos 7.18-25: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer fazer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está em meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará o corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado”.

Essa confissão foi feita pelo homem que foi convertido ao Senhor de maneira assombrosa, ouvindo do próprio Jesus que ele era seu perseguidor! O mesmo que pregou dentro das sinagogas e que disse para que fôssemos seus imitadores como ele era de Cristo (1 Coríntios 11.1). O mesmo que foi preso, açoitado, perseguido por amor do nome daquele que está acima de todo nome, Cristo. Aquele que abriu mão de coisas legítimas, como o casamento, para pregar o evangelho da salvação. Aquele que, tendo direito a um salário para ser pregador da palavra, confeccionava tendas para manter seu sustento. Aquele que nos deixou lições sobre como devemos agir em relação a assuntos como casamento, relacionamento, desenvolvimento da santidade, culto, salvação, e mais uma série de outros assuntos que nos guiam ao longo da caminhada cristã. Paulo! O apóstolo Paulo! Você consegue compreender o que ele acaba de dizer nessa passagem? Que ele não faz o bem que ele quer, mas o mal que ele não quer! Que nossa carne, ou seja, nossa natureza pecaminosa, nos levará a pecar a não ser que lutemos contra ela todos os momentos de nossa vida. Além disso, ele diz que dentro dele havia uma guerra entre a vontade de obedecer às leis do Senhor e a vontade de agir segundo sua própria carne.

Resumindo, que o mal habita dentro de nós! Não posso dar ênfase suficiente sem repetir: o mal habita dentro de nós! Sabendo disso, não seria natural que escolhêssemos sempre aquilo que nos aproxima de Deus? Nossa vida cristã depende de nossas escolhas racionais para estarmos sempre mais próximos do Senhor e mais parecidos com nosso Salvador, Cristo Jesus.

Nossa mente precisa ser cativa da Palavra e nosso coração precisa temer e amar ao Senhor tão absolutamente que seja inconcebível para cada um de nós o se quer pensar em alguma atitude nossa que entristeça o Espírito do Senhor. Dessa forma, podemos falar clara e abertamente sobre algumas situações que nos colocam em risco quanto a seguir com essa determinação de agradar a Deus. Vamos pensar sobre algumas delas:

a) Jugo Desigual Em sua carta aos coríntios, Paulo disse que os crentes não deveriam se colocar em jugo desigual com os incrédulos porque não pode haver nenhum tipo de sociedade entre esses dois lados (2 Coríntios 6.14-16). Qual é a dúvida?! Onde está a passagem bíblica que “abre a exceção” para o namoro entre um crente no Senhor Jesus e um incrédulo? Simplesmente não existe! No entanto, continuamos a ver isso acontecendo na igreja e, acreditem ou não, enfraquecendo as famílias e consequentemente, tornando a igreja de Cristo debilitada. Certo pregador ilustrou a situação do jugo desigual de forma primorosa quando contou a história de uma moça que, iniciando um namoro com um incrédulo, foi ao seu gabinete para um aconselhamento. Ele, então, depois de ouvir todas as razões que ela tinha para seguir com o namoro, pediu para que ela subisse em sua mesa e ficasse de pé. Ela, mesmo sem entender muito bem, o fez. Em seguida, ele pediu para que ela o puxasse para cima. Ela tentou, mas, claro, não conseguiu sem se sentir desequilibrada e desistiu. Por fim, ele deu um puxão não muito forte e ela veio para baixo. Ele concluiu dizendo que o jugo desigual era como esse exercício. Não podemos, mesmo com muito esforço, puxar alguém para cima. Não depende de nós a conversão de quem quer que seja, mesmo daquelas pessoas a quem queremos muito bem. O namoro não é método de evangelismo! Podemos, então, deduzir que devemos escolher para estarem ao nosso lado pessoas que nos aproximam de Deus, ou seja, crentes comprometidos com o Senhor, sua obra e sua palavra, que estejam interessados em cumprir com o objetivo principal do homem: adorar a Deus e gozá-lo para sempre (Pergunta nº 1 do Breve Catecismo de Westminster).

Existem muitas coisas para se falar a respeito desse tema, mas não é meu foco, então, vamos em frente.

Continua…

_________________________ ligian

Ligian Oliveira é casada com Charles Oliveira, pastor da Sexta Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte, e mãe de três filhos: Pedro, Laura e Davi.