Esta é uma área da nossa vida privada que também é tocada pela ordem de não se colocar em jugo desigual: a família! Talvez seja a parte mais difícil de lidarmos, talvez tenhamos que reconsiderar e nos avaliar mais a fundo. Talvez estas implicações não estejam tão claras em nossas mentes. Entretanto, não podemos ignorar que dividir a vida e ter intimidade com ímpios da nossa família também se constitui jugo desigual. Num primeiro momento não falaremos de casamento. Este será o tema do próximo texto.
Enquanto você é solteira
Na condição de solteira, morando com sua família que não teme ao Senhor e ainda sob a autoridade de seus pais, não há muito o que fazer. Você precisa respeitá-los e obedecê-los. Mais do que isso: precisa reconhecer que são autoridades enviadas por Deus para guiar sua vida. Você deve ser uma filha tão dócil e obediente que, quando pedir a eles para não ir a algum compromisso familiar que você julgue prejudicial, eles o permitam. Cultive uma relação muito respeitosa com eles, a fim de que percebam o quanto você mudou depois de conhecer o Evangelho. Isso poderá fazer com que eles respeitem suas escolhas.
Numa situação como esta você precisará ainda mais do Corpo de Cristo, precisará ainda mais de sólidas amizades cristãs, que te ajudem a tomar decisões e ser mais santa a cada dia. O quanto você puder se reunir com suas irmãs, mais fortalecida para conviver com sua família incrédula você será.
E depois de casada?
Aí a história é outra! Depois que nos casamos, formamos uma nova unidade familiar completamente distinta da nossa família de origem. Agora, as leis da casa serão outras, os hábitos serão diferentes, seu líder será outro! Nesta nova situação, você e seu marido têm o direito e também o dever de proteger a família de vocês das influências de seus parentes ímpios. Talvez vocês sofram pressões de todos os lados e sejam mal vistos, mas se isso significar que estarão preservados, que assim seja!
Devemos começar entendendo o que Jesus ensinou largamente nos Evangelhos a respeito da família: que nossa verdadeira família é a família de Deus, e que esta tem precedência quanto à família de sangue.
“Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura. Então, ele e lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.” Marcos 3.32-35
Este texto nos ensina que, a partir do momento que passamos a fazer parte da família da fé, nossos relacionamentos humanos são profundamente alterados. Aqueles que se opõem ao Reino de Deus, mesmo sendo sangue do nosso sangue, passam a ser menos íntimos do que os que são da família da fé! É por isso que em tantos textos sagrados, Paulo chama suas ovelhas de filhos, por quem sente dores de parto! (Gálatas 4.19/ 1 Timóteo 1.2/ 2 Timóteo 2.1). Ele chega, inclusive, a dizer que quando fizermos o bem, devemos fazê-lo principalmente aos da família da fé (Gálatas 6.10).
Provérbios também ressalta a família da fé e a amizade entre o povo de Deus como prioridade sobre a família de nascimento: “ … há amigo mais chegado que um irmão.” (Provérbios 18.24). Fica claro, portanto, que o elo preponderante que nos une não são os laços sanguíneos, mas a fé!
Algumas vezes também podemos nos sentir pressionadas a pecar por causa da nossa família de origem. Quando eles não são cristãos, ou são cristãos nominais, não entendem muitas de nossas atitudes e nossa forma de viver. Quando quiserem se opor a nós, e sugerir uma forma de vida pecaminosa, também devemos nos afastar. Se eles são ímpios, se cogitam das coisas do mundo e não das de Deus, precisaremos manter uma distância segura. Não estou falando de abandoná-los, mas de não ser mais tão assíduos, evitar o convívio prolongado, evitar se colocar e colocar sua família em situações constrangedoras ou de flagrante pecado. Vejamos algumas situações:
Situação nº1: As festas de sua família são regadas a muita bebida e a conversas impuras. Os palavrões são usados sem pudor, as músicas e as danças exaltam a sensualidade e a carnalidade. O que você, seu marido e seus filhos estão fazendo lá? Por que se sentem obrigados a compartilhar com eles de todo o seu desprezo pela lei de Deus? Não dá para não ir? Dê uma passadinha de três minutos, um beijinho em cada um e tchau!!! Não permita que seus parentes fomentem o pecado em sua casa. Isto é se colocar em jugo desigual! É luz misturada com trevas!
Situação nº2: Seus parentes não são crentes. Não amam a Deus e não se importam com o Dia do Senhor. O dia escolhido para os 80 anos da bisa é justamente o domingo. Você pode pensar: “puxa, mas logo no domingo… tenho ensinado às crianças sobre honrar o Dia do Senhor, e agora surge este “compromisso”. Mas se eu deixar de ir… simplesmente não posso faltar, é aniversário da bisa, ela ficaria tão triste de não ver os meninos lá…” Neste exato momento, você demonstra que seus parentes têm mais importância para você que a lei de Deus. Você teme desagradá-los, mas não teme desagradar a Deus. Você, então, tem andado debaixo da mesma canga, do mesmo jugo que eles! Tem demonstrado, na prática, que a influência deles sobre você é muito maior do que deveria ser.
Situação nº3: Seus parentes resolvem alugar uma casa na praia para passar um feriado. Delícia! Ótima oportunidade para matar as saudades! No meio deles está seu irmão caçula que resolve levar a namorada. Eles não são casados, mas dividem o mesmo quarto. Você sabe o que a Bíblia diz sobre isso, ama e respeita a lei de Deus e se colocará debaixo do mesmo teto que eles, como se estivesse tudo certo? Dará bom dia e se assentará na mesa do café da manhã quando eles acabarem de sair do quarto onde cometeram fornicação, afrontando claramente o sétimo mandamento? Talvez você argumente: “Mas meu irmão sabe que não concordo com isso!” Sim, você não concorda, mas convive no mesmo ambiente como se nada estivesse errado. Neste momento, você se faz cúmplice das obras das trevas!
Muitas vezes nossos parentes se opõem tão claramente à nossa forma de vida, que a única opção é nos afastarmos e convivermos o mínimo possível! Quantos pais não concordam que a filha casada pare de trabalhar para cuidar da família! Quantos não aceitam que ela viva uma vida mais simples por causa disso! Quantos pais atormentam seus filhos casados que resolvem ter muitos filhos, como se isso fosse um pecado! Quantos pais estão sempre com um conceito mundano, uma palavra impura ou uma opinião antibíblica na ponta da língua? Fazer parte desta realidade de vez em quando é uma coisa, compartilhar a vida com estes parentes é outra, e se chama jugo desigual!
Sei que não estou falando de algo simples! Sei quanta dor estes afastamentos podem causar! Mas quem disse que seria fácil? Jesus mesmo advertiu seus discípulos a que avaliassem bem qual era o custo de segui-lo antes de resolverem fazê-lo! Por que você acha que Jesus disse que veio trazer espada? Porque Ele já sabia que nossa postura santa diante das circunstâncias traria escândalo para aqueles que não o seguem: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.” (Mateus 10.34-36) Não é claro? Esta divisão que Cristo disse que veio trazer é exatamente o que dissemos acima! Famílias que não aceitam o modo de vida pautado na Palavra de Deus que nós levamos. Isto traz divisão! Por causa da nossa postura, ganharemos inimigos dentro da nossa própria família. Convivermos bem com estas “diferenças”, faz de nós cúmplices. Nos coloca em jugo desigual! Nossa lealdade deve ser para com Deus em primeiro lugar, não com nossos parentes ou com quem quer que seja. Precisamos seguir a Cristo incondicionalmente, não com restrições, como foi com o jovem rico. Se nossos parentes têm sido estorvo ou pedra de tropeço, tomemos medidas que minimizem o impacto de sua convivência conosco. Conviva menos, aceite menos convites, renuncie à companhia de parentes que se mostram conflitantes ou opostos ao Evangelho, sejam eles “crentes” ou ímpios!
Quando nos colocamos em situações que se configuram jugo desigual com nossos parentes, estamos demonstrando que amamos mais a eles do que ao Senhor. Quando partilhamos de situações pecaminosas, constrangedoras e infames por amor a eles, na verdade, estamos mostrando que não amamos ao Senhor. Foi isso que Jesus disse em Mateus 10.37: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim;”. Amar mais aos nossos pais do que ao Senhor é conviver pacificamente com sua vida idólatra e pecaminosa!
Para quem atende a ordem do Senhor de não se colocar em jugo desigual no que tange aos parentes, a promessa é rica e eterna: “Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna.” Que promessa maravilhosa! O Senhor promete suprir o que necessitamos quando somos perseguidos e sofremos por escolher obedecê-lo! Não é fácil o chamado de nos mantermos afastados do mundo e dos ímpios com seus conselhos, mas com certeza, é um chamado glorioso. Se você teve que deixar de ouvir os conselhos de sua mãe, agora que é uma cristã, tenha certeza, no corpo de Cristo você encontrará muitas mães que te ajudarão a caminhar para perto de Cristo, e não para longe!
No próximo texto trataremos de jugo desigual no casamento. Este talvez seja o ponto mais sensível deste assunto! Com certeza porque é o tipo relação que, quando estamos em jugo desigual, trará maior prejuízo a nós, a nossos filhos e consequentemente à igreja e ao Reino de Deus.
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* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.