Talvez eu não esteja lendo o suficiente, mas parece haver uma forte ênfase na comunidade reformada em ensinar habilidades domésticas às nossas filhas. Muitos autores e blogueiros acentuam que, acompanhadas de um espírito manso e gentil, precisamos transformar nossas filhas em fantásticas donas de casa. Bom, isso é ótimo. Esta geração de jovens rapazes pode ter a oportunidade de ter ao seu lado esposas que são legítimas Martha Stewarts. Isso é uma benção para esses maridos.
Mas para as mães, a pressão de ensinar nossas filhas sobre como fazer o orçamento à moda de Dave Ramsey, limpar como uma dona de casa holandesa e cozinhar como Julia Child, parece estar aumentando à medida que a igreja recupera um alto conceito do lar e da maternidade. “Estágios” sobre cuidados domésticos com mulheres mais velhas, livros sobre finanças e aulas de crochê são fortemente encorajadas; mães que têm filhas “atrasadas” nessas áreas carregam um fardo extra de culpa maternal. Talvez, isso seja especialmente verdadeiro entre aquelas que praticam a educação escolar domiciliar.
Bem, os orçamentos são importantes. A limpeza é um sinal de piedade. Cozinhar é uma habilidade vital. E fazer crochê é a cereja do bolo das atividades domésticas. Equipar a próxima geração de esposas e mães com essas habilidades não é contraproducente. É parte do papel das mulheres mais velhas ensinar as mais novas a serem mantenedoras do lar. Contudo, talvez a culpa maternal que temos por não produzirmos divas domésticas venha de uma ênfase equivocada sobre o que devemos ensinar à próxima geração de esposas e mães.
Minha mãe é uma excelente cozinheira, limpa a sua casa e sabe como fazer um real render bastante. Mas essas não são coisas que ela me ensinou de fato. Ao invés de aprender o “sistema de envelopes” para orçamento (ou qualquer outro método), eu assisti anos de dízimos, abnegação e generosidade. Eu nunca consertei os canos abaixo da pia em casa, mas eu sabia que era possível consertar qualquer coisa pequena na casa, porque minha mãe fazia isso o tempo todo, frequentemente enquanto explicava gerúndios ou me ajudava a memorizar um soneto. Não lembro de cozinhar uma refeição até que casei, mas eu aprendi como ensinar crianças a gostar de novos alimentos, servir uma refeição formal e ser hospitaleira vendo o exemplo de minha mãe. Aprender a fazer croissants levou meia hora com o Youtube; desenvolver uma cosmovisão cristã levou anos de leitura, escrita e conversas com a minha mãe, enquanto ela preparava refeições e limpava banheiros.
Nunca senti como se estivesse sendo preparada para ser uma dona de casa. Nunca me senti se estivessem me outorgando trabalho demais. Sempre soube que minha mãe estava me preparando para a vida como uma mulher cristã adulta, e me senti liberta pelo seu ensino de servir sempre que me fosse possível (o que provavelmente incluiria cuidar do lar!). Ela fez isso, não ao me fazer limpar o seu banheiro, mas ao me dar as habilidades e as experiências que levam anos para serem aprendidas: vendo o que acontece quando damos a outra face; provendo uma boa noção da história e do pensamento ocidental; como se alegrar com aqueles que se alegram; o que é a boa escrita; como trabalhar duro com apenas 3h de sono; o que é se sacrificar por um casamento; e muito mais. Essas não são habilidades que você pode procurar no Google. Essas habilidades vêm devagar, através de anos de orações feitas por mães. Claro, todas essas são lições de uma vida toda; uma filha não para de aprendê-las quando sai de casa. Espera-se que todo cristão esteja crescendo nelas. Mas uma mãe que ensina a sua filha essas coisas, desenvolve a maturidade intelectual, social e espiritual que uma filha precisa para viver não como insensata mas, sim, como sábia, aproveitando cada oportunidade, pois os dias são maus (Ef 5:16).
Temos mães jovens em nossas igrejas que se sentem estressadas, pois não dominaram a culinária, a costura, ________, e sentem como se estivessem falhando com suas filhas, pois não podem ensinar essas habilidades a elas. Talvez, o melhor que uma mãe possa ensinar à sua filha seja a grandiosidade e a beleza de Cristo, a abnegação e a ter um coração ensinável. Nenhuma dessas habilidades está diretamente relacionada ao trabalho doméstico. Mas todas elas fazem e formam a mulher que limpa um vaso sanitário com gratidão.
Claro, ser uma ótima dona de casa não exclui essas outras lições (ou vice-versa). Não é maravilhoso? Podemos ensinar nossas filhas a tricotar e a escrever bem. Mas, francamente, estou pressionada pelo tempo e tenho energia limitada. Além disso, eu não sei tricotar. Não vou investir meu tempo e esforço em habilidades que meus filhos podem aprender no Youtube. Eu os encorajo a adquirir as habilidades que fazem a vida confortável e bonita, mas não vou enfatizá-las. Ao invés disso, quero ensiná-las para que entendam o tempo em que vivem, como viver esse tempo como cristãos e honrar o Deus que deu à eles as habilidades e oportunidades que Ele têm proporcionado. Uma filha precisa de uma mãe temente à Deus para ensinar essas coisas, pois nossa cultura certamente não irá.
O SENHOR não requer que Suas filhas assem pão trançado e façam arranjos de flores. Para as mulheres que querem, fazer essas coisas são dádivas. E, enquanto devemos ter mãos habilidosas e braços fortes (Pv 31), o que Deus requer de fato é que pratiquemos a justiça, amemos a misericórdia e andemos humildemente com Ele (Mq 6:8). Esse é um ensino que pode, pela graça, gerar frutos eternos na vida de uma filha. Uma mulher que tenha as habilidades domésticas não é de muito proveito no Reino a não ser que ela também pense biblicamente, saiba discernir com sabedoria, entenda os tempos e possa servir sua família e sua igreja com essas dádivas vitais da melhor forma que puder. Então, de toda maneira, vamos ensinar nossas filhas a fazerem suas próprias roupas. Mas vamos colocar isso em perspectiva, colocando as primeiras coisas em primeiro lugar e não suar de nervoso caso elas não consigam costurar o seu próprio vestido de noiva.
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Este post é uma tradução de um artigo de Rebecca VanDoodewaard publicado originalmente no Blog “The Christian Pundit” traduzido e re-publicado com permissão da autora.
*Rebecca VanDoodewaard é dona de casa, editora free-lancer e escritora. Ela é esposa do Dr. William VanDoodewaard, ministro da Associate Reformed Presbyterian Church e professor de História da Igreja no Puritan Reformed Theological Seminary, com quem tem 3 filhos. O casal bloga no “The Christian Pundit”
** Tradução: Vivian Junqueira Viviani