272133_Papel-de-Parede-Enrolados--272133_1280x800Da mesma forma que fizemos na resenha de Frozen, desejamos apontar alguns aspectos de Enrolados que devem ser considerados.

Enrolados é um desenho que, em princípio, trata da libertação de uma princesa e de uma história de amor, cheio de momentos emocionantes que mascaram ensinamentos perniciosos! Gostaria de traçar um pequeno e despretensioso perfil dos personagens, para que você analise comigo:

O “príncipe encantado” da história

Um cara descolado, engraçado e bonitão. Ao mesmo tempo, um mulherengo que faz várias menções durante o desenho de que é um conquistador. Ele é um espertalhão “ladrão que rouba ladrão”, que está sendo procurado pela guarda real por ter roubado a coroa da princesa desaparecida. Logo depois da cena do roubo, ele segue feliz, alardeando que “hoje o dia será ótimo!”. Seu perfil engraçado e bonitão faz os pequenos expectadores gostarem e torcerem por ele de cara, ignorando seu caráter duvidoso e sua vida de crimes. O ensino por trás é claro: as coisas não são preto no branco, não há certo e errado. Tudo depende do quão engraçado e descolado você seja! Na cena em que ele vê o cartaz com sua cara de procurado, oferecendo recompensa por sua captura, ele leva um susto ao ver o cartaz: “eles nunca acertam o meu nariz”! Um narcisista ladrão que está acostumado a aparecer com o rosto estampado em cartazes de PROCURA-SE é o herói do filme! Na parte onde cada um conta quais são os seus sonhos, José, o ladrão boa praça e conquistador, descreve o seu: “morenão, solteirão, com uma pilha de dinheiro” e o mesmo herói declara que “uma reputação falsa é tudo na vida”. Duvido que este seja o perfil de homem que você deseja encontrar para se casar com sua filha um dia. Duvido que este seja o tipo de homem que você deseja que seu filho se torne!

A falsa mãe e sua relação com a filha

Um recurso sempre muito usado em filmes e novelas é o de levar as relações a extremos horrorosos, para justificar as atitudes libertárias dos oprimidos. Numa novela, por exemplo, aquela doce jovem é casada com um péssimo marido, que é grosseiro e não a trata com carinho. A relação é posta numa perspectiva tal, que quando você menos percebe, está torcendo para que a paixão platônica que ela tem por seu vizinho gentil se concretize e ela largue aquele “traste” de marido.

Neste desenho acontece algo parecido. Sim, eu sei que aquela não é a mãe verdadeira da mocinha, embora a tenha criado e seja, de fato, a única mãe que conheceu. Não ignoro o contexto do sequestro, não quero minimizar o que ela fez. O que quero frisar é que, na cabeça da criança pequena, estes detalhes não são tão relevantes quanto a mensagem da relação das duas.

O que ficará na memória da criança, são as palavras da música cantada no começo, misturadas à sensação ruim de ver estas palavras saindo da boca de alguém em quem não se pode confiar: “Sua mãe sabe mais, você não vai saber se virar por conta própria, eu só digo porque te amo, não se esqueça e obedeça, sua mãe sabe mais.” Todas estas frases poderiam estar nos lábios de uma amorosa e preocupada mãe. Mas ao serem ditas pela vilã do desenho passam um misto de sentimentos para a criança que ela não sabe distinguir. A figura materna é associada a uma mulher má, falsa e que manipula o amor e a confiança da filha. Elas cultivam um relacionamento pautado no interesse pessoal. Que prejuízo para o relacionamento mãe e filha… que prejuízo ficar ouvindo aquela bruxa dizer: “minha menina preciosa”, lançando dúvidas e medos no coração de nossas crianças quanto ao real interesse de suas mães por seu bem estar!

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A doce Rapunzel

Rapunzel demonstra que aprendeu com a mãe a disfarçar o que realmente pensa para conseguir o que deseja. Na frente da mãe, ela finge aceitar sua ordem malvada de não sair da torre. Por trás, faz o contrário. Ela começa a agir com a mesma desfaçatez que aprendeu com a falsa mãe. Na cena em que ela acerta José (o príncipe encantado que usa nome falso!) com uma frigideira, ela dá um sorrisinho de canto de boca e com voz de deboche diz a si mesma: “Eu sou muito frágil para cuidar de mim mesma, né mamãe?”

Após sua fuga, ela se divide entre o sentimento de culpa pela desobediência e a alegria de fazer o que sempre desejou. Não quero e não vou entrar no mérito da questão, se a ordem era plausível ou não. Esse não é o ponto. Minha preocupação é de nossas crianças fazerem uma leitura unilateral desta verdade: “não concordo com o que meus pais estabeleceram como limite para mim (estando certos ou errados) e tenho o direito de agir como eu acho certo”. Sua reação de dúvida quanto ao que deveria sentir, desencadeia uma sucessão de frases desastrosas e permeadas de iniqüidades, que podem ser minimizadas por estarem na boca do par romântico do desenho. Acompanhe comigo: “Mamãe ficaria furiosa, mas o que os olhos não vêm o coração não sente” e aí entra a sessão de “brilhantes” conselhos dados a ela por aquele vil ladrão por quem ela está para se apaixonar: “Crescer tem essa etapa. Um pouco de rebeldia, um pouco de aventura, isso é bom e é até saudável” “Vai magoá-la e arrasar o coração dela? Mas isso você não pode evitar”, “você está pensando demais” e por fim ele debocha do relacionamento mãe e filha baseado em confiança mútua.

Quando o tema vira “seu sonho está acima de tudo”, não é levado em conta o fato de Rapunzel estar usando meios ilícitos, ilegais e imorais para realizá-lo. Note bem, ela passa a defender, a esconder e a fugir com um ladrão procurado por roubo! Lindo, não?!!!! Desde que não seja a minha filha…, você pode estar pensando. A Bíblia dá um nome para isso: chamar o que é mau de bom!

No relacionamento do casal também podemos observar uma série de distorções. Cada um dos dois quer esconder sua história do outro. E quando eles descobrem que se amam, a mágica acontece. O amor muda tudo… transforma aquele patife em um homem de boas intenções (embora ele minta para ela em seguida…). Segundo a sua narrativa, antes de conhecê-la ele vivia a vida em vão, não vendo as coisas como realmente eram. O amor dela o transforma: “tudo é novo, pois agora eu vejo a luz: é você a luz”. Ele não precisa de redenção, não precisa de arrependimento, o amor o salva de quem ele era! “Não minha filha…um canalha por quem você se apaixone não será um canalha a vida toda. Se vocês se amarem de verdade, ele vai mudar por você…” Você se imagina dizendo isso a sua jovem filha, que se encantou por um mau elemento? Claro que não! Mas permite que a mente dela seja inundada por esta mentira deslavada sem se colocar contra?

Será que temos permitido que todo e qualquer conceito tortuoso entre em nossa casa, só por estar travestido de desenho infantil e vindo da boca de lindas princesas? Mães, fiquem atentas! Seus filhos estão em formação, seu caráter está sendo burilado e esculpido dia a dia! E não se engane: não se ensina o certo reforçando o errado! Não se mostra o que não presta para ensinar o que presta. O que não está de acordo com o padrão de Deus eles já nascem sabendo. Nossa luta é justamente para reforçar a lei de Deus e retirar deles as mentiras nas quais eles já nascem acreditando. É nisto que devemos nos empenhar! “O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas que fez.” Salmos 78.3 e 4

2015-03-27

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.