Fonte de Imagem: I am a Child

Nossa primeira neta está a caminho. Elisa nem nasceu e já tem feito a vovó pensar sobre várias questões. Diversos dilemas surgem quando nasce um bebê. Muitas mulheres conversam comigo sobre como têm sido pressionadas, cobradas e desautorizadas por mães e sogras que, na verdade, desejam apenas ajudar, mas acabam gerando situações de conflito. Não seria muito mais fácil se toda a família agisse em equipe, cada qual cumprindo suas funções, não ultrapassando a linha imaginária que delimita cada núcleo familiar? Todos atuando, de acordo com seus papéis, para o bem e a unidade de cada uma das famílias envolvidas? Para tanto, precisamos nos lembrar de princípios bíblicos importantes. Neste texto tentaremos levantar os problemas causados pelo “excesso de ajuda e de preocupação” das vovós, e como podemos, à luz da Bíblia e de suas exigências, ser bênção para a família de nossos filhos e para nossos netos e netas. Devemos começar nos perguntado: Como podemos ajudar? Como não atrapalhar? O que Deus espera de nós? Qual o limite de nossas ações?

Tenho sempre dito a pais de filhos casados que, após estes constituírem suas novas famílias, eles devem ter muito cuidado para não se intrometer. Falei um pouco sobre este tema no artigo “A sogra que eu quero ser”.

A partir do momento que seus filhos formam suas próprias famílias, eles são outra unidade familiar que é totalmente independente de você. A ajuda e os conselhos que você deve dar a eles são os mesmos que você daria a qualquer outro casal de sua igreja: repreenda-os com respeito se estiverem pecando e faça parte de suas vidas conforme as portas de suas casas forem abertas a você! Entendam que eles não são uma extensão da sua casa. São outra casa. São outra família. Merecem respeito e privacidade. Precisam construir seus hábitos rotinas e valores, que necessariamente não serão iguais aos que você e seu marido cultivam em sua casa. Pais que entendem esta necessidade das famílias recém formadas de seus filhos, terão grandes chances de tê-los como amigos próximos e terão a chance de ajudar através da sabedoria adquirida com os anos e de seus conselhos, quando forem pedidos!

Se a situação é complicada quando o casalzinho está engatinhando na vida a dois e têm pais que não entendem seu papel, imagine o quanto a chegada de netos pode piorar e, às vezes azedar de vez, a relação!

Dizem que neto é filho com açúcar, é a sobremesa da vida. Definições meio cafonas, mas que têm feito muito sentido para mim ultimamente! Eles chegam naquela fase da vida onde não precisamos mais lutar tão ferozmente pela sobrevivência, onde as angústias e medos quanto à criação dos nossos próprios filhos já foram superados… Os netos nos pegam em cheio, naquele período em que achamos que já realizamos quase tudo e de repente: Surpresa!!! Uma nova e deliciosa novidade que vira nossa vida de cabeça para baixo!

Embora a notícia da chegada de um neto possa provocar milhares de emoções diferentes, ela também pode gerar dúvidas e medos: “eles são tão novinhos, será que darão conta de tamanha responsabilidade?” “Será que conseguirão sustentar todas as necessidades a contento?” “Eu já passei por isso… com certeza tenho muito a contribuir, preciso dizer tudo que penso, contar todas as minhas experiências, alertá-los de tudo que não deu certo, traçar uma rota segura para eles conduzirem meu neto!” Pronto!!! Está declarada a terceira guerra mundial!

Pense no que você sentia quando se metiam na criação dos seus filhos

Que antídoto maravilhoso esse… Ah, se todas as mães olhassem para trás e se colocassem no lugar de suas jovens filhas e noras… Tantos atritos seriam evitados! Quando você se casou com seu esposo também era jovem e, embora não pensasse assim na época, era totalmente inexperiente e inábil nos assuntos de relacionamentos, cuidados com a casa e maternidade. Olhando para trás, depois de 20 ou 30 anos, você é capaz de reconhecer esta verdade. Mas o que você sentia quando alguma senhora mais velha lhe dizia que você era muito menina, que não daria conta do recado? O que você sentia quando sua sogra intervinha em seus planos, querendo dar uma solução mais prática do que a sua? Lembre-se quantas vezes outras pessoas tentaram dar palpites sobre a criação de seus filhos. Duvido que você tenha ficado feliz com cada intervenção como esta. Pois esta regra de ouro deve ser observada: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles.” Mateus 7:12

Em coisas sérias e em coisas pequenas

Tanto faz se suas intromissões são feitas em assuntos graves ou em bobagens. Se for uma intromissão, será mal recebida! Podem haver dezenas de discordâncias entre o que duas mães pensam a respeito dos mesmos assuntos:

– Dar ou não chupetas?

– Deixar ou não o bebê dormir no quarto dos pais?

– Agasalhar demais? “Mas esse bebê está com frio, você não está vendo?”

– Quando começar a dar suquinhos e papinhas?

– A amamentação deve ser exclusiva ou devo dar água?

Estas são apenas as primeiras demandas que podem causar desconforto entre a vovó e a mamãe do bebê. Mas eles podem aumentar terrivelmente quando os assuntos são mais sérios:

– Homeopatia ou alopatia?

– Dar ou não dar remédios?

– Colocar na escolinha ou fazer homeschooling?

– Com que idade a menina deveria usar maquiagem ou começar a namorar?

– Quais os tipos de alimentos que ela deve comer e quais os pais proíbem?

– Quais os desenhos infantis que os pais não querem que eles assistam?

– Têm ou não acesso à internet? Quanto tempo por dia?

– Deixar ou não a criança dormir na casa do coleguinha?

– Deixar ou não a criança dormir na casa da VOVÓ!!!!!!!!!??????

São tantas e tantas questões que os pais precisam escolher para os filhos, que levaríamos um dia inteiro descrevendo-as e se os avós resolverem fazer de cada um destes pontos uma batalha pessoal, a paz da nova família estará sendo ameaçada e a amizade entre eles não dará os frutos desejados. Os avós podem ser irremediavelmente afastados da convivência próxima dos netos, e ninguém quer isso! A solução? Deixe os pais da criança fazerem as coisas do jeito deles! Jeito certo ou errado, pior ou melhor, mais ou menos eficaz. Eles são os responsáveis pelos filhos tanto diante da lei dos homens quanto diante da lei de Deus. São os pais que respondem pelos filhos, não os avós!

Uma breve lista do que não fazer de jeito nenhum!

– Se você tem uma amizade firme com sua filha ou nora e ela aceita bem suas sugestões, faça-o com respeito. Nunca de forma autoritária e prepotente, como quem tem sempre razão..

– Se ela não te dá esta liberdade, só opine quando for perguntada. Nunca se intrometa em assuntos de outra família, de outra casa que não a sua.

– Muito cuidado quando for fazer isso com seu filho ou genro. Ele é o chefe da casa, o líder daquela família e pode se sentir invadido na dignidade de suas atribuições.

– Nunca faça algo com seus netos que você SABE que os pais não aprovam. Esta atitude, além de gerar conflito entre os pais e os avós, acarreta dúvidas no coração da criança sobre a autoridade dos pais.

– Se por algum motivo você e seus netos fizerem algo que os pais deles não permitem, JAMAIS peça segredo a eles!

Filhos não podem ser ensinados pelos próprios avós a, além de desobedecer aos pais, esconder a verdade deles! Se acontecer algo parecido, seja você mesma a contar o que aconteceu e a pedir perdão por isso, afinal, você terá passado por cima da autoridade dos pais.

– NUNCA, NUNCA, NUNCA discorde dos pais na frente das crianças! Não plante desconfiança pelo pastoreio dos pais no coração de seus netos. Isto pode custar caro!

– NUNCA, NUNCA, NUNCA discorde dos pais pelas costas deles, falando mal dos pais (mesmo que de forma disfarçada) para seus netos.

– Isso inclui coisas que você talvez ache “bobagem”, como passar um batom. Você pode pensar: “nada a ver! Por que a menina não pode passar um batonzinho, só de brincadeira dentro de casa?” O que nós, como avós, pensamos não vem ao caso. Podemos estar até certas. Nossas filhas e noras podem mesmo estar exagerando. Mas este problema não é nosso! São os filhos dela. Ela é quem tem que saber se é exagero ou não!

– Isso inclui também a alimentação. Respeite as proibições e restrições alimentares de seus netos. Você pode retrucar: “Mas eu dei refrigerantes e bolachas recheadas à minha filha e ela está vivinha, por que não deixar meu netinho comer essas gostosuras também?” Por que seu neto não é seu filho!!!!! Seu neto é filho dela e quem determina a dieta alimentar dele é a mãe e não a avó!

– Esta verdade vale para a situação inversa: Você deu à sua filha uma alimentação rica e saudável. Ela só dá miojo aos filhos. Este continua não sendo um problema seu!

Se cada particularidade destas for abordada em detalhes e se você quiser dar palpites sobre todas elas, pode ter certeza que a família terá problemas.

“Mas eu sofro por meus netos!”

Eu posso perfeitamente entender esta situação. Por vezes vamos ver nossos filhos sendo injustos com nossos netos, ou vamos vê-los tomando decisões que não são mesmo as mais acertadas. Sei que isso causa dor no coração das vovós. Mas o que fazer nestas circunstâncias? Deixar o coração falar e tomar as rédeas da situação? Ficar como a mulher descrita em Provérbios, como uma goteira, insistentemente falando do que não concorda? Criar dissabores e tensão no seio familiar, gerando afastamentos dolorosos? Minha sogra e minha mãe nunca se meteram de forma arbitrária na criação dos meus filhos, mas pode ter certeza de que se isso tivesse acontecido, meu marido e eu reagiríamos a isso nos afastando. E como elas perderiam, como as crianças perderiam e como nós perderíamos…

Sonde seu coração amoroso e mole de vovó e veja se seu excesso de preocupação não passa de zelo desmedido. Talvez seja também a nossa vontade de governar e administrar tudo que está ao redor. Dificilmente vejo uma avó sofrendo pelos netos com motivos realmente sérios e palpáveis. A não ser que algo realmente grave esteja acontecendo, não há necessidade de intervenção e daqueles puxões de orelha que os avós costumam dar nos pais de seus netos! E se algo mais sério está acontecendo e necessita de interferência, lembre-se que você deve fazê-lo como faria a qualquer outro casal de sua igreja: cheia de pontas de dedos, com o maior cuidado do mundo e certa de que não está se metendo em assunto alheio. Certa de que o assunto em questão é um assunto em que seus filhos estão PECANDO contra seus netos. Neste caso, sendo seus filhos ou qualquer outro casal da igreja, vale a ordenança da Palavra de Deus contida em Mateus 18:15:

“Se teu irmão pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só.”

Continua…

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.