Fonte da imagem: Pinterest

Introduzindo o Aborto do Quarto Trimestre


Como um grupo de pessoas mata outro e consegue dormir à noite? Resposta: eles não matam humanos. Soldados alemães não massacraram humanos, brancos sulistas dos Estados Unidos não lincharam humanos e a Planned Parenthood também não está matando humanos.
O sentimento infeccioso, ascendendo do abismo do inferno e escurecendo os períodos mais sombrios da história humana, é uma ideia, a ideia de que existe uma hierarquia entre humanos e sub-humanos. Homens que matam a sangue frio perdem o sono à noite, mas homens que matam monstros, não. Na Alemanha nazista, eles chamavam essas criaturas sub-humanas de Untermenschen. A propaganda alemã Der Untermensch (apesar de ter sido posteriormente editada pelo braço direito de Hitler, Heinrich Himmler) manifestou o sussurro da serpente desta forma:
“O sub-humano é uma criatura biológica, produzida pela natureza, que possui mãos, pernas, olhos, boca e até mesmo algo semelhante a um cérebro. Ainda assim, essa criatura terrível é apenas parcialmente humana. Apesar de possuir características parecidas com as de um humano, o sub-humano é inferior numa escala espiritual e psicológica quando comparado a qualquer animal… Nem todos que parecem humanos realmente são. Ai daquele que se esquece disso!”.
Apesar de parecerem humanos, não são. Podem parecer que foram feitos à imagem de Deus, podem parecer um verdadeiro homem, mulher ou criança — mas não são. Sua cor, deficiência ou falta de desenvolvimento denuncia o fato de que essa terrível criatura é apenas parcialmente humana. E, como a história ensina repetidamente, quando “eles” não são completamente humanos — quando sua dignidade inevitavelmente entra em conflito com nossos interesses – “eles” não se tornam humanos de modo algum. Nosso mau, depois de desafiar arrogantemente a lei de Deus (não matarás, não darás falso testemunho, não furtarás), passa a desafiar a matemática, arredondando três quintos para zero.

Abortos de Quarto Trimestre


No cenário norte-americano, nós passamos do desprezo por criaturas sub- humanas de pele escura que trouxemos a nossas plantações de algodão1 ao desprezo por criaturas escondidas no escuro, colocadas por Deus no útero. Elas parecem humanas, mas geralmente é o desejo dos pais que determina se essa criança é realmente humana ou não. Desde Roe v. Wade, a serpente, conspirando com nossa Suprema Corte e nosso governo representativo, engoliu milhões e milhões e milhões de meninos e meninas por inteiro. A maior cidade dos Estados Unidos, a que aborta mais crianças negras do que mantém, foi pioneira com sua recente revogação da proteção estatal para sobreviventes de abortos. A descendência de Adão e Eva mordeu a (Grande) Maçã2, trazendo morte para suas crianças.
Agora, vamos aos acontecimentos mais recentes. Não basta chamarmos essas criaturas não vistas, não ouvidas e intocáveis no útero de sub-humanas agora tomamos tamanha coragem para incluir nessa categoria a criança que nos encara diretamente fora do útero. O senador Ben Sasse recentemente chamou o Senado para votar no Ato de Proteção aos Sobreviventes Nascidos Vivos de Abortos, o qual buscava proteger infantes que nasciam após um aborto malsucedido.
O senador Patty Murray (Democrata de Washington) disse que o projeto de lei era “contra o médico, contra a mulher e contra a família”. O presidente dos Ginecologistas Americanos disse que o projeto era “uma total interferência na prática da medicina, colocando políticos entre a mulher e seus médicos designados”. O senador Sasse trouxe sanidade ao momento ao dizer: “Vou convidar todos os cem senadores para virem até a tribuna e se posicionarem contra o infanticídio. Isso não deveria ser complicado”. E na tribuna ele disse: “Isso não é sobre um amontoado de células. Isso se trata de um aborto de quarto trimestre”.

O Bebê na Tribuna do Senado


O projeto de lei dizia, da forma mais seca que consegui expressar, que um bebê sobrevivente de um aborto deveria ser protegido com os mesmos direitos que uma criança nascida de outra forma (isto é, de pais que queriam que ela ou ele vivesse para começo de conversa). Em outras palavras, se o assassinato fosse malsucedido, o projeto prevenia que a tentativa de assassinato — após verem o bebê lamentavelmente passar vivo pelo canal vaginal — fosse concluída. Se o abortista não conseguisse realizar seu feito contra a criança indefesa, o médico não teria uma segunda chance. O projeto buscava estabelecer um “jogo limpo” fora do Coliseu Norte-Americano.
Um projeto de lei similar, o Ato de Proteção aos Infantes Nascidos Vivos, passou de forma unânime (com total apoio de ambos os partidos) em 2002, mas não incluía penas criminais para médicos, nem especificava que tipo de tratamento médico deveria ser de fato fornecido ao sobrevivente. Entretanto, o novo projeto dizia que qualquer pessoa presente estaria legalmente obrigada a proteger a criança e a levá-la a um hospital para ser internada. Se alguém deixasse o bebê morrer na mesa depois de supervisionar sua tortura poderia ser multado e preso por até 5 anos. Se a pessoa tentasse ativamente matar a criança, poderia ser julgada por assassinato.
Se o novo projeto de lei fosse aprovado, esse país esquizofrênico passaria de um governo que financia tais assassinatos com dinheiro de imposto para um governo que pune aqueles que os realizam, como é o caso de Kermit Gosnell, que está atualmente cumprindo várias sentenças perpétuas, acusado de três homicídios de primeiro grau, porque cortou a medula espinhal de três bebês que sobreviveram a abortos malsucedidos em sua clínica. Ele foi preso não porque era um assassino, mas porque terminou o serviço depois de tentativas malfeitas de assassinato.
Então, na segunda-feira, o bebê deitou novamente na tribuna do Senado. Sem amigos. Sem útero. Sem defesa. Separado das “questões de saúde” da sua mãe. Uma criança com orelhas, mãos, pernas, olhos e boca — e “até mesmo algo semelhante a um cérebro”. Olhando para essa criança — sem uma camada de pele a escondendo, sem grandes plantações a encobrindo, sem campos de concentração a ocultando 44 de 47 senadores democratas votaram contra o projeto e deixaram a criança sozinha na mesa. E ali o bebê permanece.

Onde Isso Irá Terminar?


Será que nos esquecemos como prantear? Como eu lamento meu próprio coração endurecido! Como posso escrever essas coisas com os olhos secos?
Depois do anjo da morte executar seu julgamento nos egípcios, nos é dito que “fez-se grande clamor no Egito, pois não havia casa em que não houvesse morto” (Ex 12.30). Enquanto Herodes entrega as armas novamente para um anjo da morte de segunda categoria e vai embora, postando para seus seguidores o quanto ele apoia os direitos das mulheres, será que fazemos um grande clamor? Será que compartilhamos do horror de Deus com nossa habilidade de interromper uma gravidez e uma infância?
Não se engane: Deus odeia o sacrifício de crianças no altar da conveniência. “E da tua descendência não darás nenhum para dedicar-se a Moloque, nem profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o SENHOR” (Lv 18.21). Dar a descendência para Moloque era inquestionavelmente uma ofensa capital (Lv 20.2). E se o povo de Deus “fechasse os olhos” para isso, fingindo que não vê, rolando para baixo o seu feed de notícias, eles trariam sobre si a ira de Deus (Lv 20.4-5). O sacrifício de crianças é uma abominação tão grande para um Deus santo, que isso nem mesmo entra na sua cabeça (Jr 32.25).
Os Estados Unidos estão no meio de um holocausto. Nós podemos agora, legalmente ou não, olhar para nossas crianças fora do útero e matá-las? Ao falharem em aprovar esse projeto, nossos representantes deram sua resposta, pelo menos por enquanto. Não é segredo que vínhamos falando sobre matar bebês todo esse tempo — ali está ele. E, em vez de cuidar dessa criança, nós nos livramos dela. Em vez de coletar suas digitais, nós as deixamos para trás. Senhor, tenha misericórdia de nós.

  1. Referência aos negros que trabalhavam nessas plantações durante a guerra civil dos Estados Unidos. [N. do T.]
  2. Referência à “Big Apple” [N. do T.]

_________________

Fotos de Greg Morse

*Esse artigo foi originalmente publicado no blog Desiring God ,traduzido com permissão do editor.

**Greg Morse é um escritor da equipe de funcionários para desiringGod.org e graduado de Bethlehem College & Seminary . Ele e sua esposa, Abigail, moram em São Paulo.

*** Tradução de Rebeca Falavinha. Revisão de Sara Mendonça