by Jesse Willcox Smith

Não há como falar em educação domiciliar sem falar em leitura, uma vez que, quase todos os artigos e livros que tratam deste tipo de educação, ressaltam a importância desse hábito no desenvolvimento da linguagem, da fala, do gosto pela leitura e da aquisição de conhecimento. Quando a criança aprende a ler e desenvolve o hábito da leitura, uma porta se abre diante dela e é como se o mundo todo estivesse ali, disponível, entre linhas e letras.

E há dois momentos diferentes de leitura: a leitura individual e a conjunta.

  • A leitura individual é aquela em que a criança que já domina a leitura escolhe o livro que deseja e lê sozinha. Algumas crianças já se dedicam a esse momento de forma espontânea e “devoram” páginas e mais páginas sem perceber o passar do tempo. Outras, precisam ser direcionadas, ou seja, é necessário que o responsável estabeleça um momento para a tarefa, lembrando-as diariamente de pegar seu livro e ler.

Aqui em casa, trabalho narração, ditado, gramática e escrita a partir dos textos lidos, por isso, cada uma das minha filhas mais velhas precisam ler, no mínimo, dois capítulos. Raramente isso acontece, pois geralmente elas querem ler mais (e podem!). Muitas vezes, a partir dessa leitura rende assunto para geografia, história e ciências também. Mas isso, é outro assunto!

Nem todas as crianças nascem amando ler e é preciso saber estimulá-las. Há quem diga que, se lermos desde que são bebezinhos, eles se tornarão bons leitores. Mas nem sempre é assim. Com minha filha mais velha não foi.  A única privilegiada com quem pude ler todos os dias, desde que era ainda bem pequena, se mostrava muito resistente para ler sozinha, já depois de alfabetizada, insistindo para que eu lesse para ela. Foi quando assisti um vídeo sobre como criar gosto pela leitura no qual, o professor Pierluigi falava que precisava deixar a criança escolher qualquer livro que ela quisesse e, se preciso fosse, trocasse várias vezes se achasse chato, até chegar no “livro dela”. Antes de ouvir este conselho, ela escolhia um livro e eu insistia para que o lesse até o final, mesmo que se mostrasse desinteressada. Resultado: não progredia, nem pegava o famoso “gosto pela leitura”. Resolvi seguir o conselho e, depois de trocar uns três livros, ela achou “o” livro dela e, desde então, sempre está lendo a mais do que o “esperado” e já está no terceiro livro este ano (livros com mais de 100 páginas).

Sendo assim, invista em bons livros (compre ou pegue na biblioteca), de diferentes estilos, mas de qualidade. Coloque-os em lugar acessível e ajude seu filho a encontrar o “livro dele”. Quando achar, tente encontrar outros do mesmo gênero para que ele fortaleça o gosto e, em pouco tempo, ele estará lendo tudo o que vir pela frente.

  • Leitura em conjunto é aquela em que nos sentamos junto com a criança para ler em voz alta alguns capítulos. Essa é uma hora muito especial e esperado pelas crianças. É um momento de atenção exclusiva, de aconchego, de estar junto com nossos pequenos (ou grandes). Quando não atentamos para a relevância dessa leitura, podemos passar dias “sem tempo” para ler. Entretanto, é preciso estabelecer uma rotina para que, diariamente, reservemos um momento – ou vários – para tal tarefa. Aqui em casa, faz parte do nosso “currículo” e, mesmo que não possamos fazer muitas outras atividades, a leitura em voz alta é priorizada, pois sabemos dos benefícios. Quando se tem muitos filhos, de diferentes idades, não é preciso escolher um livro para os maiores e outro para os menores. Mesmo que a leitura não pareça interessante para os pequenos, eles só precisam estar por perto, brincando e ouvindo, para serem beneficiados. Sobre esse tema, o casal Harvey e Laurie Bluedorn nos dá essa dica em seu site Trivium Pursuit:

“Ao ler em voz alta para o seu filho, você ensina a ele o som das palavras e desenvolve o seu vocabulário enquanto aumenta o seu entendimento do mundo e desenvolve a sua imaginação. Sugerimos que você leia para o seu filho por pelo menos duas horas por dia. Leia a partir de uma boa variedade de literatura de qualidade: biografias e ficção histórica. Inclua livros de ciências, geografia, artes, música e história.

Três “Nãos”:

  1. Não tenha medo de ler livros com capítulos longos para os seus filhos. Uma criança de cinco anos é capaz de prestar atenção e de entender muito de livros como A Ilha do Tesouro e Viagem ao Centro da Terra.
  2. Não perca seu tempo lendo livros do tipo “fast-food”, como os do Babysitter Club [Clube da Babá] ou Nancy Drew.
  3. Não exija que seus filhos fiquem absolutamente quietos, sentados na cadeira enquanto você lê.

A maioria das crianças ouve muito melhor se estiver fazendo algo com as mãos. Nós permitíamos às nossas crianças brincar calmamente com seus brinquedos ou fazer algum trabalho manual ou desenhar ou qualquer coisa parecida enquanto líamos em voz alta, desde que não se distraíssem ou interrompessem.”

Vale lembrar que essas duas horas diárias podem ser divididas ao longo do dia e, mesmo que não chegue a esse tanto, o máximo que você conseguir já será de grande valia (a leitura diária da Bíblia ou de livros de histórias bíblicas também conta para esse momento). Novamente, escolha um bom livro, com uma linguagem robusta, que seja cativante e que você goste também. Leia com entonação, com empolgação. Depois de ouvir o contador de histórias Chico dos Bonecos dar dicas de como ler para os pequenos (link abaixo), o interesse dos meus filhos aumentou.

Boa leitura!!

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* Este post foi publicado originalmente no site Educação Domiciliar, reproduzido aqui mediante autorização da autora.

* Carioca, Rachel mora há 26 anos em Aracaju, onde o seu esposo, Pr. Alauli Oliveira, pastoreia há 6 anos a Igreja Presbiteriana 13 de Maio (IPB). Rachel é pedagoga e doula, mas se dedica ao lar em tempo integral. Mãe de 5 filhos: Júlia 9 anos, Sophia 6, Lorena 4, Lucas 3 e Helena 9 meses, Rachel pratica Homeschooling (ou Educação Domiciliar) e escreve para os blogs www.educacao-domiciliar.com e www.tocandoideias.blogspot.com.