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Morrer, morte e julgamento são os maiores niveladores da raça humana e para os quais todos estão ordenados: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez” (Hb 9.27). Estar morrendo e a morte em si são coisas profundas, hostis e até mesmo aterrorizantes, mas todos nós iremos experienciar a separação radical e indescritível por meio da qual nossa alma entrará num reino adequado ao seu estado espiritual no momento de sua separação final do nosso corpo, isto é, o céu ou o inferno.

Nós não sabemos exatamente como ou quando morreremos e seremos julgados por Deus, mas sabemos que, de todas as coisas que pensamos e planejamos para nosso futuro, essas são “as inevitáveis.” Não é de se espantar que os Puritanos costumavam chamar a morte, o julgamento, o céu e o inferno de “as últimas quatro coisas.”

Intelectualmente, sabemos que estar morrendo, a morte, o julgamento e a eternidade são coisas reais e certas, mas emocional e espiritualmente nós geralmente não somos capazes de encará-las. Nós adiamos a confecção de nosso testamento e a preparação do nosso funeral. Não conseguimos ficar perto de um caixão tempo suficiente para que a realidade da morte nos acometa. Mesmo nossa linguagem nos trai: falamos em “falecer” ou “partir” em vez de dizer “morrer”. Você por acaso já tentou meditar, nem que seja por dez minutos, no fato de que você está morrendo, de que sua morte é inevitável bem como a vida pós-morte? Por natureza, isso é quase impossível de se fazer. Mesmo como cristãos isso pode ser difícil. Podemos passar várias horas planejando férias de duas semanas em outro continente, mas mal conseguimos gastar uma hora planejando nossa eternidade.

Entretanto, meditar em morrer e na morte e ler sobre isto é, na verdade, muito proveitoso e até mesmo necessário para nós. Precisamos estar pessoalmente preparados para morrer – espiritualmente, eticamente e fisicamente – a fim de que nossa morte seja “lucro” (Fp 1.21). Pensando nisso, Martinho Lutero (1483-1546) disse: “Todo homem deve fazer duas coisas sozinho; ele deve construir sua própria crença e sua própria morte”.

A morte chega para todos nós — mais cedo do que pensamos. Ela não pergunta se somos membros úteis da sociedade, cônjuges e pais amorosos, filhos obedientes ou figuras centrais na igreja de Deus, imbuídos de grandes doses de santa piedade. A morte não aceita subornos e não conhece rejeição. A agenda está nas mãos de Deus. Seu nome e o meu junto com a hora e as circunstâncias de nossa morte são coisas conhecidas por Deus (Jó 14.5). Ele não nos pergunta para quando gostaríamos de marcar esse compromisso. Nosso compromisso com a morte é unilateral, não bilateral. Não podemos fazê-lo desaparecer, não podemos adiá-lo como fazemos com uma consulta médica. Conflitos de horário não existem na agenda de Deus e, na verdade, nós nunca sabemos quando acontecerá.

Deus tem o direito de estar no controle do seu compromisso com a morte por duas razões simples: primeiro, porque ele é Deus; segundo, porque somos pecadores que merecem morrer. Deus tem o direito de enviar a morte em nossa direção a qualquer momento, como um raio caindo sobre você ou como um ladrão que assalta sua casa durante à noite (1Ts 5.2). Podemos morrer quando ainda jovens; quando estivermos velhos, certamente morreremos. Qualquer que seja nossa situação presente, precisamos estar sempre prontos para morrer.

Tudo isso traz à tona a antiga pergunta: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó 14.14). A resposta para a pergunta de Jó é de grande importância e a evidência bíblica diz que a morte não é o fim da existência. Vamos considerar por um momento, em primeiro lugar, o que é a morte; em segundo, a esperança do crente na morte; em terceiro, como se preparar para morrer; em quarto, como morrer pode ser nosso lucro; e, finalmente, além da Bíblia, quais são boas fontes de leitura que podem nos ajudar no preparo para a morte.

Morte: Física, Espiritual e Eterna

A morte é, em última análise, indefinível. A realidade da separação que ela traz quando perdemos nossos entes queridos é indescritível. No entanto, a palavra “separação” deve estar no centro de nossas tentativas débeis de definir a morte. A morte física é a separação da alma e do corpo, mas ela não se resume a isso. A Bíblia também fala de dois tipos de morte que são ainda piores: a morte espiritual e a morte eterna.

A morte espiritual é a separação entre a alma e o favor de Deus. Isso aconteceu instantaneamente com Adão no Paraíso quando ele caiu em pecado. É assim que nascemos, por natureza, como filhos e filhas do pecado, separados de Deus em nossa alma ainda que recebamos benefícios de Deus para nosso corpo. Davi expressou desta forma: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5), e Paulo escreveu aos Efésios: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2.1). Essa é a razão porque Jesus disse a respeito de todos que nascem neste mundo: “Importa-vos nascer de novo” (Jo 3.7).

A morte eterna é a separação entre Deus e a alma e o corpo de uma pessoa para sempre no inferno. O inferno é um estado final e irreversível (Lc 16.25,26) de punição (Mt 25.46), tormenta (Mc 9.44), destruição (2Ts 1.9), aprisionamento (Jd 6), bem como de trevas, luto e dor (Mt 8.12). Na morte eterna, aqueles que são justamente condenados ao inferno não experimentam nem mesmo da graça comum de Deus que é dada também aos incrédulos nessa vida; a ira pura de Deus é lançada sobre aqueles que foram condenados para sempre (Ap 14.10,11). No inferno, os condenados estão sempre morrendo, mas nunca estão completamente mortos fisicamente ainda que permaneçam sob a morte espiritual e eterna — a qual é sem interrupção, sem segunda chance, sem aniquilação e sem fim (Is 33.14, Mt 25.41, Jd 8). Verdadeiramente “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) — morte física, morte espiritual e morte eterna.

Continua…


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*Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth, Novembro/Dezembro de 2018, traduzido com permissão do editor.

**Christopher W. Bogosh é o autor de vários títulos envolvendo saúde de uma perspectiva bíblica. Ele é o fundador da Good Samaritan Books, um ministério de publicações dedicado a “informar, transformar e reformar os cuidados médicos”. Chris é membro da Holy Trinity Anglican Church, junto com sua esposa, Robin e seu filho Noah. Chris possui uma mistura única de treinamento médico e teológico, permitindo-lhe envolver-se no mundo altamente técnico da ciência médica, mantendo a fidelidade às Escrituras.

***Tradução por: Rebeca Falavinha Revisado por: Ligian Oliveira e Ana Carolina Oliveira