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Todos nós já tivemos experiências ruins com amizades em algum ponto de nossa vida: um amigo que nos rejeitou, que compartilhou com outros aquilo que contamos a ele em segredo ou que acabou sendo alguém diferente de quem pensamos que era. Tais experiências são dolorosas. Elas podem moldar nossa visão sobre a amizade por muito tempo.

Quando conhecemos pessoas novas, nos surpreendemos desconfiadas, hesitantes e cautelosas. Algumas de nós usam máscaras educadas na igreja, no domingo de manhã, nunca revelando quem realmente somos. Outros desistem de vez da amizade, mas eu não creio que devamos fazê-lo. Eu acredito que é possível encontrar amizades seguras e confiáveis. Deus nos chama a ter esse tipo de amizades na igreja.

Como a Bíblia Descreve a Amizade

A Escritura usa várias metáforas e imagens para descrever a igreja. O corpo humano é uma delas. A igreja é descrita como um corpo feito de muitas partes, com Cristo como nossa cabeça. Somos unidos a Cristo através da fé e unidos uns aos outros como filhos adotivos de Deus. Como o corpo humano, cada parte do corpo da igreja é importante, nós precisamos de cada parte para funcionarmos e nenhuma parte é melhor do que a outra. Também como o corpo humano, somos tão firmemente ligados que, quando uma parte do corpo da igreja se fere, todos nos ferimos.

A Bíblia descreve como os relacionamentos dentro do corpo da igreja devem ser:

  • Amor sacrificial: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.16).
  • Encorajamento espiritual: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10. 24-25).
  • Socorro mútuo: “Servos uns dos outros, pelo amor” (Gl 5.13).
  • Entristecendo-se e alegrando-se em conjunto: “De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1Co 12.26).
  • Tomar os fardos uns dos outros: “Levai as cargas uns dos outros” (Gl 6.2).
  • Exortação: Hebreus 3.13 diz: “exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado.”
  • Discipulado: “Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada” (Tt 2.3-5).

Ainda que a Bíblia descreva os relacionamentos na igreja dessa forma, a verdade é que somos todos pecadores e quando pecadores se reúnem, acabaremos pecando uns contra os outros. Buscaremos nosso próprio bem, às vezes, seremos rudes, ofensivas e causaremos tristeza mútua. Poderemos brigar e discutir e isso não deveria nos surpreender, afinal, até mesmo dentre os doze, havia um Judas. Até mesmo os amigos mais próximos e mais queridos de Jesus fugiram e falharam com ele quando ele mais precisou deles.

Então, como podemos cultivar relacionamentos seguros e confiáveis na igreja? Como encontrarmos amigas confiáveis com as quais podemos remover nossas máscaras e compartilhar nossas vidas? Como poderemos viver os tipos de relacionamentos que a Bíblia descreve na igreja do Novo Testamento? 

Cultivando Uma Amizade Segura

Uma amizade segura e confiável se desenvolve através de um processo, durante um período de tempo. Ela começa com um relacionamento simples onde nos conectamos com outra pessoa através de gostos e interesses em comum. Na igreja, todas nós temos o amor por Cristo em comum, mas há outras semelhanças que podemos descobrir conforme passamos tempo com as pessoas: hábitos parecidos, infâncias e vivências, experiências profissionais, personalidades e dons espirituais. Com o tempo, conforme aprendemos mais sobre a outra pessoa, a amizade evolui para um nível onde podemos confiar uma na outra e mutuamente compartilhar nossos fardos.

Em seu livro How Should We Develop Biblical Friendship? [Como Desenvolvemos a Amizade Bíblica], Joel Beeke  e Michael Haykin mostram uma boa maneira de olhar para nossas amizades: como círculos concêntricos de mútua confiança e conhecimento. Imagine um alvo do tipo que você atira dardos ou flechas. Aqueles mais achegados a nós são em quem mais confiamos e que sabem mais sobre nós. Eles estarão no círculo central do alvo. Então, existem aqueles que podemos considerar amigos porque passamos muito tempo com eles no trabalho ou servindo lado a lado no ministério, mas eles não sabem tudo sobre nós. Esses amigos estão no anel ao redor do círculo central. Existem aqueles no próximo anel, com que compartilhamos objetivos em comum, mas não os consideraríamos bons amigos. Por fim, no anel mais afastado do centro há aqueles que estão mais para conhecidos, pessoas que conhecemos e sabemos alguns fatos sobre elas, mas com as quais temos pouca conexão.

A maioria de nossos relacionamentos na igreja começarão nas partes mais periféricas do círculo, como conhecidos. Ao longo do tempo estando juntas no serviço, na comunhão ou em estudo bíblicos, podemos nos conhecer melhor. Algumas dessas pessoas se moverão para dentro dos círculos conforme aprendermos mais sobre elas e conforme avançarmos em nossa confiança mútua — até que finalmente tenhamos nossas amigas-irmãs, com quem o fruto de uma amizade profunda nasce com tempo e paciência.

Leva tempo para identificarmos as pessoas que são confiáveis, pessoas com quem podemos ser vulneráveis e reais. Charles Spurgeon tem palavras sábias para nós, sugerindo que esperemos um tempo antes de chamar alguém de nosso “amigo”:

“Espere um pouco, até que você conheça ele um pouco mais. Olhe para ele, examine-o, julgue-o, teste-o e só então o insira na lista sagrada de amigos. Seja amigável com todos, mas não torne-se amigo de ninguém até que ele conheça você e você o conheça. Muitas amizades que nasceram nas trevas da ignorância, morreram repentinamente à luz de uma familiarização maior um com o outro.”

Certamente, nem todos em nossa igreja estarão em nosso círculo mais interno de profunda confiança e familiaridade, isso seria impossível,  Com certeza, estenderemos nossa gentileza a todos na igreja, os ajudaremos, os amaremos e serviremos a todos os membros do corpo, mas apenas alguns poucos estarão mais próximos a nós, conhecendo nossas dores e fardos mais profundos, nossos pecados e tentações para, assim, nos exortar na verdade do evangelho.

Como todas as coisas na vida, a amizade demanda trabalho duro, mesmo na igreja. Encontrar e cultivar amizades seguras e confiáveis requer tempo e paciência, mas não estamos sozinhas. Cristo, nosso amigo mais seguro e confiável entre todos, está conosco. Devemos buscar sua sabedoria e ajuda, confiando que ele proverá a amizade da qual precisamos. No final de tudo, a igreja é dele. Ele morreu para nos tornar sua propriedade. Ele acreditava que ela valia a pena, nós também não deveríamos fazê-lo?

*Este post é uma tradução de um artigo publicado originalmente no blog Revive our Hearts, traduzido e publicado com permissão do autor.

**Christina graduou-se pelo Covenant College e seu fez seu Mestrado em Aconselhamento pela Palm Beach Atlantic University. Ela escreve para vários ministérios e publicações cristãs, incluindo Desiring God e The Gospel Coalition. Ela é a editora do enCourage, um blog de ministério de mulheres da PCA e autora de A Heart Set Free: Uma jornada para a esperança através dos salmos de lamento e Mais Próxima de Uma Irmã: como a união com Cristo ajuda as amizades a florescer. Christina vive com o marido há vinte anos e com seus dois meninos em Atlanta.

***Tradução por: Juliana Fontoura Revisão por: Ligian Oliveira