⎯ Não sei onde foi que eu errei!

⎯ Eu levava na escola dominical e no culto todos os domingos, mas, agora, meu filho adolescente não quer mais ir à igreja.

⎯ Ele estudou numa escola cristã!

⎯ Sempre dei do bom e do melhor!

Essas são apenas algumas das coisas que já ouvi pais dizerem ao se referirem aos seus filhos adolescentes que, surpresa das surpresas, não querem mais ir à igreja – o que significa, na verdade, que não querem mais saber de Deus. Raríssimas vezes ouvi um pai ou uma mãe dizer que fazia cultos domésticos constantes, conversava e ensinava seus filhos, gastava tempo com eles, os disciplinava e os corrigia de acordo com a Palavra sofrerem com o mesmo problema.

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A verdade que deve ser reconhecida a respeito dessa fase na vida de nossos filhos é que a natureza pecaminosa deles está tentando, de todas as formas, usando todas as armas possíveis, tomar conta de seu coração. Numa época em que eles estão desenvolvendo seu pensamento crítico, sua autonomia e suas opiniões. Essa não é uma verdade exclusiva para adolescentes, mas quando nossos filhos são pequenos, temos maior acesso à maneira como agem e até mesmo como pensam. Quando somos adultos, temos mais sabedoria – ou deveríamos ter – e, portanto, mais armas para lutar contra essa natureza. O apóstolo Paulo fez questão de escrever sobre essa luta em Romanos 7.18-21: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.” Em seguida, ele diz: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará o corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado” (Romanos 7.24,25). Nossos filhos, assim como nós, assim como o apóstolo Paulo, também enfrentam essa luta interna, mas, ao contrário de nós (do que deveria ser a regra), não têm a sabedoria adquirida ao longo dos anos para usar nessa luta. Além disso, ainda enfrentam a luta contra uma cultura que está cada dia mais distante dos preceitos do Senhor e que os assedia por todos os lados: amizades, escola, tecnologia e mais. Cabe a nós, pais, ajuda-los a pensar, guia-los no caminho da piedade e do amor à Palavra, instruí-los nos caminhos de mansidão, submissão ao Senhor e de fé no Salvador que nunca nos abandona e que conquistou, na cruz sangrenta, tudo o que necessitamos para vencer todos os desafios que se apresentarem à nossa frente, inclusive tentações e incredulidade.

Enquanto pais não reconhecerem a realidade dessa luta no coração de seus filhos adolescentes e, também, a necessidade de pastoreá-los, guiá-los, durante esses anos de descobertas e autoconhecimento, ouviremos frases como as do início deste artigo. Enquanto

pais não perceberem que a maior necessidade dos nossos filhos não é o treino de futebol, a aula de inglês, a melhor nota na escola e coisas desse tipo que, a despeito de serem importantes, não os levarão para o céu, continuarão a assistir, impotentes, filhos se afastando da igreja – porque, na verdade, nunca foram próximos do Senhor – e da própria família.

Como pais – e pecadores –, tendemos a nos concentrar nas coisas que são, de certa forma, mais práticas: limpe o seu quarto! Arrume esse cabelo! Lave o seu prato! Vá estudar! Pegue a sua bíblia, estamos atrasados! Sobre essas coisas, temos certo controle – ou, melhor, temos a sensação de controle sobre elas. Enquanto não começarmos a pensar em termos de eternidade, essas praticidades serão apenas isso: praticidades. Podemos até mesmo conseguir criar filhos obedientes, especialmente se eles têm uma personalidade mais tranquila, mas, ainda que esse seja o caso, ainda não estaremos atendendo à maior necessidade da vida de nossos filhos adolescentes: uma fé viva em Jesus.

Nossos filhos precisam de Jesus

Doses diárias, constantes e incansáveis de Jesus. Da sabedoria vinda do Salvador, do amor, das palavras e do consolo que temos em saber que, a despeito de nossas falhas e de nossos pecados, temos Advogado junto ao Pai (1 João 2.1). Nossos filhos precisam compreender a necessidade que temos de um Salvador, precisam entender a extensão de nossa ofensa contra Deus. Eles precisam ter diante deles a certeza da presença desse Deus justo que, a despeito de nos amar, também ama a justiça e vai, sem sombra de dúvidas, nos pedir contas. Precisamos mostrar a mão do nosso Salvador na criação e na maneira como tudo foi feito por intermédio dele, o Verbo de Deus (João 1.1-5), que também é a verdadeira luz do mundo (João 1.6-9). Mais do que qualquer outra coisa, nossos filhos precisam compreender que as promessas do nosso Deus, em Cristo, são infinitamente melhores do que qualquer alegria e satisfação passageira que essa vida venha a nos oferecer, que Cristo veio ao mundo “assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e reconhecido em figura humana,” que ele “a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2.7,8). Nossos filhos precisam ser convencidos de que a verdade absoluta só pode ser encontrada em Jesus e sua palavra. Por fim, o coração e a mente de nossos filhos precisam compreender a maravilhosa verdade de que “Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus é Senhor, para a glória de Deus Pai” (Filipenses 2.9-11).

A razão de ser, pensar e existir de nossos filhos tem que ser Jesus e se você, como mãe, não tem caminhado com seu filho em direção à cruz de Cristo, os possíveis problemas do dia a dia são apenas indícios disso.

Em seu livro, A Idade da Oportunidade,

Paul Tripp propõe uma descrição do adolescente. Ele afirma, entre outras coisas, que o adolescente não tem perspectiva escatológica, ou seja, não tem interesse pela eternidade porque eles não têm costume de esperar por uma gratificação, já que são focados no presente, colocando suas responsabilidades de lado até o último momento. De acordo com Tripp, nossos adolescentes ouvem que eles são as marcas que vestem, o tamanho de seu corpo, sua inteligência, sua habilidade atlética, o carro que dirigem, a casa em que vivem, o nível de popularidade que têm e, por isso, têm sua atenção distraída apenas para o presente momento. Dificilmente o adolescente compreenderá a importância de se investir na vida eterna com Jesus, se nós, pais, não os guiarmos nessa direção com muita conversa, paciência, diligência, insistência, sabedoria e amor.

Sabendo disso, ainda há tempo de transformar nossas rotinas práticas e diárias em momentos de aprendizado e de crescimento. Não percam a oportunidade de investigar os motivos escondidos no coração de seu filho para ele desobedecer e se rebelar – mesmo que em coisas pequenas. Ainda dá tempo de reavaliar o tipo de relação que você tem desenvolvido com seu adolescente e proporcionar para ele um ambiente de confiança e de comunicação sempre aberto, mas, principalmente, seu filho adolescente deve ter absoluta certeza de que você está fazendo por ele a coisa mais vital e importante que qualquer pai deveria querer fazer por um filho: guiá-lo na direção de Jesus, para a glória de Jesus.

Você não é mãe ou pai para exibir um filho super comportado, que tira notas maravilhosas, é educado e comunicativo, que lê um milhão de livros, que joga futebol como nenhum outro e que provavelmente vai ser um médico extraordinário. Não! Você tem filhos para criá-los “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 4.4). Você os tem para ensinar que devemos amar o Senhor, nosso Deus, de todo o nosso coração, de toda nossa alma e de toda a nossa força (Deuteronômio 6.5). Você os tem para ensiná-los a atar essas palavras no coração, como diz Deuteronômio 6.6 – 9: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.” Você os tem para a glória de Deus. Todo o seu empenho na vida de seus filhos só fará sentido se o objetivo for apontá-lo para a cruz de Cristo. Todo o resto serve apenas para te dar a (falsa) sensação de ser uma mãe ou um pai cuidadoso. Veja bem, não estou afirmando que todas as outras coisas não sejam válidas ou importantes. De jeito nenhum! O que estou afirmando é que elas só têm valor se forem resultado de uma vida diante de Deus, para a glória dele.

Meu desejo e oração para os pais de adolescentes é que, dia após dia e incansavelmente, eles caminhem com seus filhos adolescentes para mais perto da cruz de Cristo e que, nessa jornada, façam tudo – estudem, tirem boas notas, joguem futebol e se comportem – para a glória de um Deus que vai cobrar de cada pai e de cada mãe as horas perdidas com coisas do aqui e do agora, ignorando a maior necessidade da vida do seu filho adolescente: Jesus.

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Casada com Charles, mãe de Pedro (22), Laura (17) e Davi (13), diretora do Challenge A/Classical Conversations, em Bethel, CT, professora de português e inglês, idealizadora da Rota Literária, do Canal Fase Retórica, estudante iniciante do curso de Bacharelado em Teologia pela Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FitRef).