Eu não sei como você caracteriza o ministério pastoral. Infelizmente, hoje é muito comum os pastores (sem juízo de valor se essas pessoas são verdadeiramente pastores chamados por Deus para exercer o ministério – o fato é que elas se denominam pastores) serem considerados preguiçosos, aproveitadores, presunçosos e envoltos em muitos escândalos de várias ordens: moral, financeira e espiritual.
Seria importante reconsiderar esse posicionamento; ele nem sempre foi assim. Não muito tempo atrás, os ministros eram considerados pessoas sérias, confiáveis, com uma vida de oração exemplar, visitadores do rebanho, estudiosos e íntegros nas áreas públicas de suas vidas. Os escândalos eram em muito menor escala e repercussão, e quando eles aconteciam atestavam a “falta de vocação” da pessoa, deixando-a impossibilitada de exercer o ministério. Infelizmente, as coisas mudaram.
Para falar sobre alívio no ministério, é necessário conhecer um pouco as dificuldades do ministério. Quando falamos sobre isso, de imediato somos remetidos às responsabilidades pastorais que pesam sobre nós diariamente. O pastor, em primeiro lugar, deve ter uma família íntegra, isto é, que é governada por Deus através de sua Palavra tendo o homem no papel de liderança (1Tm 3.4-5), sendo este um pré-requisito para exercer o ministério com autoridade espiritual. Quem é casado e tem filhos sabe o peso desse requerimento. Ele também precisa ter uma vida pública que se resume em irrepreensibilidade (1Tm 3.2; 1Pe 5.1-4), alguém que não teríamos de que acusar em um tribunal. Além de se preocupar com sua família e com sua conduta pessoal, ele deve guardar fielmente a sã doutrina (1Tm 4.16). Sobre ele pesa, diariamente, administrar para si mesmo e para os outros a Palavra de Deus. Para tanto, ele precisará se dedicar em conhecer cada vez mais as Escrituras e o seu Autor, com humildade e dependência do Espírito Santo.
Ele também é responsável por uma vida de oração ativa e intercessora por todos (Ef 3.14-15; Fl 1.4; Cl 4.12; 1Ts 1.2). Ele deve doar-se para o trabalho de Deus como alguém que sente seu próprio corpo se desfazendo (2Co 5.1-2), literalmente sofrendo tudo por causa de Cristo e da igreja (2Co 4.7-12; 1Co 9.23; 2Co 12.9-10). É possível ainda que ele tenha que passar por todas essas coisas com forte oposição, sendo desprezado e rechaçado por aqueles que deveriam amar e cuidar dele, obedecendo-o enquanto ele é fiel às Escrituras (Hb 13.7, 17). Tudo isso foi necessário para dizer que o ministério é extremamente desgastante, e às vezes, até cruel.
No entanto, o pastor pode contar com muitos tipos de “alívio” na sua labuta. Em primeiro lugar, ele conta com as promessas de Deus de que os ministros são somente um reflexo do Supremo Pastor (1Pe 5.4). O Senhor Jesus Cristo é o bom pastor (Sl 23.1); todo nosso pastoreio do rebanho é realizado na consciência que não somos suficientes para tal. É um alívio saber que Jesus é o verdadeiro pastor de todos. Ele também conta com a graça de Deus para desempenhar a sua jornada com fidelidade (1Co 15.10), pois não está se esforçando “sozinho”. O consolo do Espírito Santo repousa continuamente sobre aquele que se desgasta pelo reino, tendo a certeza que a obra é de Deus, e somos apenas servos, mensageiros, despenseiros. O pastor também precisa ver o alívio de que “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fl 1.6).
Depois desse arrazoado, a igreja poderia ajudar oferecendo alívio ao seu pastor de algumas maneiras práticas:
• Incentive seu pastor a se dedicar aos estudos que têm como objetivo a exposição da Palavra. Esta tarefa é um das mais nobres e árduas que um ministro tem. Creia: como qualquer ser-humano nós também gostamos de ouvir elogios, mas para nós será de muito mais valia se a igreja colocar em prática o que temos ensinado.
• Respeite o dia de descanso. Como exposto acima, um ministro tem muitas coisas a fazer, e normalmente ele o faz sozinho e em lágrimas. É um alívio quando realizamos o trabalho que Deus nos entregou e projetamos nosso dia de folga para descansar de verdade. Obviamente que emergências podem ser imprevistas, mas priorize o descanso nesse dia.
• Ame a sua família. É muito triste quando pastores procuram fazer o trabalho de Deus e não encontram uma igreja que ama e respeita sua esposa e filhos. Como vimos acima, ele precisa primeiro pastorear sua casa e depois a igreja. Se o ministro tem se esforçado para fazer o primeiro, ajude-o para que ele faça o segundo.
• Ore constantemente por seu ministério. Como homem, o pastor passa pelas mesmas tentações que qualquer outra pessoa. Por isso, a intercessão por sua integridade é necessária. É um alívio saber que existem pessoas da igreja orando por nós.
• Ajude no trabalho. No sistema presbiteriano, os ministros são presbíteros docentes. Isso significa que a responsabilidade do pastoreio e supervisão do rebanho, assim como a realização do seu trabalho é coletiva. Como é revigorante saber que o trabalho pastoral é realizado não somente por uma pessoa, mas por alguns homens chamados por Deus. Não permita que o ministro fique sobrecarregado “só porque ele é o pastor”. Uma liderança colegiada que cumpre o seu papel é um alívio para qualquer ministro.
Que Deus nos abençoe!
O autor é pastor da Igreja Presbiteriana de Canela, no Rio Grande do Sul. Casado com Érika, pai de Gabriele, Beatriz e Mariana. Ordenado desde 2014 exerce o ministério de forma integral. Formado no Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição (JMC), é aluno do Centro Presbiteriano de PósGraduação Andrew Jumper.