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Há nove anos, neste mês, meu pai foi para casa, para estar com o Senhor. Uma das memórias mais doces que tenho dele é de como ele amava cantar hinos. Estivesse ele consertando coisas pela casa, ou nos levando à igreja aos domingos de manhã, eu lembro de seu timbre forte de barítono erguido em louvor. Entre seus hinos favoritos, estava o “Sou Feliz com Jesus”, de Horatio Spafford. Ainda hoje consigo visualizar ele cantando com um enorme entusiasmo.


“Se paz a mais doce me deres gozar
Se dor a mais forte sofrer
Oh! Seja o que for, tu me fazes saber
Que feliz com Jesus sempre sou!”

Quando criança, as palavras desse hino carregavam pouco significado para mim. Eu não sabia nada sobre as crescentes tristezas da vida nesse mundo caído. Mas agora acredito que entendo o motivo deste hino ser amado por meu pai. Eu também sinto dor e tristeza, eu também experimento sofrimento e perda, mas eu também tenho tido alegria em meio à dor. Eu tenho descoberto, assim como meu pai também já havia descoberto, que é possível sentir tristeza e alegria ao mesmo tempo. Ou, como o apóstolo Paulo disse, “entristecidos, mas sempre alegres” ( 2 Co 6:10a).

Como podemos experimentar essas emoções contrárias ao mesmo tempo? Como podemos aprender a estarmos “sempre alegres” no meio do sofrimento? Nós precisamos do poder do Espírito Santo, com certeza. Mas as Escrituras nos ensinam a cultivar alegria no meio do sofrimento através do exercício diário de olhar para os presentes de Deus (Ec. 2:24-26). A cada dia nosso Pai Celeste nos dá consolo para os sofrimentos diários e bençãos pelas alegrias diárias. A alegria nEle vem um dia de cada vez.

  • Não almeje os dias que passaram
    Almejar pelos “dias de antigamente”, ou lembrar “do jeito que as coisas costumavam ser”, sufocarão as alegrias que Deus nos presenteia hoje. Um fato sobre a nostalgia: ela é normalmente uma capa para o descontentamento e insatisfação com os bons presentes dados por Deus hoje. Se vivemos no passado, desejando que as coisas fossem como antes e ansiando por bençãos que já não temos mais, perderemos a alegria e o deleite que Deus tem para nós hoje. É por isso que Salomão nos avisa: “Jamais diga: Porque foram os dias passados melhores do que estes? Pois não é sábio perguntar assim” Ec 7:10.

Nós frequentemente esquecemos que o dia de ontem também teve seu sofrimento. Nós também estamos propensos a esquecer da graça sustentadora de Deus que nos carrega durante o sofrimento. Se o problema presente está pressionando fortemente, nós podemos ser tentados a pensar que a vida estava melhor antes dessa provação. Mas esperar pelo passado não nos leva à sabedoria e à alegria. Então, deixemos de desejar pelo passado e, ao invés disso, sabiamente comecemos a agradecer a Deus pelas suas misericórdias, que se renovam a cada dia (Lm 3.21-23).

  • Não almeje o dia de amanhã
    Algumas vezes nós tentamos escapar dos sofrimentos atuais imaginando uma vida mais feliz amanhã. Nosso impulso é pensar que as circunstâncias devem melhorar em breve, e então seremos felizes novamente. Nós conjuramos imagens do conflito atual magicamente resolvido, a doença miraculosamente curada, o trabalho terminado e as crianças todas crescidas.
    Tendemos a pensar:
    Quando eu finalmente me formar, aí sim serei feliz.
    Se eu casar, estarei contente.
    Se eu tiver um bebê, minha vida estará completa.
    Quando eu terminar de cuidar das criancinhas pequenas, então me sentirei descansada.
    Se eu sobreviver à vida com adolescentes, enfim eu estarei livre.
    Quando eu passar por essa provação, então a minha vida será boa.

Não é verdade! O amanhã pode não carregar o problema de hoje, mas carregará o seu próprio problema (Mt 6:34). Se nós sempre imaginarmos um futuro sem problemas, perderemos as alegrias que Deus tem para nós hoje. Para o dia de hoje, basta os seus próprios problemas; e para o dia de hoje, os presentes graciosos de Deus são suficientes.

  • Viva o hoje ansiosamente
    Se nós vivemos para o futuro ou presos no passado, estaremos paralisados pelo problema atual e terminantemente desprovidos das bençãos diárias. Não podemos ignorar essa conhecida exortação bíblica: “Este é o dia que o Senhor fez, regozijemo-nos e alegremo-nos nele. (Sl 118:24).

Como nos regozijaremos e nos alegraremos em dias de sofrimento? Seguindo o exemplo do salmista de orar e vigiar pelas bençãos de Deus: “De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando” Sl 5:3. Quando eu acordo para a multidão de problemas que tenho, apresento-os ao Senhor em oração e aguardo por suas bençãos ao longo do dia, sou frequentemente surpreendida e satisfeita pela bondade de Deus, e meu coração é preenchido por uma alegria que independe de minhas circunstâncias.

A triste, mas sempre regozijante Elisabeth Elliot aprendeu essa lição durante sua vida.

Quero deixar registrado aqui que tenho realmente “experimentado a alegria”. Eu não posso imaginar uma vida mais maravilhosamente abençoada do que a minha. A fidelidade de um Pai amoroso – foi isso o que eu encontrei, todos os dias de todas as semanas de cada ano, e só fica melhor.

  • Lembre-se do melhor dia de todos
    Mas e se nós orarmos e aguardarmos, e ainda assim não vermos as aparentes bençãos nesses dias de tribulação? Devemos retornar ao lugar onde recebemos o maior presente de todos. Num único dia, há mais de dois mil anos, Deus mandou seu Filho perfeito para morrer pelos nossos pecados. Ele levou nosso maior problema – a merecida ira de Deus – sobre si. Ele suportou nossas dores e carregou nosso sofrimento, os mesmos que sentimos tão evidentemente nesses dias (Is 53:4).

Não importa que sofrimento nós podemos sentir hoje, nós podemos cantar (com grande gosto!) essa alegre verdade:

“Meu triste pecado, por meu Salvador, foi pago de modo cabal!
Valeu-me o Senhor! Oh mercê sem igual!
Sou feliz, graças dou a Jesus! Sou feliz com Jesus! Sou feliz com Jesus, meu Senhor!”

Carolyn Mahaney Photo

*Carolyn Mahaney é dona de casa e esposa de um pastor que escreveu vários livros com sua filha, incluindo True Feelings e True Beauty. Atualmente, eles estão escrevendo um livro sobre Eclesiastes. Carolyn e seu marido, CJ, têm quatro filhos e doze netos.

**Este post é uma tradução de um artigo publicado originalmente no blog Desiring God traduzido e publicado com permissão do autor.

*** Tradutora: Cynara de Souza. Revisora: Sara Mendonça