Apesar do nome sugestivo, este livro não trata de dietas alimentares. Nele você não encontrará listas do que comer ou do que não comer. Não há tabelas nutricionais, nem tampouco receitas no final do livro.

Se você já percorreu um longo caminho procurando respostas sobre como lidar de forma piedosa com a alimentação, sugiro que dedique um tempo para ler este livro. Às vezes estamos procurando soluções onde jamais as encontraremos, assim como a autora declara:

“Eu procurava e procurava – esperando encontrar uma resposta mágica para o meu problema. Descobri que estava procurando o remédio errado, pois buscava uma solução exterior enquanto Deus desejava mudar meu coração.”

Partindo do pressuposto de que nossas circunstâncias são meios pelos quais Deus nos permite reconhecer nossas fraquezas, essas circunstâncias nos levam aos pés daquele que verdadeiramente pode nos transformar, ordenar nossos afetos, e nos fazer enxergar de maneira piedosa os alimentos e os hábitos alimentares.

Primeiramente o livro é um grande encorajamento, apresentando esperança àqueles que lutam contra hábitos alimentares destrutivos. Grande parte das pessoas que enfrentam problemas nesta área passam anos e anos lidando com isso sem que haja um desfecho positivo. Ora sofrendo com as consequências, ora tentando mudar, ou seja, são pessoas que enfrentaram muitas frustrações relacionadas a este assunto, o que acaba minando a esperança de um dia conseguir enxergar os alimentos como uma verdadeira dádiva de Deus e os hábitos alimentares como uma forma de glorificá-lo.

Conheci este livro através de uma querida amiga nutricionista que me apresentou uma perspectiva bíblica acerca da alimentação. Foi uma abordagem nova para mim, talvez por isso, falo sempre com tanto entusiasmo acerca deste livro! Foi, de fato, uma resposta de oração, pois ler o livro me fez entender o quanto o poder de Deus se aperfeiçoa na nossa fraqueza, assim como o apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 12:9.

Elyse inicia seu livro citando um versículo que deixa muito clara a maneira como Deus deseja que enxerguemos a nossa alimentação:

“Assim, quer vocês comam, bebam, ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” 1 Coríntios 10:31

Problemas relacionados à alimentação não são exclusividade das pessoas que lidam com sobrepeso crônico. A questão é muito mais ampla. Os pecados relacionados à nossa alimentação atingem pessoas de maneiras variadas. E, logo no inicio do livro, Elyse apresenta alguns casos em que o relacionamento com a comida conduz à escravidão. A autora nos leva também a observar a primeira pergunta do Catecismo de Westminster: Qual o fim principal do homem? 

A resposta a esta pergunta: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre”, nos indica o princípio que deve reger nossos pensamentos e ações em relação à comida: devemos enxergar toda a nossa vida como algo pertencente a Deus, um meio pelo qual podemos bendizei-lo. E isso, de forma alguma, exclui a nossa alimentação.

No segundo capítulo Elyse nos fala o quanto é comum entre mulheres cristãs, a confusão a respeito da perspectiva de Deus sobre comer e fazer dieta. Ao tratarmos desse assunto, devemos partir do pressuposto de que Deus quer transformar nosso coração para que nos tornemos mais parecidas com Cristo, conforme está escrito em Romanos 8:28,29. Sobre isso, Elyse diz:

“Todas as circunstâncias difíceis que você está enfrentando – até mesmo a luta com a comida e o peso – são ferramentas nas mãos do Mestre escultor. Ele as está usando para dar forma e moldar você. (…) Ele está no ramo de transformar pessoas. Isto inclui você.”

Na parte dois do livro, Elyse discorre sobre a importância do cuidado com o nosso corpo. Ela cita Salmos 139:13-14, I Coríntios 6:19-20 e I Coríntios 3:16-17, e fala sobre a gratidão que devemos ter a Deus pelo corpo que ele nos deu. Ela então afirma:

“Porque o seu corpo é templo de Deus, você deve tratá-lo com carinho e cuidado. Isto significa muitas coisas – não só que você deve se alimentar de forma apropriada. Significa que deve descansar o suficiente e fazer exercícios. Você precisa aprender a lidar com situações estressantes de um modo que não prejudique o seu corpo. Pelo tempo que Deus lhe conceder saúde, seja do modo como ele o fizer, você deve procurar, de forma grata, ser um bom mordomo (ou gerente) daquilo que ele lhe deu.”

Precisamos ser intencionais e prudentes para não fazermos nada que possa, propositalmente, destruir o nosso corpo. Ao observarmos com cuidado o Catecismo Maior de Westminster, ao falar acerca dos deveres requeridos pelo sexto mandamento, temos o seguinte: “Todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação da nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões, e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém, por meio de justa defesa dela contra a violência (…) uso sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho e recreios”. Ou seja, o sexto mandamento nos leva a compreender que temos a obrigação de evitar exageros inconsequentes, adotando a moderação na forma como nos alimentamos. 

No capítulo seguinte Elyse trata sobre nossas motivações, um assunto bastante pertinente, afinal, como está escrito em Provérbios 21:2, o Senhor julga as nossas motivações. Por vezes agimos de maneira correta, entretanto, com a motivação errada. A maneira como lidamos com a motivação trará algumas consequências significativas em nossas vidas. Ainda que possamos descansar na realidade de servirmos a Deus, que é misericordioso, não podemos desconsiderar sua santidade e justiça, ignorando nosso pecado ou justificando o comportamento ímpio. Precisamos gastar tempo lendo e meditando nas Escrituras a fim de compreendermos os desejos que manipulam nossas tentações, como está escrito em Hebreus 4:12 “Pois a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e apta para dividir alma e espírito, juntas e medulas, e para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. A Palavra de Deus, combinada com a oração e a meditação, pode nos dar compreensão até mesmo sobre os cantinhos mais obscuros do nosso coração.

O pecado que cometemos na nossa alimentação sempre irá refletir um desejo pecaminoso  do nosso coração. Às vezes nossos hábitos alimentares refletem o desejo que há em nós de sermos livres de qualquer restrição. É o desejo de termos o que queremos quando queremos. Outras vezes, irá refletir o amor excessivo ao prazer, em detrimento da nossa saúde. O pecado sempre nos conduzirá a cometer outros pecados, e isso não é restrito apenas à forma como nos alimentamos, esses desejos pecaminosos vão vir à tona em outras áreas da nossa vida.

É sempre bom lembrar de que a natureza dos nossos desejos é que eles nunca serão preenchidos, nunca há o suficiente. Como está escrito em Eclesiastes 6:7 “Todo o esforço do homem é feito para a sua boca; contudo, o seu apetite jamais se satisfaz”. Deus, com todo o seu amor, exige que encontremos nossa satisfação somente nele. Se você é cristã há um certo tempo, pode observar que Deus, nosso pai amoroso, frustra nossas tentativas de sermos felizes sem ele. Seria ausência de amor permitir que seguíssemos nosso próprio caminho, tentando nos satisfazer à parte dele.

No capítulo seguinte, Elyse fala sobre a transformação. Temos a tendência de ignorar o fundamento de todo processo de mudança: a ação do Espírito Santo. Devemos sempre lembrar de que a nossa meta não é uma transformação exterior, mas, sermos conformadas à imagem de Cristo para a glória de Deus. 

Seguindo adiante, na parte três do livro, Elyse fala sobre a importância de termos uma perspectiva correta da comida. É fundamental compreendermos se estamos pecando no nosso modo de agir com relação à comida. Identificando, reconhecendo e nos arrependendo do pecado, bem como substituindo o comportamento pecaminoso por um piedoso. A mudança que precisamos faz parte do processo de santificação pelo qual passamos. A glutonaria é pecado, e precisamos abandoná-la, se não, podemos cair no erro de tentar conviver com este pecado, ou seja, voltaremos a praticá-lo na primeira oportunidade em que ninguém for aparentemente prejudicado por ele. No entanto, devemos pedir ao Senhor que nos faça odiar o pecado, não por nos causar algum tipo de constrangimento, mas por ser o que é: pecado. 

O capítulo oito nos direciona a pensarmos biblicamente acerca das decisões que tomaremos a respeito da nossa alimentação. Após identificarmos o pecado, precisamos nos arrepender e substituir os hábitos pecaminosos por hábitos novos e santificados. A autora apresenta 12 perguntas que servem como parâmetro para perceber se sua forma de se alimentar é pecaminosa ou não. A autora também sugere outras ferramentas de auxílio, inclusive, que seja feita uma avaliação médica e nutricional em cada caso.

No capítulo nove há um ponto interessante que trata sobre quando nós sabemos teoricamente o que deve ser feito, mas acabamos fazendo o oposto na prática. A Bíblia não faz distinção entre mente e coração. Nossos pensamentos e ações vão, na verdade, revelar o que está em nosso coração, ou seja, quando afirmamos que nossa prática de vida não está acompanhando o que conhecemos, temos um problema relacionado à obediência. Se temos o entendimento de que estamos nos alimentando de forma pecaminosa e não mudamos, isso é, na verdade, desobediência.

Para finalizar, o livro apresenta muitas informações e ferramentas para cuidarmos melhor da forma como pensamos e agimos em relação à alimentação. É um livro que sugiro para uma leitura devagar, lendo cada capítulo e acompanhando a guia para estudos que fica nas últimas páginas. Ao final, percebemos que todo o percurso da leitura nos conduz a amarmos mais a Deus, lutarmos contra o pecado, nos deleitarmos em seus mandamentos, e crescermos no processo de santificação, enquanto estivermos vivas, estamos aqui lutando para fazer escolhas que agradem ao Senhor. As questões iniciais podem parecer superficiais, se forem apenas ligadas ao nosso peso, mas trazem à tona o que há em nosso coração, e deixam claro a quem servimos e adoramos, tornam-se muito mais amplas quando vistas e tratadas sob a perspectiva bíblica. 

Elyse Fitzpatrick é autora reconhecida em vários livros sobre vida cristã e aconselhamento bíblico. É mestre em aconselhamento bíblico pelo Trinity Theological Seminary e atua como conselheira e discipuladora no Institute for Biblical Counseling and Discipleship, em San Diego, Califórnia. Ela e seu marido, Phil, têm três filhos adultos e netos.

Ana Carolina é casada com Jonatha Bongestab, mãe da Melissa, Manuela, deste lado da Eternidade, e da Aimée, que está com o Senhor. Congrega na igreja Presbiteriana de Ponta D’areia no Rio de Janeiro. É advogada por formação, mas atualmente exerce livremente seu direito de servir sua família em tempo integral, educando suas filhas em casa, ajudando seu marido, escrevendo sempre que pode, e se dedicando aos estudos sobre Educação Clássica Cristã.