Há cerca de dois anos, passei a amar a leitura em voz alta. Me tornei praticamente uma entusiasta, daquelas que fazem diariamente várias leituras em família e que incentiva e encoraja as amigas a fazerem o mesmo.
Quando conheci o livro “A família leitora” tive a impressão de que a autora era como uma amiga querida e bem mais experiente, com muitos anos de prática da leitura em voz alta, e que pode estudar sobre este assunto de forma mais aprofundada. Fiquei extremamente feliz e à vontade com a leitura deste livro.
Às vezes nos dispomos a ler um livro assim pensando friamente em absorver as técnicas e indicações da autora, no entanto, “A família leitora”, além de ser um livro muito bem estruturado e rico em conteúdo, é, também, um livro através do qual, mães com filhos de todas as idades, podem aprender e se deleitar na leitura ao mesmo tempo.
Uma das grandes questões que enfrentamos como pais, é sobre como vamos criar oportunidades para que o relacionamento com nossos filhos floresça de forma significativa e duradoura. Sarah mostra, ao longo de todo o livro, o quanto a leitura em voz alta contribui para a criação e o fortalecimento de laços profundos entre pais e filhos, bem como é uma forma de estarmos completamente presentes com eles nesses momentos de leitura compartilhada. Ela deixa bem claro sua preocupação com a hipótese de que possa se distrair nesses breves anos em que seus filhos estão sob seus cuidados, moram sob seu teto e estão próximos dela todos os dias. Diante disso, ela procurou uma forma de ter certeza de que estaria investindo em algo do qual não se arrependeria quando eles crescessem: a leitura em voz alta.
Sarah incentiva a leitura em voz alta, inclusive, para os filhos que já aprenderam a ler. Que seja um momento de deleite além das leituras que eles farão por conta própria.
“A criança até certa idade precisa de alguém para concluir por ela o árduo trabalho de decodificar o texto, traduzir o ritmo e a cadência a fim de animá-la e ajudá-la a entrar de cabeça na narrativa.
Quando fazemos o trabalho de decodificar o texto – quando lemos um livro em voz alta e descortinamos os ritmos, a cadência e a entonação correta para cada linha – nossos filhos que o estão ouvindo podem então gastar tempo com outros elementos da leitura. Eles desfrutam da história e fazem conexões. Isso é praticar a compreensão da leitura.”
Ela diz que a leitura vai moldar aspectos peculiares de cada família, reforçando os vínculos já existentes, criando uma identidade para cada lar:
“As histórias que lemos juntos servem de ponte quando parece que não conseguimos encontrar outra forma de nos unirmos. Elas são a nossa moeda de troca, nosso idioma, nossa cultura familiar. As palavras e histórias que compartilhamos são parte da nossa identidade familiar”
Nossos filhos, ao longo dos anos em que estiverem conosco, precisam ouvir histórias para praticarem experiências vicárias. Seria uma forma de fazê-los praticar enfrentamentos mesmo sem terem sido lançados no mundo ainda. Ao invés de reforçar excessivamente uma proteção, podemos oferecer-lhes muita prática através das histórias que lemos. Sarah diz que, quando lemos em voz alta, oferecemos aos nossos filhos a prática de viverem como heróis, de lidarem com si-tuações de vida ou morte, de viver com virtude.
Enfim, há muito que nós, pais, podemos ensinar aos nossos filhos. Há lições a partilhar, sabedoria e insights a oferecer antes que nossos filhos sejam lançados ao mundo por conta própria.
Queridas leitoras, ao olhar para um simples livro e para seus filhos, parece difícil acreditar que uma prática tão simples pode impactar nossos filhos de forma tão benéfica. Como Sarah diz:
“Ler em voz alta não só abre janelas, mas escancara as portas das oportunidades para muito além do âmbito da linguagem e da literatura.”
O livro é uma fonte de boas informações e ideias para pais que desejam aplicar a leitura em voz alta em suas famílias. Sarah explica os benefícios de ler para os filhos, bem como desmente al-guns mitos sobre o tema e esclarece muitas dúvidas.
Sarah também fala sobre a motivação que deve haver por trás da educação que damos aos nossos filhos, cuja finalidade não deve ser o sucesso financeiro, nem tampouco para que nossos filhos consigam melhor classificação, se comparados aos seus amigos. Nosso maior objetivo ao educar nossos filhos deve ser, de acordo com a autora: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. A educação deve direcionar nossos filhos para Deus, aguçar o deslumbramento, e deve incentivar o amor ao próximo.
Na segunda parte do livro, a autora sugere que possamos nos relacionar com nossos filhos atra-vés dos livros. Ela sugere a criação de uma cultura de “clube do livro” em nossas casas, para que os livros sejam lidos também como um deleite, e que se tornem uma ponte entre nós e nos-sos filhos. Sarah diz que o lar é o lugar onde nossos filhos têm a chance de se apaixonar pelos livros. Independente de onde eles irão se formar academicamente, nós mães podemos dar forma à atmosfera do nosso lar. Na nossa casa somos nós quem decidimos como os livros serão escolhidos, discutidos e tratados. Podemos e devemos nos apropriar dessa responsabilidade e privilégio para conduzir nossos filhos na leitura de bons livros.
Um ponto bem interessante do livro, é a maneira como ele converte o conhecimento em conse-lhos práticos. Independente da condição econômica, do nível acadêmico, da cultura familiar, uma mãe que lê o livro, pode aprender a apreciar e praticar a leitura em voz alta em sua vida real, sem idealizar. Sarah ensina desde o que devemos fazer para manter as mãos dos nossos filhos menores ocupadas enquanto lemos a como podemos facilitar a prática da leitura em voz alta para que ela se torne um hábito consolidado em nosso lar.
Na terceira e última parte, Sarah leva as leitoras a se familiarizarem com a essência da leitura em voz alta de acordo com a faixa etária e a perceberem os obstáculos que podem surgir durante a jornada. Cada capítulo contém uma lista dos livros recomendados para cada idade. Toda a ideia transmitida ao longo do livro é transformada em lições práticas nesta parte. O livro é um verdadeiro manual para as famílias que desejam compreender profundamente os benefícios da leitura em voz alta e transforma-la em um hábito consolidado em suas família.
Vale muito a leitura!
Sarah Mackenzie é escritora, palestrante e fundadora do imensamente popular podcast “Read-Aloud Revival”. Ela mora em Spokane, Washington com seu marido Andrew e seus seis filhos, e adora garantir que a família esteja abastecida com os melhores livros que puder encontrar.
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- Ana Carolina é casada com Jonatha Bongestab, mãe da Melissa, Manuela, deste lado da Eternidade, e da Aimée, que está com o Senhor.
- Congrega na igreja Presbiteriana de Ponta D’areia no Rio de Janeiro. É advogada por formação, mas atualmente exerce livremente seu direito de servir sua família em tempo integral, educando suas filhas em casa, ajudando seu marido, escrevendo sempre que pode, e se dedicando aos estudos sobre Educação Clássica Cristã.