Editora: Trinitas

Há pouco tempo formamos um clube do livro com algumas mães educadoras que são também minhas amigas queridas. Nosso objetivo é ler um livro juntas e conversarmos sobre cada capitulo dele em nossas reuniões semanais.

Esse grupo é composto por mães muito ocupadas, dentre elas, algumas grávidas (todas as grávidas com – no mínimo – mais dois filhos pequenos) e uma amiga querida que acabou de ter seu quarto filho.

Entre uma leitura e outra, entre trocas de fraldas, amamentação, conversas sobre parto e disciplina, sobre currículo e educação domiciliar, todas temos sido levadas a um ponto em comum: precisamos da paz que excede todo o entendimento em nossa mente e em nosso lar, aquela paz descrita em Filipenses 4, que vai na contramão das nossas inúmeras demandas diárias, das cobranças, da ansiedade, do desespero, do desânimo, da sobrecarga física e mental. 

Escolhemos ler o livro “Ensinando com serenidade – Um guia para paz inabalável às famílias educadoras”, da Sarah Mackenzie. Ouso dizer que não havia outra escolha mais sensata a fazer diante da nossa realidade tão propensa à ausência desta paz.

Sarah não nos conhece, claro, mas a consideramos como uma espécie de amiga mais experiente que nos transmite uma série de conselhos uteis em seus livros. Sua forma de escrever e de falar sobre questões tão comuns às mães educadoras, sempre sob um ponto de vista cristão e encorajador, nos ajuda a identificar problemas e procurar solucioná-los à luz da Palavra e de forma bem prática.

                Olhar para dentro de nós pode ser um tanto quanto assustador. Como mães educadoras, nós nos preocupamos muito, sabemos, que, de fato, não somos suficientes. Temos a sensação de que somos pequenas e insignificantes, e, veja bem: é isso que somos. Será que temos confiado no Senhor o suficiente para vencermos a tsunami de preocupações que diariamente assolam nossa mente? Sobre este assunto, Sarah diz:

“Deus não nos chama à obra de moldar o coração e a mente dos nossos filhos, e, logo em seguida, se vira e dá atenção a questões mais importantes. Ele promete permanecer conosco, nos guiar, nos carregar, nos sustentar.”

Sarah alerta cada leitora para o fato de que a finalidade principal na educação dos nossos filhos não deve ser simplesmente o sucesso, aliás, o sucesso em si está fora de questão. Devemos enxergar nossas atribuições como mães educadoras de forma mais ampla. Quando nos dispomos a educar nossos filhos, nosso maior objetivo é a gloria de Deus, ou seja, é fidelidade que o Senhor requer de nós.

Sabemos que o dever de criar e ensinar nossos filhos nunca acaba. Precisamos aprender a descansar enquanto trabalhamos nesta nobre tarefa. Esse descanso do qual Sarah fala, tem a ver com aceitação, humildade e entrega. Jamais descansaremos verdadeiramente em Deus até que acreditemos que ele realmente cuidará de nós. 

Vemos no primeiro capítulo que descansar não está ligado à preguiça ou ociosidade. Pelo contrário, fundamentar-se na serenidade requer diligência, atenção e muito esforço. Ensinar com serenidade é um grande aprendizado, sem, contudo, ficarmos entregues à ansiedade e loucura tão comuns em nossos dias. Descansar é confiar que Deus cuida de nós, apesar de nós, apesar das nossas fraquezas e limitações. O descanso é a virtude entre a negligência e a ansiedade, apesar da nossa tendência ser tornarmo-nos vítimas de um ou outro extremo. Quando somos fracas na virtude, nossa tendência é avançar em direção ao vício.

Sarah também nos leva a uma boa reflexão através do seguinte questionamento: pelo bem de quem estamos nos esforçando?

Todo o empenho na educação dos nossos filhos – assim como tudo o que fazemos – deve ser voltado para glorificar a Deus. O que está nas nossas listas de coisas essenciais pode não impressionar o Estado ou as pessoas que nos conhecem, mas quando focamos em glorificar a Deus através da maneira que educamos nossos filhos, boa parte da ansiedade que advém do nosso desejo errado de querer agradar as pessoas, acaba sendo eliminada. 

Outro assunto importante e bem lembrado no livro, é a oração. Partindo do pressuposto de que somos insuficientes e necessitadas da graça de Deus, e nosso objetivo é glorificá-lo, devemos tornar a oração o ponto de partida do nosso dia, e, até mesmo, dos momentos em que ensinamos nossos filhos. Sarah nos lembra da natureza eterna que o ensino domiciliar nos apresenta, ainda que ordinário ou comum. Devemos estar sensíveis para reconhecer todos os pequenos momentos ao longo do nosso dia, como o que, de fato, eles representam: o plantio de sementes que darão frutos em sua estação.

Uma tentação comum à qual as mães educadoras ficam muito suscetíveis é o excesso de materiais, ou gastar tempo demais pensando no currículo. Devemos enxergar o currículo, não como um produto que compramos, mas como o conteúdo que ensinamos. Obviamente que precisamos de um bom currículo e de materiais impressos, no entanto, não devemos servi-los, viver em função deles, mas eles devem nos servir. Devemos sempre avaliar nosso currículo para simplificá-lo e assim diminuir nossa carga.

Não devemos enxergar a educação domiciliar ou o currículo que adotamos como um fim e si mesmo. Agir assim, simplesmente irá anular a paz que tanto precisamos. É essencial estarmos atentas à forma como ensinamos, à nossa mentalidade, tanto quanto ao conteúdo que decidimos ensinar. O problema surge quando valorizamos mais nossos cronogramas e os colocamos acima dos filhos que Deus nos confiou, e, até mesmo acima do Deus a quem pertencemos. Como Calvino afirmou “O coração humano é uma fábrica de ídolos”. Podemos criar ídolos até mesmo em atividades lícitas que fazemos, como, educar nossos filhos. Precisamos sondar nosso coração sempre, gastarmos tempo lendo as Escrituras e orando, cultivando amizades que nos ajudem a enxergar quando corremos perigo, nos inclinando para algum tipo de idolatria. 

Sarah também trata sobre a parte que nos cabe no processo de ensinar com serenidade: um bom planejamento do uso da nossa porção diária de 24 horas. Precisamos ser realistas com relação ao tempo que dispomos, e devemos trabalhar com prudência, sempre mantendo o que ela chama de “margens de segurança”, ou seja, um tempo entre o descanso e a exaustão, entre respirar livremente e sufocar. Precisamos estar preparadas para situações inesperadas, portanto, manter margens de tempo livre na nossa agenda diária é bem importante. Sarah também sugere um calendário cíclico, no qual os assuntos são vistos e revistos em pequenos ciclos e também oferece alternativas bem interessantes para as mães que têm bebês mais novos e precisam estudar com os filhos mais velhos. Sobre o tempo, Sarah diz:

                “A melhor forma de combater a frustração e a angústia diante do calendário é, simplesmente, reconhecer que, para começo de conversa, o tempo que você usa não lhe pertence – todo o tempo pertence a Deus. Podemos estar presas às limitações do relógio, mas o Deus do universo não está. Entregar ao Senhor nossos dias e minutos redunda em frutos que jamais colheríamos se estivéssemos por nossa própria conta e risco”. 

 Ao lermos o livro, somos confrontadas com a uma ideia de eficiência que segue na contramão do que vivenciamos ao educar nossos filhos em casa, visto que ser eficiente é atingir a máxima produtividade com o menor desperdício de esforço ou custo. Entretanto, relacionamentos não florescem dessa forma. Relacionamentos necessitam de tempo usado com sabedoria. Devemos nos lembrar que a educação domiciliar lida com relacionamentos, e estes não são avaliados pelo crivo da eficiência. Somos lembradas pela autora de que nossas crianças não são projetos a serem gerenciados, mas almas a serem cultivadas. 

Praticar o ensino domiciliar é prestar atenção a pequenos momentos e vivê-los com fidelidade.

O segredo está na junção desses pequenos momentos vividos diariamente ao lado dos nossos filhos, educando, instruindo, direcionando. Imaginem esses inúmeros momentos vividos ao lado deles com ansiedade, excesso de preocupação, desespero? Não devemos dar atenção somente ao que ensinamos, mas precisamos estar atentas a como ensinamos. Nossas atitudes também ensinam, ainda que não sejam expressas por meio de palavras. Pensem no impacto que isso causará na vida deles! Ao passo que, se vivermos esses pequenos momentos diários com fidelidade ao Senhor, sondando nosso coração, permeando nossos dias com oração, aprendendo a descansar e confiar em Deus, poderemos ampliar muito o alcance da educação que oferecemos aos nossos filhos. 

Sarah Mackenzie. É escritora, palestrante e fundadora do imensamente popular podcast Read-Aloud Revival. Ela mora em Spokane, Washington, com seu marido Andrew e seus seis filhos, e adora garantir que a família esteja abastecida com os melhores livros que puder encontrar. 

Ana Carolina é casada com Jonatha Bongestab, mãe da Melissa, Manuela, deste lado da Eternidade, e da Aimée, que está com o Senhor.
Congrega na igreja Presbiteriana de Ponta D’areia no Rio de Janeiro. É advogada por formação, mas atualmente exerce livremente seu direito de servir sua família em tempo integral, educando suas filhas em casa, ajudando seu marido, escrevendo sempre que pode, e se dedicando aos estudos sobre Educação Clássica Cristã.