Vislumbres da Graça em todo lugar
Se a Palavra de Deus é para pessoas comuns, que realizam coisas comuns, então com certeza as Escrituras falam sobre como podemos exaltar a Deus na vida cotidiana. E se atividades triviais, como lavar a louça ou trocar fraldas, podem ser realizadas com o objetivo de desfrutar do Senhor, então a vitalidade espiritual que iremos experimentar em nosso lar não é nada menos que miraculosa.
A oportunidade de crescimento em santidade está diante dos seus olhos – em cima da louça por guardar, apodrecendo no cesto de roupa suja, na sua mesa de jantar bagunçada e debaixo da cadeirinha do carro onde o seu filho pequeno escondeu o resto da barra de cereal para comer depois. De fato, o mofo já deve estar crescendo por lá, mas também são nesses momentos que o crescimento em santidade acontece.
De onde estamos, podemos ver vislumbres da graça à medida que aprendemos a aplicar passagens como Colossenses 3:1–3, que diz: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”.
Poderosamente, Deus leva a bom termo o nosso ministério e as nossas obras realizadas pela fé (2 Tessalonicenses. 1:11). Então, aquela milésima fralda suja, quando vista à luz da esperança e das promessas presentes na palavra de Deus, pode ser um meio significativo para o trabalho transformador de Deus em sua vida.
A Cruz, a Coroa, e a “Mulher de Tito 2”
Vamos olhar para Tito 2 como um exemplo. Tito 2 contém uma lista prática e detalhada de instruções das qualidades que as mulheres piedosas devem possuir e das coisas que elas devem fazer. As mulheres devem ser sérias em seu proceder, não caluniadoras e não escravizadas a muito vinho (Tito 2:3). As mulheres devem ser sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas e sujeitas ao marido (Tito 2:5). As mulheres devem ensinar aquilo que é bom (isto é, a “sã doutrina”, Tito 2:1), a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos (Tito 2:4).
Tito 2 contém não apenas uma lista de coisas que você poderia escrever num lembrete e colar no espelho do banheiro. Tito 2 também nos oferece a motivação para realizarmos essas coisas, “para que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2:5) e “a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tito 2:10). A motivação não pode ser escrita em um lembrete – ela deve ser escrita em seu coração.
Como a motivação de adornar o Evangelho de Deus pode ser escrita em nossos corações? Nossos corações precisam ser transformados por Cristo. O verso 11 diz: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2:11). Paulo acrescenta no verso 12 que essa graça está “educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tito 2:12).
A motivação do Evangelho é apresentada com a promessa de uma esperança futura. Enquanto realizamos essas tarefas, estamos “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”. (Tito 2:13–14).
É aí que entra a fé e a coisa fica séria. Quando eu olho para a cruz e vejo que Deus não poupou seu próprio filho por mim (Romanos 8:32) e quando olho adiante para a promessa da glória futura (Tito 2:13), Deus me dá a capacidade de graciosamente pegar e lavar o copo que meu marido esqueceu, e não ser tomada pela raiva e atacá-lo com minhas palavras.
Um erro não justifica o outro
Eu posso imaginar o que você está pensando neste momento, porque eu estou pensando a mesma coisa. Eu acredito nas verdades aqui expostas, mas existem muitas coisas jogando contra mim. Eu não consigo manter essas ideias em minha mente tempo suficiente para meditar nelas. Já posso ouvir os barulhinhos do bebê no quarto ao lado vindos pela babá eletrônica. Não consigo aplicar essas verdades com consistência. E se não for apenas um copo sujo, mas uma casa inteira por onde parece ter passado um furacão? O que fazer então?
A oportunidade de crescer em santidade está diante de seus olhos.
Eu preciso ter o meu coração transformado.
Se você for como eu, então deve estar pronta para desistir neste exato momento. Isso é tão tentador para mim! Eu reconheço que o padrão da santidade é elevado, mas eu sei que não posso alcançá-lo. Neste caso, eu posso apenas lavar a louça, murmurando em meu interior e fazendo comentários sarcásticos sobre “quantas vezes eu já te falei”, na esperança de culpar o meu marido e forçá-lo a fazer uma confissão sincera sobre como ele está errado e eu estou certa (A propósito, esta estratégia já funcionou alguma vez?).
Ou eu poderia abordar este cenário de uma maneira diferente. Sei que a Bíblia diz para fazermos tudo sem murmurações e para nos apegarmos ao Evangelho (Filipenses 2:14) e eu quero fazer o que é certo. Deus nos ensina como amarmos uns aos outros (1 Tessalonicenses 4:9). Quero honrar a Deus em tudo que eu faço, assim como 1 Coríntios 10:31 diz que eu deveria fazer. Eu chego à conclusão de que preciso tentar mais. Então colo um lembrete com o versículo de Filipenses 2:14 na janela acima da minha pia para que eu me lembre de não pecar. Lavo a louça e seguro a minha língua enquanto meu marido passa pela cozinha. Desta forma, eu consegui evitar fazer comentários que poderiam machucá-lo e bater os pratos para chamar atenção, a fim de ganhar um possível pedido de desculpas. Muito bem, Gloria, você conseguiu. Eu me parabenizo por um trabalho bem feito. Minha vaidade, no entanto, mostra que eu tenho um outro problema: justiça própria. A paciência que eu demonstrei na cozinha não era um fruto do Espírito, aparentemente. Estava enraizada no meu orgulho pecaminoso. No final do dia eu estou mergulhada em justiça própria, nadando em orgulho ou me afundando na culpa de que eu poderia ter feito um trabalho melhor.
A louça suja não é o maior problema da minha vida, muito embora pareça ser quando ela está empilhada até o teto e eu tenho milhões de outras coisas para fazer. O maior problema da minha vida, e da sua, é o pecado. Como eu posso estar diante de um Deus que faz todas as coisas de acordo com o seu caráter, um caráter justo e perfeito (2 Tessalonicenses 1:6)?
Jesus: A única esperança da dona de casa
Então, o que podemos fazer? Certamente não podemos viver nossas vidas sem regras, criticando as pessoas para que possamos nos sentir melhores. E, claramente, não podemos pegar nossa autodeterminação e força de vontade para “fazer a coisa certa”. Eu simplesmente não posso. Ao escolher qualquer uma dessas opções, eu não agradarei a Deus.
Ainda bem que existe uma pessoa que o agradou. Jesus fez tudo sem murmurar, inclusive morrer na cruz em meu lugar, tomando sobre si os meus pecados. Jesus é o exemplo maior de um homem que vive em sincera submissão a Deus Pai. A Bíblia ensina que Jesus não é apenas o meu exemplo, mas também o meu Salvador. Sua morte expiatória fez justamente isso: ele expiou (pagou pelos) meus pecados. Mas Ele não permaneceu morto. Jesus é aquele que diz: “estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno”. (Apocalipse 1:18). Quando eu me apego a Jesus pela fé como minha única esperança para agradar a Deus, o Senhor me declara justo. A justiça de Cristo se torna minha. Isso é graça.
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Gloria Furman (Mestre em Educação Cristã, Dallas Theological Seminary) mora no Oriente Médio, onde seu esposo, Dave, serve como pastor da Redeemer Church em Dubai. Ela é autora de muitos livros, incluindo “Labor with Hope” (sem tradução para o português); “Sem Tempo Para Deus. Intimidade com Cristo Para Mães Atarefadas”; e “Vislumbres da Graça. Valorizando o Evangelho na Rotina do Lar”.
Traduzido por: Carol Santos|Revisão : Rebeca Martins Di Primo
Esse artigo foi adaptado do livro “Vislumbres da Graça. Valorizando o Evangelho na Rotina do Lar”