[Continuação]

2 . Ajudando nossos filhos a se expressarem de acordo com a vontade de Deus

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A fase da adolescência é complicada não porque os filhos são naturalmente rebeldes, mas porque é nessa idade que eles sentem necessidade de se expressar, dar sua opinião, ser ouvidos e compreendidos. Muitos adolescentes lidam com a dificuldade de se expressar porque, de forma geral, não têm sido ensinados a fazer isso de maneira correta. Não se trata apenas de dizer o que se está sentindo ou falar o que vem na cabeça, mas sim de pensar, depurar e provar os próprios pensamentos e a intenção por trás deles. Trata-se de “levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10.5).

Não podemos esperar que nossos filhos, sem nenhuma instrução, do dia para noite

(porque parece que eles deixam de ser crianças do dia para noite), saibam expressar exatamente o que se passa no coração e na cabeça deles com sabedoria e ponderação. Precisamos “arrancar” isso deles, precisamos perguntar, guiar e direcionar com perguntas e muito interesse para que eles não apenas se sintam confortáveis para conversar, mas também saibam como se expressar e como provar os próprios pensamentos de forma a trazê-los à obediência do Senhor.

A impulsividade natural resultante da imaturidade pode levar nossos filhos adolescentes a concordar com ideias que, em sua superfície, parecem boas. Da mesma forma, essa impulsividade, que também tem ligação com a imaturidade, pode levá-los a dizer coisas sem pensar em seus desdobramentos. Cabe aos pais orientá-los na busca pela verdade através de questionamento contínuo. Nessa idade, dizer o que fazer funciona até certo ponto porque entende-se que eles irão nos obedecer mesmo que não compreendam totalmente nossas razões. No entanto, para que nossos filhos cresçam e se tornem adultos que usam sua cosmovisão cristã para enxergar o mundo e desenvolver suas ideias e opiniões, precisamos fazer com que eles compreendam os porquês.

Quando nosso filho adolescente faz uma afirmação a respeito de um assunto, a primeira pergunta que devemos fazer é: “por que você está dizendo isso?” A segunda pergunta deve ser: “baseado em quê você está dizendo isso?” Essas duas perguntas já serão suficientes para fazê-los pensar a respeito da motivação por trás da afirmação e, também, da profundidade de seu conhecimento. Em casa, nós temos uma regra que instituímos depois de começarmos a participar de um clube de debate com nossa filha do meio: você só pode afirmar alguma coisa se souber a razão por trás dessa afirmação. Dessa forma, evitamos julgamentos precipitados, superficialidade nas conversas e leviandade na maneira como abordamos diversos assuntos. Além disso, claro, devemos sempre perguntar como aquela ideia/argumento/pensamento nos aproximam do Senhor e como essas coisas apontam para Ele.

Se na primeira infância nossas conversas com nossos pequenos têm tom mais informativo, na adolescência a abordagem deve ser mais dialética, ponderativa. Isso não significa que não devemos mais dar as informações para nossos filhos, mas eles serão mais beneficiados e amadurecerão mais se os ensinarmos a buscar a informação, ponderar a respeito dela, questioná-la e prová-la. Na adolescência, eles precisam começar a compreender os desdobramentos de serem negligentes no falar e no pensar, eles precisam reconhecer que eles

não sabem tudo e que o aprendizado é um exercício constante que glorifica ao Senhor porque precisamos estar prontos “para responder a todo aquele que nos pedir razão da esperança que há em nós” (1 Pedro 3.15). Isso significa saber por que pensamos o que pensamos. Nossa fé não é apenas parte da nossa vida, ela é a nossa vida.

Esse trabalho de questionar e ponderar demanda tempo, paciência e, novamente, intencionalidade. Se nossos filhos souberem que tudo o que eles pensam e dizem tem repercussões eternas, eles não serão negligentes com sua cosmovisão e serão minuciosos na maneira de abordar um assunto ou uma ideia e, também, na tomada de decisões. Além disso, eles buscarão a resposta para seus dilemas não somente para trazer satisfação pessoal, mas principalmente para glorificar ao nome do Senhor através de cada detalhe de sua vida.

À medida que amadurecem e se tornam jovens, como consequência dessa interação de confiança com os pais, nossos filhos aprendem, também, a buscar conselho conosco. Mesmo quando sabem o que é certo, eles acabam nos procurando porque sabem que o ato de discutir e processar as informações vai ajudá-los na tomada de decisão, vai ajuda-los, talvez, a enxergar o assunto sob uma perspectiva diferente e isso se aplica a todas as áreas da vida deles, não somente que carreira seguir, mas também em relação aos relacionamentos de amizade e casamento. Não precisaremos dizer com quem eles podem ou não andar porque eles saberão o tipo de relacionamento que agrada e glorifica o Senhor. Eles saberão que nosso pecado é o suficiente para nos derrubar e que não precisamos de pessoas em nossa vida para instigar a nossa natureza pecaminosa.

Para finalizar esse ponto, preciso destacar a importância do conhecimento dos pais em relação aos relacionamentos dos filhos adolescentes. Vivemos numa época em que a tecnologia está presente na vida da maioria dos adolescentes e jovens e eu não sei quantas vezes ouvi pais de adolescentes defendendo o direito deles à privacidade. Eu acredito que, à medida que o tempo passa, eles conquistam o direito a alguma privacidade, mas não podemos cair no equívoco de achar que nossos filhos estão isentos de pecar ou que saberão lidar com toda e qualquer situação que se apresente através de suas mídias sociais, mensagens de texto e e-mails, mesmo que sejam bons filhos. Nos dias atuais, os adolescentes têm sofrido com ansiedade e depressão muito mais do que eu me lembro de ter visto na minha época de adolescência. Vários estudos mostram que as mídias sociais têm influenciado diretamente na maneira como os adolescentes veem o mundo e se veem e, infelizmente, os pais nunca irão

lidar com isso, já que, em vez de procurarem ajuda com os pais, adolescentes tendem a procurar outros amigos, outros adolescentes que não têm a menor condição de ajudá-los e, muito menos, maturidade para lidar com o peso emocional e a responsabilidade de lidar com problemas alheios.

Como pais, temos obrigação de manter uma comunicação aberta com nossos filhos, mas também precisamos criar limites para que eles se sintam protegidos e amados. Quando limitamos a privacidade de nossos filhos, criamos automaticamente uma linha que eles não podem cruzar, um limite que não deve ser ultrapassado e, como consequência, oferecemos um ambiente seguro para que eles se desenvolvam, cresçam diante do Senhor e saibam onde buscar ajuda quando necessário.

Adolescentes que são criados nos caminhos do Senhor reconhecem o valor da disciplina, dos limites e da repreensão. Não quero, aqui, afirmar que eles sempre concordarão com o que dissermos, com os limites que impusermos, ou mesmo com a maneira de lidarmos com determinadas situações, mas que eles se submeterão à autoridade que temos como pais porque reconhecem que isso prolongará os seus dias (Êx 20.12) e será canal de bênção para a vida deles. Nosso relacionamento com nossos filhos não é um contrato entre partes iguais e eles precisam saber disso, pois disso depende sua obediência e respeito.

Sinto muita tristeza quando vejo pais dizendo que “agora é tarde,” referindo-se aos filhos que não os ouvem, não os obedecem. Nunca é tarde! O Espírito Santo pode restaurar qualquer relacionamento, transformar qualquer coração e, tão importante quanto tudo isso, nossa autoridade sobre os filhos foi dada por Deus e independe da aceitação deles. No próximo ponto, quero sugerir como restaurar esse relacionamento.

[Continua]

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Casada com Charles, mãe homescholler de Pedro (21) , Laura (16) e Davi (12), representante de área para o Classical Conversations em Westchester, NY, esposa de pastor, membro da Westchester Orthodox Presbyterian Church, tutora do programa Challenge A do CC, coach de debate e discurso para adolescentes e líder do Clube de Debate “The Murphy’s Law”.