A tendência dos nossos dias é de sempre pensar em relacionamentos a partir de uma visão subjetiva e sentimental. Entretanto, creio que uma decisão tão importante quanto o casamento deve se basear também (e em grande parte) em questões objetivas.

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Sendo assim, gostaria de propor um guia prático de pontos a serem avaliados antes ou durante o namoro, de maneira independente a sentimentos.

Invista tempo do seu relacionamento em conversas que desenvolvam a amizade, a santificação, a piedade, e o conhecimento do Senhor e um do outro, pois estas coisas durarão para sempre. Dividirei a meditação destas questões com base nos dois grandes mandamentos: o amor a Deus e o amor ao próximo.

 

Questões relacionadas a Deus:

  • Culto doméstico e vida devocional;
  • Envolvimento na igreja;
  • Uso do tempo;
  • O que ele cultiva em você;
  • Ministério pastoral;

Questões relacionadas ao próximo:

  • Número de filhos e educação destes;
  • Cuidados com os progenitores no presente e no futuro;
  • Metas profissionais;
  • Amizade com sexo oposto e amizades seculares;
  • Beleza física;
  • Aspecto financeiro;
  • Objetivos pessoais;
  • Recursos necessários para casar;
  • Hábitos e vícios;
  • Relação no trabalho;
  • Relação dele com seus pais;
  • Características pessoais;
  • Como ele conduz o relacionamento.

Questões relacionadas a Deus

A vida cristã é o principal a ser observado. O casamento, como diz Efésios, é a representação do relacionamento entre Cristo e Sua Igreja, é uma doce forma de testemunhar o Evangelho àqueles que não conhecem o Senhor. Sendo assim, as questões que envolvem a vida cristã do seu namorado devem ser avaliadas meticulosamente. Não desconsidere qualquer sinal de impiedade. Assim como nem todos de Israel eram, de fato, israelitas, nem todos os participantes da igreja realmente participam do Corpo de Cristo.

Culto doméstico e vida devocional

Seu pretendente tem momentos devocionais? Ele preza por seus momentos devocionais e os incentiva? Ele medita e pratica a lei do Senhor? Você pode ver arrependimento, mudança e crescimento espiritual na vida dele? O que ele pensa sobre culto doméstico? Ele faz, conhece ou planeja fazer ao casarem-se? Sua relação com Deus afeta diretamente sua relação com as pessoas.

Objetivos pessoais, metas profissionais e chamado pastoral

Quais são os objetivos dele? São os mesmos que os seus? Filhos estão incluídos? Quais “conquistas” ele acha necessárias antes de casar ou mesmo de ter filhos? Carro, apartamento, viagens? Talvez vocês não concordem em alguns objetivos, mas precisam chegar a um consenso. E se o Senhor o chamar ao ministério pastoral, ao serviço da igreja? Você estará disposta? Está disposta à vulnerabilidade, instabilidade, sofrimento, críticas, privação, mas glória da parte do Senhor e não dos homens? Reflita: se ele for chamado ao ministério, que glória será ter um homem qualificado por Deus ao seu lado!

Envolvimento na igreja e o que ele cultiva em você

Como ele vive a vida de igreja? É indiferente ou participativo? Ele respeita as autoridades constituídas ou é o famoso encrenqueiro, caluniador e inconveniente? Ele é frequente nas atividades da igreja no domingo (culto e escola dominical)? Ou é aquele tipo de pessoa que qualquer motivo é válido para não ir à casa do Senhor no Dia do Senhor? Abra seus olhos! Ele deve amar a igreja, viver a vida da igreja, pois ela é o meio instituído por Deus para a santificação mútua, alegria, comunhão e crescimento.

Ele cultiva sua fé em Cristo ou sua lascívia? Lembre-se que cada um de nós deve possuir seu corpo e mente em santificação e honra (1Ts 4.4). Você deve se guardar para o seu marido. E por mais que já tenha certeza de que o seu namorado será o seu marido, ainda assim você deve tomar cuidado com isso, pois o padrão de Deus é que a entrega total de mente, coração e corpo seja única e exclusivamente após o casamento. Portanto, aguarde o devido tempo. Não se precipite, pois o Senhor não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação (1Ts 4.7).

Questões relacionadas ao próximo

Abordei aqui observações que considero importantes na relação dele com você, com os pais e amizades. São questões secundárias, mas que também têm sua importância. Quando amamos a Deus acima das outras pessoas e coisas e obedecemos aos Seus mandamentos, amar ao próximo de forma correta é a tendência natural. Certamente temos dificuldades em tratar nosso próximo como o Senhor requer, mas temos a graça de podermos nos achegar a Deus e pedir sua ajuda, e conhecer o que Ele requer de nós em Sua vontade revelada, a Palavra. Assim, às vezes, algumas dificuldades que temos nestes aspectos podem ser dirimidas com conversas sinceras e amorosas, e para isso devemos pedir discernimento ao Senhor para tomarmos decisões acertadas ao avaliarmos tais questões.

Obs.: Os pontos abordados abaixo não estão necessariamente em ordem de prioridade.

Número de filhos e educação destes

Este é um ponto importantíssimo, afinal é uma das finalidades do casamento. Você e seu namorado precisam considerar quantos filhos desejam ter. É claro que não precisam definir um número exato, mas é importante que cheguem a um consenso. Se isso não for falado ou tratado antes de casarem, pode se tornar um problema sério no futuro. Imagine o caso de um de vocês desejar ter filhos (e muitos) enquanto o outro acha que filhos são desnecessários e não quer ter nenhum? Estes pontos discordantes devem ser analisados no namoro com o objetivo de chegar a um consenso à luz da Palavra de Deus. Como vocês pretendem educar as crianças? A educação dos filhos também deve ser discutida porque há muitas famílias que não aplicam ou desconhecem o uso bíblico da disciplina, por exemplo. Há bons livros que podem auxiliar no estudo do casal sobre este assunto e principalmente o livro de Provérbios com suas instruções práticas. Estes assuntos são mais delicados e devem ser tratados com cautela e discernimento. Se necessário, recorra ao seu pastor e/ou a casais mais velhos que possam orientá-los.

Cuidados com os progenitores no presente e no futuro

É importante observar o cuidado dele com os pais. Se há respeito e honra e como ele os trata. É verdadeiro e muito sábio o seguinte ditado: “bom filho é bom marido”. Ele pode até tratá-la bem, mesmo não honrando os pais, mas provavelmente essa doçura será temporária (para não dizer interesseira). Observe como ele ajuda a mãe nos cuidados domésticos, se com coração disposto e obediente ou um coração rancoroso e murmurador, pois será assim que ele viverá a vida comum do lar (1Pe. 3.7). Lembre-se também que você e ele precisam ter bom relacionamento com ambos os pais, ao menos respeitoso e honroso em obediência. O futuro pode guardar a necessidade do cuidado pessoal dos seus pais ou dos dele na velhice. Vocês estão dispostos? Avalie sinceramente. Por outro lado, ele deve estar disposto a colocá-la acima dos pais dele em importância quando se casarem. Isso é vital para um relacionamento saudável.

Amizades

Considere meticulosamente as amizades dele. Como ele se relaciona com outras moças? Qual o nível de intimidade entre eles? Como ele se relaciona com os amigos cristãos e não cristãos? Ele possui mais amigos crentes ou incrédulos? Quais as influências que os amigos exercem sobre ele? Os amigos conhecem a fé dele? Qual o testemunho que ele dá? Observe com cautela seu proceder em relação a estas perguntas.

Beleza física

Qual a importância que ele dá a sua beleza física? Se é o principal atributo que ele honra, tome cuidado. O que ele mais valorizar vai evidenciar do que o coração dele está cheio. Certa vez tive um relacionamento em que havia uma enorme preocupação por parte do rapaz em meu ganho de peso. Ele se esforçava e exigia de mim esforço para ganhar peso para que pudéssemos casar, como uma condição. Meu espírito alegre se tornou pesado e atribulado por coisas que não tinham sequer a ver com saúde física, mas tão somente com aparência.

O marido deve ser ganho pelo espírito manso e tranquilo, o homem interior e não o seu adorno externo (1Pe 3.3). É claro que devemos nos cuidar, mas isso não deve ocupar o maior espaço do nosso coração e nem nossas energias. Os anos virão, os filhos, a velhice. Podem acontecer acidentes terríveis que tragarão sua beleza física. Não pense que plásticas e tratamentos estéticos assegurarão um coração fiel do seu marido, somente Cristo.

Recursos necessários para casar e Aspecto financeiro

O que ele considera ter ou fazer antes do casamento? É necessário ter dinheiro para uma festa de arromba? John Piper, falando sobre isso, disse algo que me marcou muito: gastamos mais tempo planejando uma cerimônia de 30 minutos ao invés de uma vida de 30 anos. Isso me fez pensar bastante na época em que eu estava perto de me casar e me ajudou a desenvolver um coração contente com relação ao que eu poderia ou não ter.

Quais são as necessidades que vocês colocam para poderem se unir? É necessário ter um carro? Um apartamento? Você concorda com a lista de “necessidades”? Ou é você que a tem e não quer sujeitar-se a um início de vida modesto? Uma grande poupança é realmente necessária? Você e ele confiam em Deus ou no trabalho dos seus braços?

Por outro lado, não podem ser imprudentes no uso dos recursos que Deus lhes deu e devem ser diligentes e responsáveis no trabalho, o meio ordinário de Deus prover o sustento. Avaliem que recursos são fundamentais para vocês, cheguem a um acordo e sondem as motivações. Estas coisas têm um caráter bem subjetivo e pessoal, então cabe a vocês dois analisar cada motivação, e se há ou não pecado. Talvez o que eu considerava necessário, você não considere.

Características pessoais e como ele conduz o relacionamento

Diante das características que você observa nele, está disposta a ser por ele liderada? Ele exerce sobre você uma condução amorosa ou ríspida? Se ele for grosseiro e ignorante, não pense que o casamento o mudará. O seu amor não o pode mudar – só Cristo! Você precisa diferenciar as características, os pecados e as falhas de caráter. Precisa analisar se está realmente disposta. E se ele não tem iniciativa? Não pense que Deus vai abençoar o que ele não ordenou. Quais são os hábitos dele? Ele possui algum vício? Analise quais características você gosta e não gosta nele. Acredita que poderá conviver bem com estas últimas? Abra bem os olhos enquanto namora, porque depois do casamento precisará fechá-los.

Cuidado para não se deixar levar pelos sentimentos, pois muitas vezes, por estarmos emocionalmente envolvidas, achamos que podemos passar por cima de algumas coisas. Tente pensar de forma independente disso: Se fosse outra pessoa querendo se casar com você e tivesse essas falhas, vícios ou pecados, você realmente passaria por cima? Ou seria mais criteriosa? Imagine que você esteja ajudando uma irmã a escolher um bom marido. Ainda assim passaria por cima dessas coisas? Pense nisso.

Relação dele com os futuros sogros

Ele ama os seus pais, ou apenas os critica duramente? Ele reconhece os erros e acertos dos seus pais com amor? Ele honra aos seus pais respeitosamente? Em secreto, vocês juntamente criticam maliciosamente os pais dele e os seus? Há aqui uma grande cilada: dê ao seu namorado todos os pontos fracos de seus pais, bem como suas falhas mais íntimas e alimentará dentro dele um grande desprezo pelos seus futuros sogros. Ele, diferentemente de você, não saberá lidar com os erros de seus pais, pois você os ama, ele não. Então seja sábia e encubra suas faltas em amor (Pv 17.9). Conheço casais, que após casarem, o marido proibiu o contato familiar da esposa, que obviamente, sofreu muito. Então seja sábia ao repassar o dia a dia da sua família. Ele ainda não faz parte dela e nem você da família dele, por isso tome muito cuidado.

Outra coisa importante é que ele precisa ter sabedoria e prudência em discordar dos pais dele e dos seus, pois talvez no futuro haja alguma situação que necessite confronto, e esta deve ser conduzida amorosamente, sem rancor. Ele precisa respeitar as ordens e limites dos seus pais enquanto namoram. Nesse período, você é submissa ao seu pai. Seu namorado ainda não pode exigir sua submissão a ele. Não se esqueça também de que, se seu namorado vier a ser o seu marido, você deverá ser sujeita ao seu próprio marido (Ef. 5.22). Então, a partir do casamento, seu pai se tornará seu conselheiro, não mais seu guia e líder.

Minhas queridas irmãs, escrevo este texto com o sincero desejo de ajudá-las. Muitas vezes não conseguimos sintetizar nossas ideias, ou os conselhos que ouvimos, sendo assim, decidi organizar algumas reflexões neste texto com o intuito de torná-lo um breve guia. Algumas coisas passam despercebidas aos nossos olhos, como o exemplo pessoal que citei. Desta forma, creio que estas questões práticas podem nos ajudar muito. Se utilize dos meios de graça, da oração. Busque a orientação do Senhor. O Espírito Santo certamente agirá através de sua consciência. Aconselhe-se com mulheres mais velhas conforme nos ensina Tito 2. Faça bom uso dos recursos que o Senhor te deu. Ore para que você seja uma boa esposa, por seu namorado e ore com ele também. Muito pode por sua eficácia a súplica do justo (Tg 5.16).

Conversas francas e amorosas podem resolver muitas questões que parecem sem solução. A palavra dura suscita a ira, mas a branda desvia o furor e a doçura no falar aumenta o saber (Pv 15.1 e Pv 16.21). Gostaria de recomendar alguns livros que me ajudaram muito e tratam desse assunto de modo geral ou específico:

  • “Relacionamentos, uma confusão que vale a pena” – Paul Tripp
  • “O que ele deve ser se quiser casar com minha filha” – Voddie Baucham
  • “Família guiada pela fé” – Voddie Baucham
  • “Quando Pecadores Dizem Sim” – Dave Harvey
  • “Reformando o casamento” – Douglas Wilson
  • “Sua filha em casamento” – Douglas Wilson

Que nosso bom Deus possa guiá-las e, com auxílio deste texto, dirija e ilumine sua mente e seu coração de forma consciente e objetiva para uma decisão que agrade ao Senhor. E que “seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração” (Cl 3.15).

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Larissa Quaresma é casada com Israel Quaresma e juntos eles têm uma filha : Elisa. Casados há 3 anos, eles moram em Belo Horizonte e congregam na Igreja Presbiteriana Peregrinos.