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Publicado pela editora Cultura Cristã, Guerra de Palavras é uma obra transformadora. Ao ler esse título, a primeira impressão que tive foi de que se tratava de um livro sobre os problemas da nossa comunicação enquanto cristãos e sobre como utilizar as palavras de maneira correta e sábia. Pensei comigo mesma: Perfeito! Eu tenho problemas de comunicação, esse livro deve me ajudar de alguma forma. Porém depois de comprá-lo, confesso que até fui um pouco soberba, achando que ele teria pouca coisa a me acrescentar de maneira prática, o que me fez relutar um pouco em iniciar a leitura. Felizmente, fui surpreendida e profundamente impactada com a riqueza de nuances com que esse tema aparentemente simplório foi desenvolvido pelo pastor e autor Paul David Tripp ao longo dos treze fascinantes capítulos.

Logo na primeira seção, a temática nos é apresentada ressaltando a importância de refletirmos o criador em nossa comunicação. Este é o grande projeto de Deus para nossa fala, que deve ser motivada pelo amor e ter a paz como resultado. Infelizmente, o pecado distorce nossas palavras que se tornam mais sobre nossos desejos do que sobre amar o outro. Associado a isso, temos a ação de Satanás, que em sua ardileza e mentiras faz com que interpretemos errado os fatos e usemos a fala de forma indevida. “A maioria dos nossos problemas de comunicação acontece porque nós enganamos, distorcemos e manipulamos com nossas palavras. Nós reajustamos os fatos para obter vantagem” (pág.30). Desse modo, deixamos de refletir o criador e passamos a refletir a serpente.

Fica claro, portanto, que a raiz dos nossos problemas com palavras está no nosso coração pecaminoso. A guerra de palavras é na verdade, uma guerra contra o pecado e contra Satanás. Muitas vezes procuramos culpar as pessoas e as situações ao nosso redor, mas elas apenas são usadas como gatilho e ocasião para expressarmos o que está em nosso coração. Nessa hora produzimos as palavras idólatras, aquelas que revelam nosso amor próprio e nossa verdadeira motivação interior. Na Palavra de Deus, no entanto, encontramos esperança para ganhar essa guerra e falar de acordo com o projeto do criador. Cristo é o meio pelo qual nossa língua deixa de ser um instrumento do mal e passa a ser produtora do bem. Para isso, precisamos tirar o foco de nós mesmos, nossas vontades, sonhos, ambições, e colocar os olhos em Deus, no que Ele está querendo nos ensinar e em como podemos ser usados como instrumentos seus em cada situação conflituosa do dia-a-dia e em momentos de angústia e tribulação. Ele nos deu todos os recursos necessários para falarmos como devemos falar (2Pe1:3).  “A Palavra nos fez seu local de habitação para que tenhamos o poder de falar como Ele planejou” (pág.46). 

As duas últimas seções do livro são mais práticas, recheadas de conceitos bíblicos e exemplos que nos conduzem a autoanálise e a uma visão mais ampla da fala na vida do crente. Primeiramente, é destacada a soberania de Deus sobre todas as coisas – detalhes específicos da nossa vida, pessoas que Ele colocou para nos relacionarmos, situações difíceis, etc. Tudo isso foi colocado por Deus com o objetivo de produzir em nós a santificação e crescermos em semelhança de Cristo. Com essa confiança podemos nos submeter ao governo do Senhor e assim, em toda e qualquer situação, utilizar as palavras para atingir uma dupla função: Adoração e Reconciliação. “Primeiramente, todas as palavras devem trazer a Deus a glória que Ele merece. Segundo, nossas palavras devem trazer a transformação redentora à vida das pessoas que Deus colocou ao nosso redor” (pág. 80).

No que tange à reconciliação, somos chamados para ser embaixadores de Cristo:  “A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus”. (2Co5:19-20).  Que papel honroso, mas também de grande responsabilidade nos foi outorgado. Isso significa que não estamos livres para buscar nossos interesses com nossa fala, mas como representantes de Jesus, devemos cumprir Sua agenda diplomática, que muitas vezes inclui a atividade de confrontação bíblica e a repreensão humilde e amorosa. Devemos analisar as situações diárias como oportunidade de exercer esse chamado com prontidão diária e humildade, utilizando palavras de encorajamento para com os pecadores. “Quando alguém faz algo errado contra nós, a coisa mais importante não é que sejamos vingados ou fiquemos satisfeitos, mas sim que reajamos de acordo com o plano de Deus e para Sua glória” (pág.153). Não somos vítimas, mas servos daquele que redime.

No final do livro, Tripp nos oferece uma série de passos para vencer a guerra de palavras. Em primeiro lugar é necessário examinar os frutos da nossa comunicação e sondar nossos corações sobre quais pecados têm nos levado a falhar em nossa fala. O passo seguinte é confessar e nos arrepender dessas atitudes pecaminosas. O terceiro passo é ter um compromisso com a verdade de Deus e com nossa missão de embaixadores, nos revestindo de Sua Palavra para agirmos de modo intencional em nossa comunicação.

Ao passear pelos capítulos, o Espírito Santo foi me revelando o quanto eu vinha sendo negligente com os pecados da língua e o quanto aquelas verdades me eram urgentes. Eu me entristecia diante do espelho da Palavra de Deus ali exposta, mas em meio às exortações a graça perdoadora de Cristo surgia me dando esperança e alegria. Comecei a avaliar as situações diárias sob outra perspectiva. Passei a ser mais vigilante com minhas palavras. Queria que todos ao meu redor pudessem ler esse livro e se beneficiar das verdades ali contidas. A leitura foi tão prazerosa e abençoadora que, ao chegar nos últimos capítulos, voltei para o começo para que ele demorasse mais de acabar!

As leitoras mais exigentes podem achar que o livro deixa um pouco a desejar no quesito organização, devido às várias retomadas de pensamento nos diferentes capítulos, o que o deixa até um pouco repetitivo as vezes. Todavia, esse pequeno detalhe não ofusca o brilho dessa obra tão cara e preciosa. Que o Senhor possa utilizar esse singelo instrumento para ajuda-las a vencer a guerra de palavras. Boa Leitura!

“Vencer a guerra de palavras advém do servir os outros. Vencer vem de amar, vem da fala que é livre da escravidão ao meu ego (minhas paixões e desejos) e, portanto, é livre para ministrar a você” (pág. 193)

Com amor,

Equipe MP.

Paul David Tripp é pastor, autor e palestrante. Ele é presidente do Paul Tripp Ministries e trabalha com o objetivo de conectar o poder transformador de Jesus Cristo com a vida do dia-a-dia. Essa visão o levou a escrever 15 livros sobre vida cristã e viajar a vários lugares pregando e ensinando.