Quando um país entra em guerra, tem objetivos traçados. Quando pensamos em construir uma carreira, ou um grande empreendimento, os alvos a serem atingidos são logo definidos para que possam ser alcançados. Vocês pais, já pensaram sobre quais são seus objetivos finais ao investir na vida de suas meninas? Já conversaram demoradamente sobre o que esperam que elas sejam daqui a 15 ou 20 anos? Por que planejamos os detalhes sobre a construção de uma casa ou a compra de um carro, e sequer pensamos em conversar com nosso cônjuge sobre como investiremos em nossos filhos para colher os resultados desejados, a longo prazo? Por que muitos crentes criam seus filhos na base do “vamos ver no que vai dar”, sem lembrar que a lei de colheita e plantio é implacável? Tenhamos sempre em nossa mente que nossos filhos não são nossos. Como afirmou o Puritano Deodat Lawson, “Os filhos nascidos em nossas famílias são nascidos para Deus.” Somos mordomos de Deus, cuidando de filhos DELE, que graciosamente foram deixados sob nossos cuidados, e certamente Ele nos pedirá contas.

O alvo estabelecido para o futuro de nossas meninas, guiará o ensino que forjaremos nelas. Temos poucos anos para fazê-lo. Não podemos deixar para pensar nisso quando ela estiver na adolescência. Se entendo que minha filha se casará com um homem crente, e que perpetuará a santa semente, devo ensiná-la desde a mais tenra idade a se portar como a mulher virtuosa de Provérbios. Ao lermos o capítulo 31 deste precioso livro de sabedoria perceberemos que uma qualidade, dentre tantas, salta aos olhos: o serviço. A mulher virtuosa é o retrato fiel da mulher que supre todas as necessidades dos seus, que faz sua casa funcionar de forma que seu marido esteja tranquilo, cuidando dos negócios fora do lar. Ele sabe que, ao sair, deixou alguém altamente competente para gerir as necessidades dele e dos filhos. A mulher virtuosa é multifacetada! Ela costura, busca lã e linho, acorda ainda à noite para dar andamento à casa e ordens às suas empregadas, providencia mantimentos, cuida para que a família esteja aquecida no inverno, e ainda acha tempo para acudir ao necessitado. Note que todas as atividades desta mulher estão voltadas para o lar. Ela compra e vende propriedades pois seu marido confia em seu espírito empreendedor. Ela faz roupas, vende-as e com a renda planta uma vinha. Todo o seu interesse, todas as suas habilidades, tudo o que ela aprendeu se dirige para o bem estar da família. Todo o seu trabalho e todas as suas forças estão voltadas para dentro de casa!

Se almejamos sinceramente que nossas filhas sejam semelhantes a esta mulher, não podemos achar que o ‘cosmos’ a fará ser assim, ou que se dermos ‘sorte’, nossas meninas refletirão o alvo bíblico em sua vida adulta. Não! Precisamos trabalhar arduamente desde cedo pra cunhar um caráter deste em nossas filhas. Ao longo dos anos, sempre que falo à mulheres sobre este assunto, ouço uma frase que me dói os ouvidos :”se minha filha deve ser mãe e dona de casa, para que estou pagando faculdade e curso de inglês para ela?” Pura ignorância. Para ser uma mulher virtuosa, para que o coração do marido confie nela, para que seu marido seja estimado entre os juízes, esta mulher precisa ser muito instruída! Note que Provérbios cita várias áreas de atuação em que ela se sai exemplarmente bem. Entende de comércio, de plantação, administra as servas, é exímia artesã, uma economista de primeira linha e quando abre a boca, fala com sabedoria.

Nossas meninas precisam ser educadas para serem como esta mulher, descrita pelo rei Lemuel. Para isso, sua educação formal, a leitura de bons livros, conhecimento de outras línguas e até a faculdade que ela vai cursar, deve visar seu aperfeiçoamento nos dotes de lidar com o complexo e maravilhosos mundo que se encontra dos portões para DENTRO de nossas casas. Não estamos educando nossas meninas para serem homens de negócios bem sucedidos, nem para ganharem dinheiro, ou serem brilhantes em suas carreiras. Não é este o objetivo da vida delas. Se este não é o objetivo da vida delas, por que então, a treinamos para isso e não para serem como a mulher de Provérbios?

Como já disse no post anterior, eu e Orebe temos apenas uma menina. Temos tido o privilégio de trabalhar em sua vida tanto de modo prático, quanto formando uma ideologia correta em sua mente. Esses dois pilares têm que caminhar juntos. É preciso dizer a elas desde cedo, o quanto o serviço ao próximo é estimado por nosso Senhor. O próprio Deus encarnado veio para servir e dar a sua vida! Elas precisam ver em nós a alegria e a disposição para o serviço ao próximo. Devemos, além de ensiná-las com o exemplo, direcioná-las na prática a amar o trabalho com as mãos, o trabalho árduo em prol da família. Pode parecer até meio fora de contexto e anacrônico dizer isso, mas você precisa ensinar sua filha a cozinhar, a limpar a casa, a lavar e passar roupas! Ela precisará destes ensinamentos quando se casar, e se não for acostumada a fazê-los com alegria, terá sérias dificuldades em seu casamento. Se você permitir que o modo do mundo domine sua filha, ela não se sentirá responsável por dar um bom andamento à sua casa. Não a deixe ficar perdida, sem saber o que fazer numa casa, ensine-a desde cedo as tarefas do lar! Treine-a para ser perita em tudo que fizer. E além disso, cuide de seu espírito, para que ela faça tudo sem murmuração, ciente de que cada prato lavado é para a glória de Deus e para servir ao próximo. Ensine a ela o prazer e a alegria de cuidar e acolher os servos de Deus. Mostre a ela o quanto Deus estima o trabalho de suas mãos e o quanto ela está contribuindo para o crescimento e expansão do reino de Deus. Os reformadores e puritanos tinham uma visão extremamente apurada e bíblica do serviço a Deus e aos homens. Veja algumas citações sobre este aspecto:

“Há uma diferença entre lavar louças e pregar a Palavra de Deus; mas no tocante a agradar a Deus, nenhuma em absoluto.” William Tyndale

“O principal fim de nossas vidas é servir a Deus no serviço aos homens.” William Perkins

Estas verdades tão profundas devem ser incutidas em nossas filhas. Devemos fazê-lo também através de nosso exemplo, servindo com disposição e alegria à família, para que elas desejem ardentemente servir ao Senhor através de seu maior e mais doce chamado: o de ser esposa e mãe!

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* Simone Quaresma é casada há 23 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Icaraí e da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (20 anos), Israel (18 anos), Davi (16 anos) e Júlia (14 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler…  de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por meu marido; é professora da classe de jovens e trabalha com a SAF da Igreja onde ele é pastor auxiliar.