“Espere só até que ele vire um adolescente.” “Você não viu nada, a adolescência é a pior fase.” “Eles não brigam porque ainda não são adolescentes.” “Eles brigam porque são adolescentes, é normal.” “Você nunca vai conseguir controlar ‘isso’ ou ‘aquilo’ quando eles virarem adolescentes.” “Quando eles chegarem na adolescência, seu discurso vai mudar.” “Adolescente é problema.” “Essa é a fase da ‘aborrecência’.” “Filho criado, trabalho dobrado.”
Essas são apenas algumas das frases que já ouvi na minha jornada como mãe. Algumas delas, inclusive, ditas por pessoas bem próximas de nossa família. Quando ainda estava grávida do meu filho mais velho, agora com 21 anos, eu ouvia as pessoas dizerem essas coisas e pensava que elas deviam saber o que estavam dizendo, afinal, muitas delas já tinham passado por aquela fase tão temida. Não muito tempo depois, começamos a ler bons livros cristãos sobre criação de filhos e a pensar mais intencionalmente sobre os textos bíblicos que tratavam das promessas do Senhor para nossa família e especificamente para nossos filhos.
Como cristãos, acreditamos que a Bíblia é a Palavra viva e verdadeira do Senhor (Hebreus 4.12); acreditamos que Deus é gracioso e misericordioso e que ele nos usa para abençoar nossos filhos, a despeito de nosso pecado (Provérbios 1.8,9); acreditamos que nossos filhos nascem pecadores e que precisam da salvação que só Jesus pode dar (Salmo 51.5, Romanos 3.23); acreditamos que Deus colocou nas nossas mãos a imensa responsabilidade de ensinar nossos filhos em todos os momentos (Deuteronômio 6.6-9); acreditamos que Deus cumpre suas promessas e que ele é um Deus que se relaciona conosco num pacto de amor (Lucas 1.37, Jeremias 31.3). Uma breve meditação sobre todos os temas e textos bíblicos mencionados já devia ser suficiente para nos mostrar que corremos o risco de acreditar nas mentiras que o mundo aceita a respeito dos nossos filhos adolescentes. Não existe compatibilidade entre o Deus em que creio e as coisas que as pessoas, inclusive muitos cristãos, dizem a respeito de filhos jovens e adolescentes.
Todas essas frases estão não somente erradas, como elas ofendem diretamente ao nosso Deus. Essa atitude que, em geral, é aceita pelos pais como uma coisa normal, na verdade é o pecado do coração dos nossos filhos. Não são os hormônios. Não é a mudança da infância para a fase da adolescência ou da adolescência para a fase adulta. Filhos insubmissos, que brigam o tempo todo com os irmãos, que respondem, desobedecem e demonstram sempre
uma atitude de arrogância em relação aos pais e às autoridades em geral estão mostrando o que a Bíblia disse que existe no coração deles: o pecado (Provérbios 22.15). Acredito que as circunstâncias interfiram na intensidade das reações, mas eu também acredito piamente que o relacionamento deles com Jesus é a rédea para essas reações que demonstram o quanto eles necessitam da graça de Deus.
Antes de continuar, quero dizer que não tenho intenção de analisar o relacionamento entre pais e filhos adolescentes e jovens sob a perspectiva da psicologia ou de qualquer outra perspectiva que não seja a Bíblia. Também não tenho a intenção de esgotar um assunto tão rico como esse e, finalmente, espero trazer não apenas problemas, mas algumas dicas práticas para evitar e solucionar problemas.
- Criando nossos filhos na disciplina e admoestação do Senhor (Efésios 6.4)
Apesar de não sabermos exatamente todos os detalhes de como criar filhos, desde que nossos filhos eram bebês, eu e meu marido decidimos criá-los na “disciplina e na admoestação do Senhor,” porque isso se tratava não de uma “fórmula mágica,” mas, principalmente, tratava-se de obediência ao Deus que amamos, servimos e para quem vivemos.
Quando mencionávamos a disciplina com vara e a maneira como não admitíamos mentira, olhos revirando, criança bufando depois de você ter dito algo e retrucando (era tolerância zero mesmo), as pessoas olhavam para nós até mesmo com um pouco de pena, sabe? Como quem diz, “coitados, eles acham que vão conseguir.” Nossa lógica, no entanto, é a lógica que todo cristão deveria usar, de que a Palavra do Senhor alcança o alvo, ela é “mais afiada do que uma espada de dois gumes” (Hebreus 4.12) e de que o Espírito Santo de Deus transforma o coração do pecador de qualquer idade, desde a mais tenra idade. A disciplina com vara vinha sempre acompanhada de conversa para identificar o erro, o motivo (pecado), convencer do pecado, repreender para uma mudança de vida e apontar para a redenção somente em Cristo. Nenhuma disciplina alcança o alvo quando aplicada em momentos de ira, sem conversa ou sem convicção do erro, além disso, nós não somos os principais ofendidos quando nossos filhos fazem algo de errado, mas nosso Deus é, e muito mais grave do que ofender a mamãe e o papai, é entristecer ao Senhor.
Nossos filhos precisam, sim, de disciplina desde a mais tenra idade, mas precisamos compreender desde o primeiro dia que nossos filhos necessitam de Jesus, de salvação. O coração deles está contaminado pelo pecado e, a não ser que os ajudemos na caminhada de autoconhecimento e avaliação, os convencendo de que longe do Senhor eles não são nada, estaremos fazendo exatamente o oposto do que somos exortados a fazer (Provérbios 29.15). Eu gostaria de poder dizer que isso é fácil, mas não é. É cansativo, estressante e precisamos fazer isso continuamente. Ensinar os nossos filhos no caminho do Senhor envolve todos os minutos do nosso dia, através de palavras, atos, correção e disciplina.
Infelizmente, nos dias atuais, o discurso é de que os pais precisam ser “os melhores amigos” dos filhos. Essa ideia, no entanto, está equivocada. O melhor amigo do seu filho deve ser Jesus. Os pais são os facilitadores dessa amizade, desse relacionamento que deve ser iniciado mesmo quando o seu bebê ainda não compreende exatamente o que está acontecendo quando você lê a Bíblia para ele ou ora com ele. Se você age como facilitador da amizade entre Jesus e seus filhos, você está também agindo como facilitador da amizade entre você e seus filhos durante toda a vida porque, a não ser que o seu filho tema e ame ao Senhor Jesus, o compromisso dele com você será sempre baseado em fundamento instável.
Como resultado, com raras exceções, o que veremos na adolescência são filhos submissos, obedientes, respeitosos, que amam os pais por toda a disciplina aplicada em amor, por todas as repreensões e conversas, por todo o ensino e dedicação. Não somente isso, mas também veremos filhos jovens que buscam o conselho dos pais nos momentos de tomada de decisão quanto a planos futuros (carreira, escolhas, relacionamentos, etc.) e que são gratos a Deus porque seus pais os guiaram no caminho do Senhor que livra nossa alma do inferno.
[Continua]
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Casada com Charles, mãe homescholler de Pedro (21) , Laura (16) e Davi (12), representante de área para o Classical Conversations em Westchester, NY, esposa de pastor, membro da Westchester Orthodox Presbyterian Church, tutora do programa Challenge A do CC, coach de debate e discurso para adolescentes e líder do Clube de Debate “The Murphy’s Law”.