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Como uma moça deve, então, planejar os seus estudos?

Em primeiro lugar, gostaria de lembrar a primeira pergunta do Breve Catecismo de Westminster: Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Partindo deste princípio, devemos refazer a nossa mente no que diz respeito à educação, dentre tantas outras áreas. Quando pensarmos no que queremos gastar o nosso tempo no tocante à nossa formação acadêmica, esta verdade deve estar em negrito: a glória de Deus é tudo que buscamos nesta pátria que não é a nossa. Se não é assim, tem alguma coisa muito errada conosco. O problema é que a nossa cultura nos leva para um lugar bem distante disso. Nós compartimentamos a fé, como se as escolhas que fazemos na vida diária não tivessem absolutamente nada a ver com a relação que temos com Deus. Ora, esta dicotomia é antibíblica e foi justamente contra ela que os reformadores lutaram tanto. A revolução que a reforma introduziu na área da educação, mostra com uma força tremenda, o quanto nossos pais criam que Deus é Senhor de toda a nossa vida! Em seu livro O cristão e a cultura, Michael Horton conta uma parte desta imensa mudança que o mundo experimentou com a Reforma protestante:

Martinho Lutero persuadiu o governo a proclamar a educação universal compulsória tanto para meninas como para meninos, pela primeira vez na história ocidental. Com seus associados ele criou um sistema de educação pública na Alemanha. O cristianismo era religião da Palavra, e aqueles que dependiam de imagens religiosas e só “ouviram falar” eram, a princípio espiritualmente empobrecidos. Mas eram também culturalmente empobrecidos e esse era um ponto igualmente importante. Com esse propósito o colega de Lutero, Melanchthon, declarou: “A finalidade última que confrontamos não é apenas a virtude particular mas o interesse do bem público.”

Calvino argumentava na seguinte linha: Visto que é necessário preparar as gerações futuras a fim de não deixar a igreja num deserto para os nossos filhos, é imperativo que se estabeleça um colégio para se instruir os filhos e prepará-los tanto para o ministério quanto para o governo civil.” (Ordenanças de 1541)

A partir deste pensamento, de que o conhecimento gerava homens capazes de compreender o Evangelho e a Palavra de Deus, e que este conhecimento deveria estar a serviço do Reino de Deus e do povo, a Reforma protestante foi extremamente profícua e causou impactos que perduram até hoje nos países que foram por ela tocados. Desta urgência em ter conhecimento para assim servir a Deus e aos homens, surgiram as Universidades de Genebra, Zurique, Utrech, Amsterdã, Harvard, Yale, Princeton, Brown, Dartmouth e Rutgers. Os Puritanos restauraram Oxford e Cambridge. (O cristão e a Cultura, pgs29,30).

O Brasil, no entanto, caminha longe destes ideais cristãos. Numa entrevista recente, o cientista político e autor do livro A cabeça do brasileiro, Alberto Carlos Almeida, relata que a cultura dos países colonizados por católicos vê a educação de forma diferente dos países onde a Reforma protestante chegou. Os países de herança católica, como o Brasil, não enxergam a educação com um valor em si mesma, mas um meio de se atingir alguma coisa. Podemos lamentar os rumos que a educação em nosso país tomou, usando as palavras do mentor de Calvino, o reformador de Estrasburgo, Martin Bucer:

Hoje em dia ninguém quer aprender, a não ser o que dá dinheiro. Todo mundo corre atrás das profissões e ocupações que dão menos trabalho e trazem maior lucro, sem a preocupação com o próximo ou por uma reputação de honestidade e bem. (O cristão e a cultura, pg 30).

Nós temos educado nossos filhos de maneira ímpia e como se nós pertencêssemos a este mundo. Não se ajuda mais aos filhos a descobrirem sua vocação para, assim, servir a Deus e ao povo. Desde cedo a busca é por resultados. Não se olha o estudo como uma maneira de se aperfeiçoar nas ciências para se deslumbrar com as maravilhas de Deus, para nos auxiliar a entender as Escrituras e para obter o pão. O estudo em nossa cultura está ligado à ganância e ao status. Daí vem o pensamento que deu origem a este texto: se eu não pretendo abraçar uma carreira, porque quero ser esposa e mãe, por que eu deveria estudar? Vou listar algumas razões pelas quais toda moça, não só deveria estudar, mas se esforçar para ser excelente em seus estudos:

Tudo que você faz é para a glória de Deus– “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” I Co 10.31. Se estamos em idade escolar, devemos glorificar a Deus em nossas atividades diárias como estudantes. Devemos ser comprometidos, assíduos, pontuais, demonstrando através de nossa vida de estudante quem é o Deus a quem servimos.

Tudo o que fazemos deve servir para o bem da igreja e da sociedade- Muitas coisas que estudamos na universidade ou na escola, mesmo que não sejam diretamente utilizadas por nós, servirão de base para outros conhecimentos que formarão nossa visão de mundo. Além disso, obtemos conhecimentos específicos que nos ajudarão a resolver muitas questões dentro do nosso lar. Uma de minhas futuras noras, por exemplo, está cursando nutrição. Quem a vê estudar com tanto afinco, acha que ela quer ter o melhor CR da turma para conseguir uma boa colocação no mercado. Absolutamente. Ela estuda com dedicação para aprender tudo o que pode, com o objetivo de implementar uma alimentação saudável para seu futuro marido e filhos. Uma moça que se esforçou para aprender algo tão útil, também dará uma ajudinha às senhoras da igreja que têm dúvidas quanto à alimentação correta, poderá ajudar a formar um cardápio equilibrado para a escola que sua igreja pretende abrir e tantas outras oportunidades que ela terá de servir ao Corpo de Cristo através de sua formação. Por que ela deveria se esmerar para aprender apenas para ter uma brilhante carreira que lhe rendesse status e dinheiro? Percebe como embarcamos nos conceitos mundanos e nem nos damos conta?

Nosso conhecimento precisa ser expandido- Como crentes e herdeiras da Reforma, devemos crer que o conhecimento em qualquer área que seja, revela a majestade e o poder de Deus. Já conversei com moças que faziam biologia, por exemplo, e saíam do laboratório com vontade de chorar, ao ver as maravilhas da Criação expostas num microscópio! Quem estuda línguas e literatura, se espanta ao ver as verdades das Escrituras ser-lhes descortinadas com facilidade após os estudos. Quanto mais conhecimento e estudos temos, mais espantados ficamos com a relação que há entre o Criador e as coisas por Ele criadas! Para aqueles que são filhos de Deus, o conhecimento em qualquer área desvenda um mundo de detalhes que somente o Deus todo-poderoso poderia revelar a homens miseráveis como nós. Ou você tem dúvidas de que Deus é o Deus da ciência, das línguas, da Geografia, da matemática, da física…

Somos auxiliadoras- Pense na esposa de juiz que não gosta de ler ou de estudar. O marido chega em casa e deseja conversar com ela sobre os assuntos do seu dia. Mas aquela fútil mulher tem como sua leitura mais “clássica” as revistas de moda da semana! É claro que ela não precisa ter uma formação acadêmica na área para debater assuntos do interesse do esposo, mas precisa ter uma certa bagagem para entrar no mundo dele. Tudo que você estudou na escola ou na universidade, pode servir de apoio a seu marido das mais diversas formas. Desde conversas desafiadoras até na ajuda para tomar decisões financeiras difíceis. Que homem não deseja ter ao seu lado uma mulher inteligente e que saiba conversar sobre assuntos diferentes?

Somos mães- Quando damos à luz, junto com aquela criança, nasce também uma educadora: nós! A partir daquele instante, nos tornamos a maior responsável pelo crescimento intelectual de nossos filhos. Quanto mais tivermos estudado, quanto mais inteiradas dos assuntos mundiais estivermos, quanto mais teologia lermos, mais prontas estaremos para preparar nossos filhos com excelência para exercerem a vocação para a qual Deus os destinou. E que paz haverá no coração do marido que parte para a sua longa jornada diária e deixa sua herança entregue nas melhores mãos possíveis: uma auxiliadora idônea, inteligente, perspicaz e antenada que os criará para serem grandes homens e mulheres!

Então eu tenho mesmo que cursar uma Universidade?

Este é um conceito muito distorcido em nossos dias. Não se dá mais valor às especialidades técnicas, às habilidades manuais e artísticas. Se você não cursou uma universidade, você não é ninguém. Mas isto é uma mentira. Cada qual foi chamado por Deus para uma vocação específica e com dons específicos. Também não é o fato de ter cursado ou não uma Universidade que fará de você uma mulher inteligente.

Eu não tive tempo para cursar uma Universidade. Me casei muito nova e dois anos depois, já estava com nosso primeiro bebê nos braços. Deixei então, de exercer o magistério para me dedicar exclusivamente à maternidade. Daí por diante as lutas foram muitas e nunca tive a oportunidade de voltar a estudar. Via meu marido progredir em seus estudos e às vezes perguntava a ele se o nível das nossas conversas estavam deixando a desejar, já que ele era um acadêmico. A resposta dele sempre me surpreendia. Na época ele fazia o mestrado numa Universidade Federal na área de língua e literatura latina, e dizia que tinha tanta gente limitada estudando com ele!!!!! Eu ficava chocada! Como alguém que estuda Latim pode ser limitado? E ele me respondia: “são pessoas que conhecem muito aquilo ali apenas, mas têm uma visão de mundo apequenada. Eles não têm metade do conhecimento que você tem, e muito disto é devido aos estudos da Bíblia.” Não é incrível?! (Claro que nesses elogios todos tinham uma pitada de amor de marido apaixonado!!!) Mas não é incrível ele ter prazer de conversar com a esposa que sequer tinha se graduado? Muitas vezes nos enganamos achando que apenas no ensino formal é que podemos obter cultura, bagagem e conhecimento.

Se você tem a oportunidade e o desejo de cursar uma Universidade, faça-o com desvelo! Quem sabe um dia, minha vida corrida me permita fazer também! Todavia, se a vida tomou outros rumos que não te permitiram progredir nos estudos acadêmicos, não se sinta inferiorizada!Aprenda a reconhecer valores que Deus reconhece e não valores que o mundo estabeleceu. De qualquer forma, seja você uma artesã, uma dona de casa, uma pedagoga ou professora, dedique-se à leitura e ao conhecimento! O conhecimento nos faz dar glórias a Deus! Não seja fútil ou preguiçosa. Leia e expanda seu universo!

 Como guiar minha filha?

As mães de meninas têm um papel fundamental na direção que darão à educação formal de suas filhas. Hoje vemos meninas que se dedicam com voracidade a carreiras que são essencialmente masculinas ou que demandam tempo e energia incompatíveis com a carreira de esposa e mãe. Das duas uma: ou esta moça se empenhará demais por estudar algo que ficará MUITO distante de sua realidade de casada, ou ela abandonará seu chamado primário para seguir uma profissão. Desde cedo as mães precisam mostrar às suas meninas qual é o seu chamado prioritário e é a partir dele, que se deve pautar todo o planejamento para o futuro. Tenho visto moças que vivem a vida como se nunca fossem se casar. E estas moças as quais me refiro, não têm um chamado para o celibato, elas desejam se casar! Mas estudam e trabalham enquanto são solteiras, como se nunca fossem se casar. Gastam tanto tempo de sua vida de solteira investindo numa carreira, que não têm tempo de ser treinadas na sua verdadeira vocação: o lar! São moças que passam desde as primeiras horas do dia até altas horas na noite investindo todo o tempo e energia numa carreira. Suas mães não se preocupam em dosar as coisas, ensinando que elas não serão as provedoras de sua futura família e, por isso, não devem gastar todo o seu tempo nesta função. Pelo contrário, embora devam estudar e talvez até trabalhar, estas moças devem ser treinadas por suas mães em áreas que eram tão nobres antigamente, que se aprendia nas universidades: corte e costura, gastronomia, economia doméstica! Hoje em dia, além de terem sido banidas dos bancos acadêmicos, estas especialidades são eliminadas também do ensino de nossas casas! As mães negligenciam a vocação de suas filhas. Criam suas meninas como se fossem meninos, tendo os mesmos anseios, aspirações e treinamentos: todos voltados para fora do lar, para ganhar dinheiro, para “vencer na vida”. Elas negam às suas meninas os ensinos mais básicos para uma mulher que pretende seguir sua vocação de esposa e mãe. São moças que nunca trocaram uma fralda, nunca lavaram um banheiro, não sabem cozinhar (e se orgulham disso), nunca passaram uma roupa…

Se desejamos ter em nossas igrejas uma geração de mulheres que voltem a abraçar a carreira de esposa e mãe, devemos treiná-las para isso. Não é assim que Tito nos exorta? “ Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada.” Tito 2.3-5. As mães devem obedecer esta ordem de Deus na vida de suas meninas. Você está fazendo isso com sua filha? Está treinando-a para sua vocação? Se não está fazendo isso, volte atrás e obedeça à ordenança bíblica. Treine sua filha para ser o que Deus a chamou para ser.

A prioridade será então, invertida! Os meninos serão criados com o foco fora de casa. As meninas, embora devam estudar e se esmerar em fazê-lo, devem ter como prioridade o ensino das práticas do bem, do cuidado com o próximo, de promover o bem-estar e aconchego da família, sendo treinada para ser uma auxiliadora idônea.

Desde cedo, converse com sua filha, ajudando-a a escolher um curso que seja agregador no contexto familiar. Embora qualquer curso que se faça sirva de apoio para a família em algum momento, existem alguns que serão voltados para o benefício da futura família de sua menina. Moças que fazem enfermagem, nutrição, pedagogia, citando apenas alguns exemplos, certamente estão muito mais perto do lar do que uma moça que estude Engenharia física, por exemplo. Meu objetivo aqui não é listar cursos que se deva fazer, ou cursos que se deva evitar. O ponto não é esse. Só acho (e esta é uma opinião minha) que quanto mais perto de trazer benefícios à futura família um curso estiver, mais proveito nossas filhas terão!

Então, fica a pergunta: para quê você está preparando sua menina? Quais são seus sonhos para ela? E você, moça? O que tem almejado? Como tem planejado sua vida? Em suas escolhas diárias, você tem levado em consideração que seu tempo de solteira é uma preparação para quando for uma esposa e mãe? Ou será que você tem aproveitado a solteirice para investir apenas em você e no “aqui e agora”? Por outro lado, será que tem desperdiçado a oportunidade que seus pais te dão de estudar e de crescer intelectualmente, com a desculpa preguiçosa de que será apenas esposa e mãe?

Meu desejo é que reavaliemos nossas posturas e que não sejamos engolidas pela filosofia do mundo, mas que tenhamos clareza de mente para dosar e medir as coisas, baseadas naquilo que é o centro da nossa vida: As Escrituras. Vivamos por meio dela, inclusive nesta área de nossas vidas!

2015-02-09

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simone* Simone Quaresma é casada há 24 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (22 anos), Israel (20 anos), Davi (18 anos) e Júlia (16 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler… de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por seu marido; trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.