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João 19 tem menos palavras de Cristo que qualquer capítulo de João, e ainda assim a Palavra de Deus que se fez carne brilha nas trevas da cruz e as trevas não podem compreender. A fé vê a glória de Cristo exaltada na cruz. Embora os outros tenham fugido, João e as mulheres estão lá aos pés da cruz. E através do testemunho deles, através das Escrituras, os cristãos são capazes de ver claramente o sacrifício de Cristo, que tira o pecado do mundo (João 1:29).

Muitas vezes, o que vemos é mais poderoso do que o que ouvimos, e isso parece ser verdade para este capítulo também. Citando o profeta Zacarias (12:10), João escreve: “Olharão para aquele a quem traspassaram” (v. 37). Os olhos da fé vêem o sofrimento de Cristo, o justo pelos injustos, dando a vida em resgate por muitos. Podemos ver como Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). O sacrifício é real e prova Suas palavras, pois elas são visíveis para todos que testemunham.
Quando olhamos para as poucas declarações que Cristo faz na cruz, vemos o que estava em Seu coração em Sua morte. Foi em primeiro lugar a honra de Seu Pai, que Ele defende no versículo 11. Foi em segundo lugar prover para Sua mãe, a quem Ele une com Seu discípulo João (vs. 26-27), criando no Calvário verdadeira comunhão com todos aqueles que amaram Sua aparição, enquanto Ele sofre sozinho para obtê-la. Ele também tem em Seu coração as Escrituras, e age e fala de modo a cumpri-las (v. 28). E finalmente, como Servo e Filho do Pai, Ele reserva Suas últimas palavras para declarar Sua obra concluída (v. 30). Todas essas declarações são cuidadosamente escolhidas e cheias de significado para o povo de Deus em todos os tempos.

Embora Cristo fale pouco, a Escritura “fala” alto e claramente neste capítulo. Os versos que João escolheu são cuidadosamente selecionados. Dois Salmos são citados, o que é apropriado se pensarmos no propósito de adoração dos Salmos. A cruz é chão sagrado. O Filho está adorando o Pai neste único sacrifício pelo pecado. E assim o Salmo 69:21 (salmo 22:18) é citado no versículo 24: “Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes.”. Cristo tornou-se pobre para tornar muitos ricos.

Segundo, o Salmo 34:20 é citado no v. 36: “Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado.” Aqui as escrituras chamam a atenção para o fato de que Cristo foi o sacrifício perfeito da Páscoa, pois é isso que Deus exigiu em Êxodo 12:46.

Terceiro, e mais notavel, João 19:37 cita o profeta Zacarias 12:10: “olharão para aquele a quem traspassaram”. Significativamente, no original, Zacarias enfatiza “eles devem olhar para mim a quem eles traspassaram”, falando sobre o “SENHOR”, e continua falando de pessoas “lamentando como que por um filho único” (Zc 12.10). Claramente isso se encaixa no que João tem querido dizer sobre Jesus desde o princípio: Ele é o Filho de Deus, mas Ele também é o eterno Filho de Deus (João 1: 1–2), e quando Ele morre na cruz Ele assegura a salvação que somente Deus poderia garantir (Jo 1:29).
Assim, este capítulo essencialmente nos dá uma tapeçaria com três partes, três visões sucessivas do Servo sofredor do Senhor: primeiro em seu caminho para a cruz; segundo, quando Ele está pendurado na cruz; e finalmente, quando Ele foi retirado da cruz e sepultado.

PONTO DE VISTA 1: NO SEU CAMINHO À CRUZ
A primeira seção da tapeçaria de João 19 (vv. 1-15) apresenta-nos Cristo como um homem inocente condenado à morte. Pilatos, claro, é aquele que fala e age como juiz terreno. Embora Pilatos açoite Cristo e zombe Dele, permitindo que Ele use uma coroa de espinhos e um manto de púrpura, ele defende Sua inocência (vv. 4: 6) e tenta libertar Jesus. Ele também o apresenta ao povo primeiro como “o homem” (v. 5) e depois “vosso rei” (v. 14). Mas face a face com a Verdade, ele não se submeterá às reivindicações de Cristo.

As coisas mudam um pouco para Pilatos quando ele ouve a afirmação sobre o Filho de Deus (vv. 8-10). Com medo, Pilatos infere que aqui pode haver mais do que aparenta. Ele pede a procedência de Cristo, mas Cristo não o responde. Cristo havia deixado isso bem claro em Seu ministério.
Pilatos é pego na rede de seus próprios pecados e esquemas, e as autoridades religiosas dão o golpe final na consciência de Pilatos, sugerindo que Pilatos não seria amigo de César se deixasse esse “rei” ir (v. 12). Somos tão vulneráveis ​​às opiniões dos homens. Teremos a coragem de colocar Deus acima dos homens quando for necessário?

PONTO DE VISTA 2: PREGADO NA CRUZ
A segunda parte da tapeçaria de João sobre a crucificação é Cristo na cruz (vv. 16-37). Embora Pilatos tenha dado as ordens para que Jesus fosse crucificado, precisamos nos lembrar de que Cristo voluntariamente deu sua vida (João 10:18), como Ele havia dito. Que notável e impressionante imagem ver Cristo saindo levando sua cruz para o Gólgota, o lugar da caveira (v. 17); e, em mais de um jeito, Jesus é crucificado “no meio” (v. 18). Ele se colocou a si mesmo no meio de ofensores ou criminosos. Ele também está no meio dos eventos mundiais, e Ele estaria no meio de nossas vidas e corações.

Pilatos colocou um título acima da cruz: Jesus Nazareno, o rei dos judeus, em três línguas (v. 20). O mundo inteiro precisa estar ciente da realeza deste Filho de Deus em Sua morte. Mesmo quando os chefes dos sacerdotes pedem para mudar a inscrição, este testemunho do reinado de Cristo não é retirado dEle (v. 22).

A centralidade de Cristo é feita para unir as pessoas, conectá-las através Dele. João chama a atenção para o discipulado ao redor da cruz. As primeiras palavras de Cristo da cruz em João dizem respeito à união de Maria e João (v. 27) e fazer deles uma família Nele. Cristo sempre uniu as pessoas em Sua vida, juntando-as, tornando-as uma, como Ele orou em Sua oração ao Pai. Ele acabou com o isolamento e construiu uma comunidade de amor para aqueles que precisam desesperadamente disso. Aqui Ele dá a sua mãe Maria um novo filho e ao seu melhor amigo, uma nova mãe. Ele não deixa seus amados sozinhos!

Tudo o que Cristo fez foi intencional, mesmo enquanto sofria na cruz. Citando o Antigo Testamento como ele faz (vv. 28-34), João deixa claro que nenhuma palavra de Deus pode ser quebrada, e nenhuma mão humana ou mente humana pode mudar o curso da história para fora da vontade de Deus. Esta é a hora da Sua glória (João 17:1). Não há perda para este Rei pois tudo faz parte do Seu poderoso plano de salvação.

PONTO DE VISTA 3: RETIRADO DA CRUZ
Mesmo depois de ter dado seu último suspiro e seu corpo estar morto, Cristo continua a agir de maneira magnífica e poderosa (vv. 38-42). Uma dessas maneiras é que José de Arimatéia e Nicodemos, dois discípulos secretos, saem das sombras para fornecer ao seu Senhor um sepultamento. Claramente, Cristo está por trás disso. Depois de dizer a Nicodemos que o Filho do Homem seria levantado em um poste para salvar muitas pessoas, Cristo havia pedido a Nicodemos que não ficasse nas trevas, mas que viesse à luz (João 3:19). E, milagrosamente, foi o que aconteceu. Nicodemos sai das trevas para a luz (vv. 38-42), finalmente reconhecendo a Cristo como o Messias que foi prometido.

Que estes homens saíram do esconderijo não é uma coincidência, pois Cristo havia dito alguns capítulos atrás: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (12:32 referência trocada?). Isto é o que acontece aqui, de pequenas e grandes maneiras, como Nicodemos e José são exemplos de muitos que saem das trevas para a luz de Cristo através do Seu sacrifício.

Quando vemos essas três cenas, a questão é se realmente vemos o que está acontecendo. Não devemos sentir pena do Salvador ou sentir pesar. Ele não iria querer isso (Lucas 23:28). Aqui está uma mensagem de esperança para o mundo, para os pecadores, para os que estão na escuridão. Neste caminho designado por Deus, Ele traz pessoas das trevas, doenças e morte para a luz, à liberdade e à vida. Você vê como você pode ter vida através deste Cordeiro, a quem Deus proveu? Quem mais pode dar isso para você? Quem mais pode tomar o seu lugar? A escuridão é realmente melhor? Que esperança você tem que é melhor que isso? Se você ainda não o fez, Deus te chama da escuridão como Nicodemos para encontrar tudo nele. Sem dúvida, este Salvador crucificado é “a vida” (João 14:6).

QUESTÕES
1. O que os crentes vêem neste capítulo que é diferente do que os incrédulos vêem? O que significa contemplar o Salvador crucificado como o sacrifício pelo pecado do mundo (João 1:29)?
2. As pessoas dividiram as roupas de Jesus. Você pode encontrar outros relatos na Bíblia que nos dizem sobre as roupas de Jesus? Qual é a mensagem relacionada com os soldados dividindo Suas roupas? O que isso diz sobre seus corações? O que isso diz sobre o coração Dele?
3. O que esta passagem nos diz sobre a família de Cristo? O que isso diz sobre o Seu cuidado com os seus amados?
4. As Escrituras do Antigo Testamento têm um papel importante neste capítulo. Que lições podemos aprender sobre como devemos valorizar os detalhes da Escritura e ver Cristo neles?
5. Nicodemos aparece novamente nesta passagem. Como ele foi mudado por Jesus? Existe isso de crente secreto?


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*Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth , traduzido com permissão do editor.
**Dr. Gerald Bilkes é professor de Teologia Bíblica e Novo Testamento no Puritan Reformed Theological Seminary. Ele completou seu doutorado (2002) no Princeton Theological Seminary. Ele era beneficiário de uma bolsa para pesquisa da Agência de Informação dos Estados Unidos no Instituto Albright (ASOR) em Jerusalém durante o ano de 1997-1998. Ele tem escrito vários artigos sobre temas bíblico-teológicos e tem palestrado em várias conferências. Suas áreas de interesse especial incluem hermenêutica, a história da interpretação e conversão na Bíblia. Ele e sua esposa, Michelle, tem cinco filhos: Lauren, Seth, Zachary, Audrey, e Josué.
*** Tradução: Tchai Mussi