Lord-Frederick-Leighton-Solitude-955“Para aqueles que acreditam que a vida começa no momento da concepção, uma perda em qualquer ponto da gravidez é significativa. Mesmo a perda do mais pequenino é a perda de uma pessoa real. Cada filho é único, criado à imagem de Deus. Tal perda abre um buraco no coração dos pais e deixa um vazio dolorido. Nenhuma outra criança pode preencher completamente o buraco irregular ou suavizar as suas bordas. O coração dos pais sempre doerá pelo filho perdido” (Glenda Mathes).[1]

Joanne e eu somos pais de um garoto lindo, saudável e maravilhoso, o Esdras. Desde o seu nascimento, em julho de 2011, a nossa

vida mudou drasticamente, mas para melhor. Nosso lar ficou mais cheio de alegria. Sentimos que o Senhor nos abençoou sobremaneira com a chegada do nosso filho. No dia 18 de janeiro deste ano, um sábado, nosso coração se encheu de regozijo uma segunda vez. Descobrimos que Joanne estava esperando outro bebê. A mesma sensação de outrora se fez presente. Imediatamente começamos a planejar e a orar por essa gravidez. Comunicamos aos familiares e irmãos da igreja, além de compartilharmos com os nossos amigos pelas redes sociais. Discutimos os possíveis nomes, bem como os demais detalhes a respeito de enxoval, decoração do quarto e etc.

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Tudo foi intensificado quando, alguns dias depois, fizemos o exame de sangue e tivemos as informações exatas a respeito do tempo da gravidez. A nossa boca se encheu de riso. Ficamos como quem sonha. Porém, no dia 23 de janeiro, uma quinta-feira, abriu-se um buraco em nosso coração. Eu estava no gabinete pastoral quando Joanne chegou com o Esdras. Conversamos um pouco, brinquei com o Esdras e saímos, pois eu precisava ir a uma livraria pegar uma encomenda da igreja. Ao retornarmos tudo estava tranquilo e Joanne logo se despediu e foi para casa. Continuei no gabinete até quando, por volta do meio-dia, ela me enviou uma mensagem, que dizia apenas: “Alan, venha pra casa, por favor”. Ao chegar em casa ela me relatou que havia tido um sangramento. Sem muita demora partimos para o hospital, e lá ficou confirmado o nosso maior temor. Tínhamos perdido o nosso bebê. De tudo o que ocorreu a lembrança mais dolorosa que carrego comigo é a de ver minha esposa saindo chorando da emergência, olhando pra mim e dizendo: “Eu perdi!” Meu coração foi destroçado nessa hora. Abriu-se um buraco em nosso coração. Isso tudo aconteceu há menos de um mês. É tudo muito recente ainda. Não importa se a gravidez ainda estava no início. Não importa se era um embrião de apenas 4 semanas, pois como disse Glenda Mathes na citação do início, “uma perda em qualquer ponto da gravidez é significativa. Mesmo a perda do mais pequenino é a perda de uma pessoa real”. Então, foi um filho que perdemos. Apesar disso, tanto eu quanto Joanne podemos testemunhar da bondade do Senhor para conosco. Deus tem nos tratado e ministrado ao nosso coração. Ele tem trazido verdades às nossas mentes, que têm confortado e consolado os nossos corações. Mais que isso, o Senhor tem aquecido nosso peito com a esperança que somente o evangelho pode proporcionar. É nesses momentos que podemos ver com muita clareza a utilidade e o benefício da teologia. É quando a dor se avizinha ao peito que podemos ver quão práticas são as doutrinas bíblicas, pois é por meio dessas benditas verdades que o Senhor tem comunicado graça aos nossos corações.

  1. A Doutrina da Soberania de Deus

A partir do momento em que Joanne me comunicou que havia tido um sangramento eu comecei a orar, pedindo que Deus usasse de misericórdia para conosco e para com o nosso filho. Ao mesmo tempo, minha cabeça começou a ser inundada com o pensamento de que o Senhor estava no controle daquela situação. Imediatamente lembrei de uma passagem que estava estudando, para pregar na igreja onde sirvo como pastor: Isaías 6.1. No carro, enquanto seguíamos para o hospital, eu disse a minha esposa que independentemente de ela perder o bebê ou não, Deus reina. Precisávamos crer nisso. Precisávamos nos agarrar a isso. Quando recebemos a notícia do aborto, apesar da dor excruciante, tratamos de relembrar que Deus estava assentado em seu trono, reinando, conduzindo todas as coisas para um fim que, acima de tudo, redundasse em glória ao seu nome e, também, contribuísse para o nosso bem. Sabíamos que Deus não estava alheio àquela situação. Sabíamos também que ele não estava apenas assistindo como um espectador impotente. Ele havia ordenado aquele acontecimento. Por qual razão? Não temos como dizer. Não sabemos.

  1. A Doutrina da Sabedoria de Deus

É nossa convicção que o aborto que Joanne sofreu não é nem uma fatalidade nem obra de uma divindade soberana, mas destituída de sabedoria. Cremos que Deus possui toda a sabedoria, sendo ele mesmo a própria sabedoria. Cremos que, em sua sabedoria ele ordenou tudo relacionado à perda do nosso bebê. Algo que sabemos é que é vão tentar escrutinar os desígnios de Deus, as razões últimas, visto que nossas especulações podem acabar tendo o mesmo efeito que as de Jó, ou seja, obscurecer os seus sábios caminhos com as nossas palavras sem entendimento. Saber que Deus, em sua sabedoria, agiu nas nossas vidas nos dá encorajamento para fazermos o que o puritano Lewis Bayly recomendou: “Se você crê de verdade que Deus é sumamente sábio, por que não Lhe remete os acontecimentos marcados por cruzes e desgraças, sendo que Ele sabe tornar todas as coisas em bem para aqueles que O amam?”[2]

  1. A Doutrina da Bondade de Deus

Crer na sabedoria de Deus anda de mãos dadas com a certeza de que Ele é bom. Há algum tempo tenho ensinado que devemos estar prontos a reconhecer a bondade de Deus em toda e qualquer situação. Somos prontos para reconhecer a bondade de Deus quando tudo vai bem, quando recebemos uma promoção, quando somos aprovados em algum concurso, quando gozamos de saúde, dentre outras coisas agradáveis. Eu tenho ensinado que também devemos reconhecer a bondade do Senhor nos momentos dolorosos e difíceis. As pessoas não se impressionam quando louvamos a bondade de Deus nos momentos tranquilos e felizes. Elas ficam impressionadas, porém, quando em meio a mais profunda dor podemos dizer: “Deus é bom!” Quando perdemos o bebê, em meio às lágrimas, sozinhos em nosso quarto, conversamos a respeito de como poderíamos ter a certeza da bondade do Senhor nisso. Lendo a respeito e conversando com alguns amigos da área da saúde soubemos que os casos de aborto espontâneo são comuns, e que, em sua grande maioria, o que acontece é que – numa leitura bastante naturalista –, o organismo se livra de um embrião com má formação. Não sabemos se má formação era o caso do nosso bebê. No entanto, sabemos que Deus, em sua bondade agiu nas nossas vidas. Também percebemos a bondade do Senhor na maneira como tudo foi providenciado para que Joanne fosse atendida rapidamente e no tratamento amoroso que recebemos da nossa igreja. Como não perceber Deus em meio ao afeto que nossos irmãos dispensaram a nós? Como não bendizer a sua bondade, ao apreendermos com muita clareza a beleza do evangelho através da comunhão dos santos?

  1. A Doutrina da Santidade de Deus

Aqui não estou me referindo ao aspecto da santidade de Deus que enfatiza a sua pureza, a sua separação daquilo que é imundo e corrompido pelo pecado. Refiro-me à santidade de Deus, como sendo a sua perfeição que o distingue de todo o restante da sua criação. Sua santidade o revela como o Ser mais precioso e sumamente digno. Foi pensando na santidade de Deus que entendemos que, ainda que nosso bebê tenha desfalecido, Deus continua sendo a nossa herança e a fortaleza do nosso coração para todo o sempre.

  1. A Doutrina da Ressurreição

Essa doutrina tem acalentado o nosso coração de forma especial. Foi uma gravidez de apenas 4 semanas. Não vimos o rostinho do nosso filho. Não o seguramos em nossos braços. Mas sabemos que ele era nosso filho. Na verdade, ele é nosso filho. Deus não é Deus de mortos, mas de vivos (Mateus 22.32). A certeza de um dia o conheceremos e o teremos junto a nós não permite que vivamos como os demais, sem esperança (1Ts 4.13). Conta-se que quando Gregório de Nissa visitou sua irmã Macrina, que estava acometida de um forte ataque de asma, ao perceber que sua irmã estava “prostrada para morrer” chorou muito e expressou toda a sua dor. Macrina o consolou falando-lhe a respeito da esperança cristã da ressurreição. É isso! Nós cremos na Aliança. Cremos que o Senhor entrou em Aliança conosco e que nossos filhos pertencem a ele. Cremos que nosso bebê está com o Senhor e que, por fim, na ressurreição, iremos conhecê-lo. Não tem sido fácil. Ainda dói. Volta e meia ainda nos pegamos pensando no ocorrido. Não obstante, a verdade de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8.28) tem ganhado cores mais vívidas para Joanne e eu. Nossa confissão é: “Yahweh o deu e Yahweh o tomou; bendito seja o nome de Yahweh!” (Jó 1.21). SOLI DEO GLORIA!



[1] Glenda Mathes. Little One Lost: Living with Early Infant Loss. Grandville, MI: Reformation Fellowship, 2012. p. 17
[2] Lewis Bayly. A Prática da Piedade. São Paulo: PES, 2010. p. 73. _______________

* Rev. Alan Rennê é Pastor na Igreja Presbiteriana do Cruzeiro do Anil, em São Luís-MA, Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste, em Teresina -PI (2005), e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo-SP (2010). Cursa o Sacrae Theologiae Magister S.T.M, com área de concentração em Estudos Históricos e Teológicos e linha de pesquisa em Teologia Sistemática, no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo-SP. Professor visitante de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife-PE e na Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FITRef). Escreve no blog Cristão Reformado.