Estou grávida do nosso terceiro bebê. E parece que estou recomeçando. Depois de ter dois meninos, estamos esperando uma menina. É divertido montar um guarda-roupa novo e decorar o quarto. Gostamos de ouvir nossos filhos falarem sobre a irmã que está por vir. É emocionante para mim imaginar como será ter uma filha.

Fonte da Imagem : Pinterest

Mas tem uma diferença muito grande entre a minha primeira gestação e a terceira. Eu já morri. Embora a maternidade envolva muitas mortes diárias, mas ter meu primogênito foi o golpe decisivo.

Grávida de expectativas

A maior parte das histórias sobre o parto que eu ouvir pareciam mágicas. “O bebê sai e o amor instantâneo que você sente é incrível”, eles de disseram. “Não há sentimento igual no mundo”. As lágrimas de alegria, o calor a emoção e o vínculo instantâneo de amor que parecia normal em outras histórias de nascimento aumentaram minha expectativa. Mas essa não foi minha experiência quando eu tive meu primeiro filho. Depois de vinte e quatro horas em trabalho de parto, as únicas lágrimas derramadas foram de dor e frustração. Tentei empurrar meu filho por uma hora e meia. Minha mente apagou. Não me lembro de muito—algumas palavras e imagens são apenas borrões. Quando meu filho saiu e meu médico me disse há quanto tempo o parto durou, fiquei chocada. Minha mente perdeu a noção do tempo e meu corpo assumiu o controle.

Não senti aquele primeiro caloroso vínculo de mãe e filho. Eu segurei meu filho por alguns segundos e então ele foi levado para a UTIN para que eles pudessem monitorar alguns problemas com seus pulmões. Lembro de ter-me sentido aliviado por ele ter sido levado embora por um tempo. Meus sentimentos estavam, principalmente, entorpecidos; meu corpo e cérebro estavam em choque.

Morte e ressureição

Quando chegamos em casa, ele ficava acordado a noite toda chorando; eu também chorava. Quando a noite caia, eu temia pelas horas que viriam. Meu próprio corpo se voltou contra mim também. Enquanto minhas mudanças de hormônios cresciam dentro de mim, eu me sentia sozinha o tempo todo, e chorava muito sem motivo. Está deveria ser uma época alegre de criação de vida, mas eu senti como se estivesse morrendo. Eu estava esperando passar os meus dias celebrando essa nova vida, mas ao invés disso me encontrei experimentando um sentimento de morte. Isso me chocou, mas eu não deveria me surpreender. Como costuma ser o caso, a morte precede a vida. É um padrão que Deus constrói em nossas vidas. É o padrão que Jesus deixou para nós também. Sua vida nos mostra que devemos morrer para experimentar qualquer vida verdadeira em nossos corações. Como Paulo diz em Filipenses 3:10 “Quero conhecer a Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morta”.

Devemos nos tornar como ele em sua morte para conhecer o poder de sua ressurreição. Isso é verdade para mártires sendo queimados na fogueira e para as novas mães que enfrentam noites sem dormir. Devemos nos enterrar como um grão de trigo, para que nossa morte dê frutos (João 12:24).

Abraçando a morte

A morte é uma parte única da maternidade. Como mulheres, vivenciamos uma drástica mudança holística com o nascimento de nosso primeiro filho. Assumimos uma nova identidade, nossos próprios corpos são usados de novas maneiras, nossas mentes ficam ocupadas com tantas coisas ao mesmo tempo, que nunca havíamos considerado antes e nossos corações encontram um novo lugar para chamar de lar. Instantaneamente nossas vidas giram em torno de uma criança pequena e exigente, gostemos ou não.

Assim que um bebê vem a esse mundo, ele chora por sua mãe. Nossa independência está sendo morta o dia inteiro enquanto morremos para algumas de nossas velhas maneiras de assumir em um novo papel.

Mas através da morte a beleza nasce. Deus usa a maldição da morte para trazer uma nova vida. E é o único caminho para a alegria da verdadeira vida. Como Paulo diz: “Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados.” (1 Coríntios 15:21-22). Por causa do segundo homem, agora temos ressurreição em nossas almas, porque “interiormente estamos sendo renovados dia após dia” (2 Coríntios 4:16). Mas primeiramente devemos ser crucificados com Cristo (Gálatas 2:20). Deus usa a morte encontrada na maternidade para nos conduzir à vida. Embora pareça que estamos sendo mortos o dia todo, ele está nos renovando por dentro. Quando aceitamos as mortes diárias que enfrentamos como mães, podemos humildemente apresentar nossas lutas a Deus. Ele nos alcançará em nossa depressão, ansiedade, estresse, privação de sono, raiva, frustração e falta de paciência. É exatamente onde ele nos quer. Este abraçar humildemente a morte é um terreno fértil para uma vida nova e mais profunda.

Entrando pela porta da maternidade

Meu momento de ressurreição na maternidade veio quando vi o que Deus estava matando em mim: minha auto-suficiência. A maternidade me mostrou que não sou forte o suficiente e não sou boa o suficiente. Não há nada em mim que possa me fazer ser suficiente.

A maternidade me tornou mais humilde. Mostrou-me quão fraca e necessitada eu realmente sou. Sou lembrada todos os dias de minhas fraquezas e da minha enorme necessidade de que Cristo trabalhe em mim e em meus filhos. Quando admitimos que somos mães fracas, temos uma compreensão mais plena de quão forte é o Deus que servimos. Este é o lugar da morte onde Deus desce e nos mostra seu poder de ressureição (2 Coríntios 12:9-10). Nele somos fortes o suficiente para todas as mortes diárias da maternidade e podemos contar com ele para trazer o fruto de uma nova vida em nossas almas.

Eu não esperava a morte quando me tornei mãe. Fiquei surpresa com tal luta sombria. Mas agora, estando na minha terceira gestação, estou mais bem equipada para abraçar a maternidade. A morte que senti na primeira vez se transformou em antecipação na terceira. Sei que ainda haverá dificuldades pela frente, mas estou mais confiante na graça de Deus para comigo, mais disposta a admitir minha fraqueza e mais pronta para ser gasta e quebrantada por Ele e minha filha. Deus deu vida à minha morte, tornando-me assim mais semelhantes a Cristo. Pude experimentar a morte e ressureição de Jesus entrando pela porta da maternidade.

______________________________


Liz Wann mora na Filadélfia com o marido e três filhos. Ela é a autora de The End of Me: Finding Resurrection Life in the Daily Sacrifices of Motherhood.

Texto original : https://www.desiringgod.org/articles/every-good-mom-dies

Tradução por: Carolina Crepaldi Hito| Revisão por: Rebeca Gueiros