victorian couplePrincípios bíblicos para honrar os maridos de forma radical

Enquanto eu dirigia, trazendo minha filha de quinze anos da ginástica para casa, eu ouvia atentamente sua descrição de um momento doloroso e embaraçoso. Suas emoções pesavam não só em minha alma, mas também no pedal do acelerador. Uma náusea tomou conta de mim enquanto eu via as luzes piscando atrás de nós. Quando o policial me perguntou se eu tinha alguma razão para dirigir a 40 milhas por hora em uma zona de 30 milhas por hora, eu simplesmente respondi: “Não senhor, eu só não estava prestando atenção”.

Quando terminamos as formalidades do processo de emissão da multa, eu saí dirigindo (devagar!). Minha filha, que agora já estava realmente soluçando pela tensão adicional de me ver receber uma multa que eu não poderia pagar, começou a reclamar de quão injusto o policial tinha sido.

“Não”, eu insisti. “Ele não foi injusto. Se eu estava indo acima do limite de velocidade, ele tinha todo o direito de me parar e me dar uma multa”.

“Mas ele foi tão arrogante, tão sabe-tudo”, minha filha argumentou. “E ele poderia ter apenas te dado um aviso”.

“Bem, eu já vi coisa pior”, eu respondi.

Eu não estava chateada com aquele policial nem tive medo dele como pessoa. Eu não me senti nem melhor nem pior que ele, mas ele era um policial e eu não. Naquela situação, eu era chamada a me submeter à sua jurisdição.

Mudanças culturais

Essa situação de autoridade legal é, praticamente, a única figura de submissão que ainda temos em nossa sociedade. Apesar de não ser particularmente útil quando pensamos a respeito de uma esposa se submetendo a seu marido, ela ilustra um princípio. Assim como o policial não era “melhor” do que eu, mas simplesmente estava exercendo a autoridade que lhe foi delegada, também um marido não é “melhor” que sua esposa meramente por estar em autoridade. Ela não é um ser humano menos digno que ele, mas a autoridade é parte da tarefa, da identidade e do chamado dele.

Eu não tenho mais ouvido ou lido a palavra “submissão”. Imagino que a pessoa comum daria a essa palavra uma conotação negativa. Somente fracotes se submetem. A pessoa realizada é forte, autônoma e automotivada.

Quando eu estudava na Wellesley College, o movimento feminista estava ganhando força. Era chocante se uma mulher anunciasse que sua vocação escolhida era o casamento e a maternidade. Desde então, essas atitudes em relação a esposas e mães se espalharam ao ponto de não serem mais domínio da esquerda radical, mas a opinião comum na sociedade em geral.

Nesse contexto, até mulheres cristãs têm dificuldade de se ajustar às palavras do apóstolo Paulo aos Efésios: “As mulheres sejam em tudo submissas a seu marido”. Claro, alguns tentam argumentar que o que Paulo quer dizer é uma submissão menos ofensiva, toma-lá-dá-cá, em que cada parte simplesmente considera as necessidades da outra. Para apoiar esse ponto de vista, alguns usam Efésios 5.21, que parece sugerir uma submissão mútua, meio a meio, que poderia passar despercebida pelos guardiães do politicamente correto em nossa cultura.

Mas certamente nós percebemos o sentido implícito desse verso no contexto de todo o livro. Paulo segue ao comando de “sujeitar-vos uns aos outros” pelos modos através de quais nos submetemos, ou seja, esposas a maridos, filhos a pais, escravos a senhores (ou, em nossa sociedade, empregados a chefes). Se Paulo estava apenas enfatizando um princípio geral de submissão mútua, por que ele iria enumerar casos específicos? Se ele quisesse ilustrar a mutualidade da submissão, ele teria enfatizado os dois lados da questão, especificando: “Escravos, sujeitai-vos a seus senhores como, mestres, a seus escravos. Maridos, sujeitai-vos a suas esposas, como, esposas, a seus maridos. Pais, sujeitai-vos a seus filhos, como, filhos, a seus pais”. Pelo contrário, essa passagem é revoltantemente antidemocrática.

Então, como pode uma mulher cristã, hoje, viver essa noção de submissão? O que está envolvido nisso?

Dois princípios

Usemos dois padrões de pensamento paulinos para iluminar nossa discussão sobre submissão. Talvez, se nós pudermos treinar-nos a pensar um pouco mais como o apóstolo Paulo, nós entendamos com o que essa submissão deve se parecer.

Primeiramente, Paulo nos dá o princípio de obediência positiva radical. Algumas pessoas já o descreveram como retirar e colocar. Note, em Efésios 4.28, quando Paulo fala sobre o furto, ele não para no mandamento negativo “não furte mais”. Antes, ele nos diz que, de forma a não furtar mais, nós deveríamos usar nosso tempo trabalhando com nossas próprias mãos. Mas isso ainda não é suficiente. O ladrão deve parar de furtar e trabalhar para que tenha com que acudir ao necessitado. Então, o comportamento negativo é furtar, o comportamento “neutro” é trabalhar com as próprias mãos e o comportamento positivo é dar seus bens a outros.

Vemos Paulo usar esse mesmo princípio em relação à fala. Não é suficiente parar de mentir ou mesmo silenciar, mas deve-se falar a verdade tendo como objetivo a edificação (Ef 4.29). Igualmente, nós não devemos ser bêbados, mas devemos ser cheios do Espírito para que possamos entoar hinos e cânticos espirituais sob Seu controle para a edificação do corpo de Cristo (Ef 5.18-19).

O segundo princípio paulino que nos ajudará a entender submissão é o princípio de paralelismo. Paulo traça um forte e específico paralelo entre o relacionamento de Cristo com a Igreja e o relacionamento do marido com sua esposa. A própria razão pela qual Deus criou homens e mulheres e a profunda união física e espiritual que eles experimentam no casamento é para ensinar-lhes sobre Cristo. Todas as estruturas da criação de Deus existem para nos ajudar a compreender Sua natureza. Ele nos encoraja a aprender sobre Cristo e a Igreja pelo que sabemos do relacionamento no casamento e também a aplicar o que sabemos da união entre Cristo e sua Igreja em nossos casamentos, para que possamos melhor compreender como amar no contexto dessa união.

Apliquemos esses dois modos paulinos de pensamento à submissão.

Honra radical

Mulheres que, ativamente, se rebelam contra a autoridade de seus maridos, recusando-se a aceitar o que Deus colocou em suas vidas para proteção, obviamente não estão em submissão. Mas, à luz de uma obediência positiva radical, não é suficiente que tal mulher seja apenas neutra. Submissão não é uma passividade relutante ou laissez-faire. Para obedecer ao mandamento de Cristo de submeter-se, uma esposa deve tentar conhecer o coração de seu marido, honrar esse coração, orientar-se por seus desejos e alegrias, seus instintos e paixões, e alinhar a si mesma e a seus filhos a esses desejos e paixões.

Nós, esposas, não devemos apenas não depreciar nossos maridos, mas devemos elevá-los. Nós não devemos apenas não lhes negar nossos corpos, mas somos chamadas a entregar-nos com alegria. Não devemos apenas tentar “não os dominar”, mas devemos desejar aumentar sua autoridade e respeito de toda forma possível, seja aos olhos de nossos vizinhos, de nossos filhos ou de nossos amigos da Igreja. A famosa passagem de Provérbios 31 mostra uma mulher que usa sua grande iniciativa e criatividade para controlar uma esfera de influência que lhe foi dada por seu marido, de maneira a trazer honra ao nome dele.

Fazer convergir nele

A submissão de uma esposa a seu marido deve ser paralela à submissão da Igreja a Cristo. A tarefa da Igreja é aprender a fazer convergir todas as coisas no cabeça, Cristo (Ef 1.10), e permitir que seu Salvador a santifique (5:26). Devemos levar cativo todo pensamento a Cristo (2 Co 10.5). Devemos ter nossas mentes renovadas (Rm 12:2), conformando-as à mente de Cristo, nosso Salvador. Devemos ser purificados por meio da lavagem de água pela palavra de Cristo (Ef 5.26). A Igreja deve adotar o coração de Cristo.

A tarefa de uma esposa de submeter-se a seu marido é muito mais do que, simplesmente, aquiescer quando acontece de a vontade dele ir de encontro à dela ou permitir que ele tome decisões sem fazer objeções. Uma esposa deve fazer convergir todas as coisas em uma cabeça, seu marido. Em outros termos, na esfera de seu lar, onde seu marido é a cabeça, a esposa deve reunir, juntar e submeter todas as coisas que estão sob sua supervisão (inclusive seus filhos!) ao controle de seu marido.

Sou casada há vinte e oito anos. Conforme vou, gradualmente, compreendendo a natureza radical da submissão, também compreendo a profundidade de minha própria rebelião. Sem o poder e a graça de Cristo, a Igreja não pode viver à altura do alvo de fazer convergir todas coisas no cabeça, isto é, em Cristo. Sem o poder e a graça de Cristo, nunca poderei começar a fazer convergir todas as coisas em meu lar em uma cabeça, isto é, meu marido. Mas, em minha fraqueza, eu aprendo sobre a força de Cristo. Enquanto me esforço para submeter-me a meu marido e alinhar-me a seu coração, mesmo quando eu não o compreendo, eu também estou ajudando a fazer convergir todas as coisas em Cristo. Pois o homem é a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça do homem e até mesmo Cristo irá sujeitar todas as coisas aos pés de seu Pai, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas (1 Co 15.21-28).

Assim, o que é submissão? É participar, com todo o coração, na exaltação de seu marido e elevá-lo a glória e honra sob Cristo.

Sem compreender a base bíblica de sua conclusão, uma aluna de Wellesley, tendo chegado à beira de um segundo divórcio, disse: “Eu acho que meu primeiro marido estava certo. São necessárias duas pessoas para fazer um sucesso”. Deus me deu para meu marido, para ajudá-lo a ter sucesso em sua tarefa de fazer convergir sua família e seu lar na liderança de Cristo e em seu trabalho de pregar claramente o Evangelho. Quando filhos se submetem a seus pais na força do Senhor, quando empregados se submetem a seus chefes através do maravilhoso poder do Evangelho e quando esposas se submetem a seus maridos, todos nós crescemos juntos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo (Ef 4.15). E nós enchemos todas as coisas com o conhecimento do glorioso Deus do Evangelho (4.10), que nos amou com amor eterno.

Através de radicalmente se submeterem a seus maridos com alegria, pelo poder do Espírito Santo, esposas cristãs participam não apenas do mandamento original de encher a terra e sujeitá-la, mas também no maior e celestial mandamento à Igreja de mostrar “a multiforme sabedoria de Deus” aos dos principados e potestades (Ef 3.10) e de chegar “à medida da estatura da plenitude de Cristo” (4.13), de forma a elevá-lo em glória e “encher todas as coisas” (4.10). Quão grandioso e elevado é nosso chamado e que Salvador abnegado temos para nos mostrar o caminho.

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*Esse texto foi traduzido por Sarah Buckley e postado em Português originalmente no Reforma21.org . Republicado mediante permissão do Reforma21.org. Original em Inglês:Aqui.