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Você, com certeza, assim como eu, já ouviu alguém dizer, em diferentes contextos: “O que importa é a sua felicidade!” ou perguntar: “Você está feliz?”, como se isso fosse um pré-requisito para sabermos que o que estamos fazendo é mesmo correto. A prerrogativa é sempre a nossa felicidade. Estamos felizes? Continuemos. Infelizes? Melhor pararmos. E este imperativo pela felicidade a qualquer preço tem marcado profundamente o modo como vivemos e a nossa cosmovisão. Compramos, relacionamo-nos, pensamos, agimos e falamos a serviço da nossa felicidade, mesmo sem percebermos que é por causa dela que fazemos todas essas coisas. A verdade é que, se nos distraímos um pouco mais, já nos percebemos completamente distantes da vontade de Deus para nós e do propósito para o qual estamos aqui.

O que isso tem a ver com o problema da infertilidade, afinal? É errado desejar engravidar? É pecado querer ter uma família? Isso também não é plano de Deus para nós? Obviamente, não é errado. Seria de se estranhar que não desejássemos filhos, já que sabemos o valor da família para Deus. Essa não é a questão, pois, em Filipenses 2.13 o apóstolo Paulo nos diz: “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” A questão é que Deus, por sua soberania e graça, não realiza todos os nossos desejos, ainda que eles sejam bons. Em um primeiro instante, somos tentadas a perguntar, quase que instintivamente: “Por quê?” Ora, se os nossos desejos são bons, por que Deus não nos permite realizá-los? É aí que entra o sofrimento, o protagonista do nosso texto de hoje.

Embora seja maravilhoso desfrutar as delícias da felicidade, falta-lhe algumas habilidades que nos são úteis para lapidar o coração. O sofrimento dói, machuca, rasga o coração, embaça nossa visão, tira o nosso chão. Entretanto, ele também lapida o nosso ser e direciona os nossos olhos Àquele que sofreu amargamente o castigo que nos traz a paz.

Em 18 de maio de 2016, estávamos ansiosos na sala de espera de uma clínica em Fortaleza. Logo chegaria a nossa vez. Os exames em nossas mãos, coração apreensivo e, ao mesmo tempo, tranquilo. Pensávamos: “vai dar tudo certo!” (Você já disse isso a si mesma algumas vezes também, não é?). A atendente do médico entrou na sala sozinha, levando em mãos uma cópia do nosso exame, demorou-se lá dentro alguns minutos e, finalmente, saiu da sala. Havia chegado a nossa vez. A princípio, aquela conversa inicial com o médico de nossa confiança sempre nos deixa animados. E, como todo bom médico, ele começou a explicar… e explicar… e explicar… e… começamos a trocar alguns olhares… e, lentamente, demo-nos as mãos apreensivos.

Aquilo não ia acabar bem. A certo ponto da conversa, a cada palavra dita pelo médico, era uma lágrima que escorria de meus olhos. E dali em diante eu já não conseguia compreender palavra alguma… o coração parecia que ia explodir. Finalmente, saímos dali com a triste notícia: Somente a fertilização in vitro era indicada para nós. Já havíamos conversado sobre isso antes. Essa não seria nossa escolha naquele momento. Saímos, finalmente, desolados, da clínica. Mas, ainda na calçada, abraçamos um ao outro, cúmplices de uma dor que não cabia em nós, e foi, então, que fechei os olhos molhados e Sam fez uma oração que marcou o início de uma nova etapa em nossas vidas: ele agradeceu ao Senhor. O Dono da Vida estava ali, bem ali, naquelas lágrimas. Ora, não eram os resultados humanos que nos impediam de engravidar. Era unicamente o Senhor. Ele, em Sua soberania e bondade, nos afligiu. Sabíamos disso ali. Sabemos disso hoje. Isso não me trouxe felicidade, nem me devolveu o sorriso ao rosto. Mas, certamente, tínhamos um
Refúgio seguro na tempestade. Chorei o caminho inteiro, da clínica até a casa da minha sogra. E, não fosse o longo e acolhedor abraço de uma preciosa amiga, eu teria chorado desconsoladamente ao pé da cama. “Como nós (logo nós!), que sonhamos tanto com uma família grande, estaríamos passando por isso? E os nossos planos de viagem em família, de praticarmos a educação domiciliar, de ensinarmos o catecismo nos nossos cultos domésticos? Tem alguma coisa errada aí! Isso não podia estar acontecendo!”. Embora todos esses pensamentos se misturassem na minha mente às certezas que eu tinha no Senhor, graças ao Bom Deus, Sam esteve sempre sóbrio e confiante, e conseguia me fazer voltar a olhar corretamente para a situação: eu precisava olhar para Deus.

Hoje, quase dois anos após o diagnóstico de infertilidade, enquanto escrevo, uma bebê linda de quase 6 meses dorme tranquilamente em meu quarto. Sim, Deus se compadeceu de nós e ouviu ao nosso clamor! Tirou-nos do deserto e nos trouxe às águas tranquilas. Mas não posso deixar de agradecer por cada longo e difícil dia de sofrimento, vivido e saboreado com todo o seu amargor. Embora aquela dor não me tome com toda a sua força hoje, eu louvo a Deus pelo privilégio do sofrer em Sua presença. O sofrimento, como já mencionei, tem algumas habilidades que não podemos ignorar. Não deveríamos fugir dessa realidade, embora muitas pessoas optem por escapar da dor, por esconder-se dela, defender-se dela, e até substitui-la por qualquer paliativo que seja capaz de, superficialmente, neutralizá-la. O que elas não sabem é que sofrer, em Cristo, faz bem. Quanto se perde com a fuga da dor! Para o verdadeiro cristão, o sofrimento deve ser enfrentado ao pé da cruz, pois, por meio dele, o nosso coração se aperfeiçoa e nos aproximamos de Deus. Além disso, o sofrimento também nos torna sensíveis à dor do outro. Pessoas que não vivenciaram a dor da infertilidade costumam não ter empatia com quem enfrenta o problema. Em Eclesiastes 7.3 a Palavra de Deus nos diz: “Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” No Salmo 126, encontramos os lindos versículos, 5 e 6: “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.” O meu desejo é que as nossas lágrimas reguem uma profunda intimidade com o Senhor Eterno e Bendito, Dono da Vida! E quanto aos feixes, que sejam profundas convicções de Sua bondade, misericórdia e amor imutável e eterno para conosco.

Que você, assim como eu, aproveite este tempo de espera para crescer, como nunca antes, no conhecimento do Altíssimo! E, se Deus lhe der filhos, que você lhes ensine o valor do sofrimento, ao pé da cruz, para que jamais rejeitem as bênçãos que nos sobrevém nos momentos tempestuosos. Se Ele, contudo, não conceder filhos a você, que os seus olhos permaneçam cheios de esperança e o seu coração, palpitante pela alegria infindável da Eterna Morada com o nosso Jesus!

Que Deus a abençoe! Soli Deo Gloria!

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*Este artigo foi publicado originalmente no site Voltemos ao Evangelho, reproduzido aqui mediante expressa autorização.
**Jemima Ribeiro é casada com Samuel Ribeiro, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde o casal congrega. Eles têm uma filha, Sarah. Jemima é mãe homeschooler e Licenciada em Letras pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.