big-familiesA primeira vez que eu carreguei, sozinha, nossos filhos pequenos no carrinho do mercado, eu me preparei mentalmente para o desafio à frente. Apesar do potencial de que eles choramingassem, se agarrassem, se batessem e implorassem por algo fosse bastante real, minhas maiores ansiedades estavam voltadas para a reação das pessoas ao verem meu carrinho cheio de crianças. Você veja: em menos de quatro anos, nós tivemos quatro filhos. Não apenas eles têm idades próximas, como também são todos meninos, incluindo um par de gêmeos. Embora tenhamos nos acostumado com a composição da nossa família – e nos sentimos realmente abençoados pelo seu barulho e agitação –, tornou-se evidente que nem todos concordam com isso. Um passeio em público não fica completo sem encaradas, comentários e a inevitável conversa com um estranho. Então, enquanto eu empurrava meu ônibus em miniatura pelas portas automáticas do mercado, resolvi ser alegre e não deixar meu coração disparar ao ouvir os sussurros dos observadores.

Nem todo mundo que nos vê tem um pensamento, opinião ou uma palavra para compartilhar (e eu não quero ser tão egocêntrica a ponto de pensar que cada passante na rua se importe com nosso planejamento familiar). Mas eu fiz algumas observações sobre os comentários que as pessoas fazem sobre nossos filhos. De modo geral, eles caem em três categorias opostas:

PRIMEIRA: Vocês são loucos.
Essa frase tão comum que ouvimos é, algumas vezes, formulada de maneira mais educada como: “Aposto que vocês estão sobrecarregados”. Mas a linguagem corporal, o tom da voz e os olhos bem abertos comunicam a mensagem: “Eu estou tão feliz por não ser vocês”. A presunção de quem diz isso é que nossa vida é uma bagunça bastante caótica e que eles estão muito felizes por não fazerem parte disso.

SEGUNDA: Eu nunca poderia fazer isso.
Embora a presunção da loucura seja algo que eu sempre espero ouvir, essa segunda ainda me pega desprevenida. Algumas pessoas pensam que temos superpoderes paternos, que somos aptos e interessados em fazer algo que pessoas normais não são capazes de fazer. Meu esposo e eu argumentaríamos que esse não é o caso – nós necessitamos da mesma quantidade de graça e de ajuda que outros pais (na verdade, às vezes até mais!).

TERCEIRA: Vocês são tão abençoados.
Finalmente (e sou agradecida por essa ser a maioria), muitas pessoas se desviam de seus trajetos para se aproximarem de nós com comentários de alegria e encorajamento. Elas dizem coisas como: “Vocês tem uma família incrível. Que coisa maravilhosa! Seus meninos terão tanta diversão crescendo juntos!”. E, ocasionalmente, casais mais velhos confessam como gostariam de ter tido mais filhos ou valorizado o tempo com a família ao invés de passar por esses momentos resmungando.

Nossos Comentários Revelam Nossos Corações
Antes de eu começar a discernir as intenções do coração e fazer algumas aplicações, deixe-me primeiro dizer que eu também fiz essas declarações e senti esses sentimentos. Dependendo do dia, eu poderia exclamar: “Ugh, nossa vida é tão louca!” ou “Como outras pessoas fazem isso?” ou até mesmo “Eu amo tanto esses meninos e sou tão grata por eles”. Família é uma questão complexa, repleta de pecados e rachaduras. Mesmo aqueles de nós que querem pensar nos filhos como bênçãos, algumas vezes se deparam com um espírito cheio de murmuração. Eu preciso examinar frequentemente meu coração à luz das Escrituras, me arrependendo quando não concordo com Deus.

Agindo de Maneira Diferente em Relação a Filhos
Então qual deveria a atitude dos seguidores de Cristo em relação a filhos, numa cultura cada vez mais hostil a várias gravidezes? Bom, eu penso que se deve começar acreditando naquilo que a Bíblia diz ser verdade sobre esses pequeninos:

  • Eles são uma benção, uma recompensa e uma herança de Deus (Salmos 127:3-5).
  • Eles deveriam ser acolhidos generosamente, e não serem desprezados (Mateus 18:10, Marcos 10:14).
  • Eles são feitura e projeto de Deus, conhecidos por Ele antes do nascimento (Salmos 139:13-16, Jeremias 1:5).
  • Eles são instrumentos valorosos de glória no reino de Deus e precisam, portanto, de bom ensino e treinamento (Efésios 6:4, Deuteronômios 6:7).

Essa é apenas uma amostra das verdades que apontam para o amor intenso de Deus e o propósito d’Ele para filhos. Eles não são fardos a serem evitados, complicações a serem esquivadas ou obstáculos a serem contornados. Quando Deus dá filhos a um casal, eles são um presente a ser entesourado, uma ferramenta de santificação, uma arma a ser manejada no reino de Deus e uma alma a ser moldada. Essa não é uma tarefa horrível (por mais que aparente sê-la algumas vezes). Seguidores de Cristo precisam, mais do qualquer coisa, se deleitar nessa verdade e permanecer firme nela, mesmo quando nossa cultura e experiência nos diz o contrário.

Segundo, essas verdades precisam mudar nossa atitude em relação a filhos. Seguidores de Cristo não deveriam ser os estranhos na loja (ou os amigos no hall da igreja) que reviram os olhos ao ver a mulher que está grávida “de novo”. Eles não deveriam trocar histórias de terror uns com os outros sobre quem sofreu mais com crianças pequenas. Embora exista espaço para ser honesto e para ajudar uns aos outros a amar os filhos ainda mais, isso não deveria ser feito com um espírito murmurador.

Essa é a dura verdade. Afinal, a Bíblia diz que aquilo que sai de nossas bocas revela o que realmente está em nossos corações. Então, se nós nos encontramos zombando com frequência de pessoas que querem trazer mais flechas (seja biologicamente, seja por adoção ou por outra maneira), precisamos nos examinar com esta pergunta: “Eu estou realmente acreditando no que Deus diz sobre filhos ou adotei a mensagem da sociedade?”.

Ao invés de ser a pessoa que se aproxima de estranhos e amigos com um amontoado de comentários sobre como eles são loucos, sejamos rápidos em dizer: “Isso é uma benção!” – o que é, prometo, mais honrável e encorajador que “Puxa, cara, eu aposto que essas crianças dão muito trabalho!”. Talvez eles deem, mas eu não trocaria todo esse trabalho por nada no mundo.

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*Esse texto foi postado originalmente no The Council on Biblical Manhood & Womanhood (CBMW). Traduzido mediante permissão. Original aqui.