6RJAD00ZNota do Editor:
Há alguns meses eu tive o privilégio de ficar novamente na casa de queridos amigos galeses, Dr. Eryl e Magwen Davies. Como o seu marido estava prestes a se aposentar como presidente da WEST, um seminário no País de Gales, pedi à Sra. Davies que compartilhasse comigo o aprendizado de uma vida de apoio ao seu marido no ministério pastoral e seminário. Sra. Davies, que transpira o calor galês, respondeu de uma forma tão honesta, útil e emocionada que eu perguntei se ela estaria disposta a escrever seus pensamentos para que eu pudesse compartilhar com nossos leitores. Joel Beeke.

Nós éramos casados há apenas um mês quando meu marido começou seu ministério em uma grande Igreja Presbiteriana no sul do País de Gales. Senti-me apreensiva e as responsabilidades à frente eram assustadoras. “Quem está apto para estas coisas?” Certamente, eu não; mas “a nossa capacidade vem de Deus”, e as nossas experiências ao longo dos anos têm revelado a verdade destas palavras.

Que lições eu aprendi durante esse tempo como esposa de pastor? Uma das primeiras foi “sem Mim nada podeis fazer” , até mesmo coisas que eu pensava que era boa em fazer. Eu tive que depender de Deus por sabedoria e habilidade até mesmo para as menores tarefas.

Quarenta anos atrás, no Reino Unido , se esperava que uma esposa de um pastor  ajudasse a conduzir reuniões infantis, discipulados femininos e falasse regularmente para eles; havia também algumas visitas aos doentes, aos que estavam de luto, manter a casa aberta e hospedar palestrantes visitantes – uma lista formidável . Eu percebi que deveria ser eu mesma e não tentar atingir a imagem pública de uma esposa ideal. Deus me fez como eu era e poderia me usar como eu era. Eu nunca iria agradar a todos de qualquer maneira e eu certamente não era perfeita. Nos primeiros anos, eu tentei muito agradar e como resultado eu estava desgastada. Em um certo encontro em nossa casa, o palestrante disse algo que eu nunca esqueci e que me ajudou tremendamente: “Não é o que Deus quer que você faça para Ele, mas o que Ele quer fazer através de você.” Que alívio! Mudou a minha perspectiva completamente e retirou o peso sobre os meus ombros.

Levei muito tempo para aprender sobre mim mesma e meus pontos vulneráveis. Eu tive que colocar freios em mim mesma para não ficar relembrando, no final do dia, conversas com membros esquisitos, por exemplo. Eu aprendi a não começar a pensar em problemas durante a noite porque eles pareciam maiores. Na manhã seguinte, os problemas não eram tão alarmantes. Eu li em algum lugar que não é certo deixar os pensamentos nos dominarem – nós devemos dominá-los – e isso também tem sido útil.

Logo no início, o meu marido e eu nos tornamos muito conscientes da necessidade de manter certas coisas confidenciais. Já havíamos visto os danos causados nas igrejas por repassar informações pessoais que foram reveladas em confidencialidade. Se uma pessoa disse algo muito confidencial para o meu marido, ou para mim, nós não falamos sobre isso juntos, a menos que nos tenha sido dada a permissão. Eu não precisava saber de tudo. Na verdade, era melhor que eu não soubesse alguns fatos sórdidos ou eles teriam ficado na minha mente e afetado minha atitude para com a pessoa em questão. Para que as pessoas confiem em você, elas devem saber que você pode ser confiável e que não fará fofoca. Ligado a isso, há também a necessidade de ficar quieta sobre as idiossincrasias do meu marido, não envergonhando-o na frente dos outros para obter um riso de membros!

É importante ser acessível, genuinamente interessada nas pessoas e suas necessidades. Porque eu era tímida, descobri que lembrar de detalhes relevantes me ajudaria (por exemplo, a tia de fulana estava no hospital, etc) e, então, perguntar sobre ela manteria a conversa fluindo. Ser uma boa ouvinte era um grande trunfo, mas escutar somente pela metade poderia ser perigoso ou significar, algumas vezes, me meter em confusão!

Lembro-me claramente de pensar, em um funeral de um jovem pastor, “Eu não posso me esconder atrás da espiritualidade e utilidade do meu marido.” Eu teria que dar conta da minha própria vida a Deus, então eu deveria procurar ser piedosa e guardar a minha própria alma. Era fácil estar muito ocupada envolvida em reuniões da igreja e compromissos, mas ainda assim estar pessoalmente longe de Deus. Era fácil ser hipócrita e fazer comentários piedosos sem experimentar sua realidade. Às vezes, eu estava tão preocupada com a relevância do sermão para um membro em particular que eu perdia a oportunidade de receber alimento espiritual para mim mesma. Absurdo! É obra de Deus e o Espírito Santo dá vida e aplica a Palavra ao coração.

Frequentemente, no final das reuniões, eu pedia a Deus para guiar-me a falar com a pessoa certa e para ser útil no que eu dissesse. Uma vez eu tentei falar com tantas pessoas quanto possível, mas eu descobri que não conseguia acompanhar nenhuma conversa, então eu tive que mudar a minha abordagem, sem dar a uma pessoa mais atenção do que o outra. Tentei tratar todos os membros da mesma forma, pois a esposa de um pastor é observada e o ressentimento pode se infiltrar facilmente. É um caminho difícil e solitário não poder ter amigos especiais na igreja, apesar de lidar naturalmente mais com uns do que outros. Diz-se: “Uma mulher pode edificar ou arruinar um homem “, e como foi dito a minha amiga, esposa de um jovem pastor: “O que você é, seu marido se tornará” – pensamento assustador!

Em seguida, haviam os convites para as refeições nas casas dos membros. Alguns tinham casas muito luxuosas e quando voltávamos para a casa pastoral tudo parecia velho. Eu tinha que me ensinar a contar as minhas bênçãos, percebendo que nós tínhamos condições melhores do que muito outros. Nossos móveis eram desgastados por jovens que se aglomeravam em nossa sala de estar aos domingos à noite, e havia a inevitável abóbora derramada no tapete. Logo, o ditado “Dê graças a Deus pelo que você tem e não se concentre no que você não tem” era um lembrete oportuno. As palavras de Amy Carmichael permanecem fiéis – “No contentamento reside a paz.”

Relacionado a isso havia o aprendizado de lidar com um salário baixo e suas frustrações, mas Deus nos mostrou o seu cuidado de uma forma que não seria necessária se tivéssemos em abundância. Por exemplo, durante os nossos dez anos no país Gales, café e biscoitos eram fornecidos para a reunião das mulheres em nossa casa a cada semana. Nós não achávamos fácil aceitar dinheiro como presentes, mas as pessoas queriam e, de acordo com Mateus 10:42, eles foram abençoados por isso. Ao receber um presente, muitas vezes eu citava Mateus 25:40.

O que você faz quando visitas inesperadas chegam em um momento muito inconveniente e você está saindo para uma consulta médica marcada para as crianças, por exemplo? Isso aconteceu com a gente em uma ocasião. E apesar de nós termos explicado porque tínhamos que deixá-los, eles se sentiram ofendidos e nós não os vimos na igreja depois disso. Isso me entristeceu.

Fomos sempre muito cuidadosos quando as mulheres vinham à nossa casa para ver meu marido. Nós dávamos a certeza que eu estava lá também e tornava isso óbvio oferecendo um xícara de café ou ruidosamente realizando minhas tarefas! Todo cuidado é pouco. Não dê nenhuma chance a Satanás.

Houve momentos em que eu me ressentia por tantas demandas na agenda do meu marido e eu sentia que eu tinha que ser mãe e pai para os nossos filhos. Mas Deus e sua obra tinham que vir em primeiro lugar. As vezes, nós prometíamos brincar com as crianças à tarde e então alguém necessitado aparecia na nossa porta, era difícil de explicar e eu percebia o ressentimento das crianças. Nós tentávamos muito compensar a decepção. Depois teve o funeral de um membro no meio das nossas férias anuais! Nem sempre era fácil ver essas coisas à luz da providência e da soberania de Deus, mas nós estávamos aprendendo lições sobre nós mesmos, nossas reações, e nossa obstinação. Era fácil se sentir relegada para segundo plano. O telefone tocava – “Eu gostaria de falar com o pastor, por favor ” ou ao atender a porta e ouvir: “Eu gostaria de ver o pastor, por favor.” Tendo dito isso, houve momentos em que eu estava feliz em passar a bola! Essas experiências me ensinaram o orgulho do meu coração.

Autopiedade se tornaria evidente, então eu tive que aprender a pensar biblicamente, como o meu marido sempre me lembrava! Mas nem tudo era negativo, pois ele não tinha que sair cedo para o trabalho e voltar tarde, por isso fomos capazes de fazer coisas juntos e fazer visitas. Enquanto ele estava preparando sermões, eu tinha que resistir a pedir ajuda quando uma minicrise que eu mesma poderia lidar ocorria na casa. Falhei a este respeito: se um membro telefonasse enquanto ela estava orando ou preparando a mensagem, eu o chamava, em vez de pedir a pessoa para ligar mais tarde. Era medo de ofender; era realmente desequilibrado.

Estávamos conscientes de estar na linha de frente da batalha espiritual, então havia necessidade constante de estar em guarda. Se meu marido pregou sobre o diabo ou o inferno, aprendemos a pedir proteção especial para nós e para nossa família. Nós éramos muito gratos por toda a armadura de Deus. Eu estava também consciente que Satanás iria tentar me usar para prejudicar o meu marido, especialmente na noite de sábado, então eu tinha que conter as minhas palavras e reações. Percebíamos que as crianças, muitas vezes sucumbiam a alguma doença durante a noite de sábado. Como resultado, nós perdíamos o sono quando meu marido precisava estar descansado para sua pregação no domingo. Então nós orávamos especialmente por proteção para o domingo e para segunda-feira também! Nós sabíamos que o Senhor é “mais forte do que o homem forte”, e Ele ganhou a vitória.

O lar era um lugar de contraste. Nós tínhamos jovens animados chegando para pedir que meu marido realizasse seu casamento; talvez, dentro de uma hora havia uma triste notícia sobre a morte súbita de um membro. Eu achava extremamente difícil visitar uma família enlutada, chegar quando havia uma sala cheia de pessoas todas se voltando para ver o pastor e sua esposa. Lentamente eu percebi que estava falando demais. Somente ouvir era um caminho muito melhor.

Era um privilégio estar envolvida com as pessoas na alegria e na tristeza, e era uma experiência de humildade saber que eles confiam em nós para questões muito particulares e pessoais. Tivemos que ser flexíveis – o que não era meu ponto forte – mas, depois de ter entregue o dia ao Senhor, nós tínhamos que acreditar que o inesperado foi permitido pelo nosso Deus. Eu fui muito lenta para aprender isso. Quão grata eu fui inúmeras vezes por Tiago 1:5-6! Eu orava mais ou menos assim: “Senhor, eu preciso de sabedoria e Tu a tens, então eu peço sabedoria. Eu Te agradeço, Senhor.” (pedindo com fé)- e em seguida enfrentava a situação.

O lar deve ser um lugar de relaxamento e paz para o pastor – não é fácil conseguir isso quando o aquecedor central quebrou e tinha um vazamento justamente quando esperávamos um pregador visitante que hospedaríamos por algumas noites em pleno inverno! Viver pela fé e não por vista e pôr em prática o que se afirma acreditar leva uma vida inteira para alguém como eu conseguir. Eu sempre entrava em pânico desnecessariamente e tornava as coisas mais difíceis para um marido paciente e sereno! À luz da eternidade, essas crises eram triviais.

Meu marido sempre afirmou que é um grande privilégio ser um pastor, e eu posso dizer o mesmo como esposa de um pastor. Foi emocionante ver Deus trabalhando e pessoas vindo ao nascimento espiritual, e, em seguida, encorajá-las em sua caminhada diária. Agradeço a Deus por nos confiar esse privilégio, apesar da nossa fragilidade e falhas. “Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza.”

2014-01-13

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*Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth (Edição online de Julho/Agosto de 2010), traduzido com permissão do editor.

** Magwen Davies é casada com Dr. Eryl Davies. Ordenado ao ministério da Igreja Presbiteriana de Gales, Eryl foi o primeiro pastor de uma plantação de igreja evangélica bilíngüe em Bangor, Norte do País de Gales. Durante seu ministério lá, ele atuou como capelão na Universidade de Bangor. Por 21 anos (1985-2006), ele ensinou Teologia Sistemática e Contemporânea no seminário WEST, onde supervisionou com sucesso a pesquisa de muitos estudantes para o doutorado. Dr. Eryl e Magwen tem um filho, uma filha e uma neta. O galês é a primeira língua de sua família.

*** Tradução: Daniela Costa