O aspecto mais importante ao se preparar para a hospitalidade consiste em preparar o seu coração
. Isso as vezes é mais difícil do que preparar a sua casa. Washington Irving disse que “na hospitalidade genuína existe uma emanação do coração, que não pode ser descrita, mas é imediatamente sentida, e logo faz com que o visitante se sinta à vontade”. E a maneira de desenvolver essa emanação é ter um amor como o de Cristo por seus hóspedes. Este amor não surge naturalmente, é algo pelo qual nós precisamos trabalhar; alguns de nós mais do que outros.

Normalmente, quando convidamos alguém, nós esperamos dedicar algum esforço em hospitalidade, mas, apesar disso, desejamos ter uma boa refeição e uma visita amigável. Às vezes, isso é o que acontece, mas outras vezes, as crianças que te visitam rejeitam sua comida e bagunçam a casa toda; crentes criticam a igreja ou outros crentes; ou hóspedes incrédulos são ingratos, usam de linguagem grosseira e até mesmo apropriam-se de suas colheres de prata (o que aconteceu com uma amiga minha).

Quando coisas assim acontecem, nos sentimos de algum modo traídos; nossa hospitalidade não nos fez sentir como queríamos que ela fizesse. Mas, quando os hóspedes vão embora e nos sentimos frustradas ou deprimidas, isto se deve, quase sempre, ao fato de que nossos corações não estavam corretos diante de Deus quando os convidados entraram pela porta. Um missionário canadense do século XX, enviado para a China, tinha o seguinte lema: “empenhe-se por dar muito; não espere nada em troca”. E é assim que precisamos nos preparar para a hospitalidade. Deus tem nos dado todas as coisas, inclusive os nossos hóspedes, e se a visita não nos abençoar, então ela irá nos santificar. Sentir que todo aquele esforço foi desperdiçado em pessoas que não mereciam ou não o apreciaram, revela que o meu coração não estava pronto para servir incondicionalmente, como o Senhor me chama a fazer.

Minha irmã me ligou uma manhã, depois de uma experiência terrível com alguns hóspedes. Mesmo grávida e com o orçamento apertado, ela ainda tenta fazer da hospitalidade uma prioridade. Geralmente ela está cansada, mas feliz, depois de uma visita. Mas, esta em particular a deixou muito frustrada: os convidados não conversavam, tudo correu mal, e ela foi deixada com uma enorme pilha de pratos para lavar antes do culto da noite.

Quando minha irmã me ligou na manhã seguinte, ela disse que, depois dos sentimentos iniciais de frustração, ela se sentiu culpada; ela percebeu que tinha convidado aquelas pessoas esperando agradecimentos, incentivo e, talvez, um pouco de ajuda. Ela as havia convidado, em parte, para receber algo em troca. Logo que ela percebeu e confessou o seu pecado, sua compreensão do propósito da hospitalidade foi renovada. Ela me disse: “Eu não posso fazer isso por mim, nem mesmo posso fazer isto pelas outras pessoas apenas; eu tenho que fazê-lo por Cristo. Esse é o único tipo de hospitalidade que Deus realmente ama”.

Preparar seu coração antes de seus convidados chegarem te capacitará a praticar a hospitalidade por causa de Jesus – amar seus convidados, porque Cristo amou você primeiro; ministrar a eles, porque as pessoas menos atraentes são as que mais necessitam dos cuidados do evangelho. Este tipo de hospitalidade pode deixar você cansada e emocionalmente exausta ao final de uma noite (você pode até mesmo sentir falta de algumas colheres de prata), mas é o tipo de hospitalidade que não será consumida com a palha e o restolho do mundo – é o tipo de hospitalidade que Deus valoriza e recompensa.

_________

Este post é uma tradução de um artigo de Rebecca VanDoodewaard publicado originalmente no Blog “The Christian Pundit“, traduzido e re-publicado com permissão da autora.

*Rebecca VanDoodewaard é dona de casa, editora free-lancer e escritora. Ela é esposa do Dr. William VanDoodewaard, ministro da Associate Reformed Presbyterian Church e professor de História da Igreja no Puritan Reformed Theological Seminary, com quem tem 3 filhos. O casal bloga no “The Christian Pundit”

** Tradução: Arielle Pedrosa