Mulher orando 2Certa vez, uma jovem disse-me:

– Se eu obedecer a Palavra de Deus e viver corretamente, Deus garante que minha vida vai ser tranquila. O Primeiro Salmo não diz que a pessoa que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, que tem seu prazer na Lei do Senhor e medita nela de dia e de noite é bem-aventurado e feliz?

A mulher (ou o homem) que vive conforme o Salmo Um é bem-aventurada – mas isso não garante que viverá livre de problemas. Na verdade, o sofrimento é parte integrante da vida cristã – não porque gostamos de sofrer, mas porque vivemos em um mundo caído, decadente e em queda livre. Preocupo-me com as pessoas que procuram a igreja para resolver todos os seus problemas e dão testemunho de salvação em termos de como conseguiram vencer ou conseguiram realizar mais do que em termos de conhecer melhor a Deus e à sua redenção – o alvo de todo aquele que crê para a vida eterna, conforme Filipenses 3.10: “para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte”.

Quando conhecemos a Jesus e o poder de sua ressurreição, aprendemos também a nos conformar com ele em sua morte (e o resultado dessa conformação é a obtenção da ressurreição). Isso não ocorre em função de termos alcançado a perfeição (Fp 3.12), mas significa um processo, uma progressão: “prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus… esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus…” (3.13-16).

Esta semana recebi e-mails de amigos, servos de Deus, e fiquei sabendo do falecimento de pai ou mãe de dez deles! A morte nos rodeia e crentes não estão isentos dela.

Nos últimos meses, também fui informada de missionários cuja filha esteve à morte e hospitalizada por oito meses devido à anorexia nervosa; missionários cujo filho teve uma crise psicótica com ameaça de morte, pastor cuja esposa o abandonou e se juntou a outro líder de igreja (deixando três filhos com ele), esposa de pastor que descobriu a homossexualidade do marido, educadora cristã com câncer em estágio final, líderes fiéis na igreja local que perderam seus empregos, servo de Deus que, após quarenta anos de fidelidade ao Senhor, está acometido de mal de Alzheimer, outros que foram assaltados, uma família acidentada em que as crianças perderam os pais, e outras grandes tragédias. São muitos os sofrimentos reais neste mundo!

No entanto, o irmão de Jesus, Tiago (que acabou sendo morto violentamente), escreveu: “tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg 1.2).

Alegria nas tragédias e nos grandes sofrimentos?! Você é amada por Deus? A prova está em que, depois de aprovada, o Senhor prometeu-lhe a coroa da vida (Tg 1.12).

No início da vida com Jesus, Pedro era um impetuoso que queria tudo ou nada – todos poderão te abandonar, mas eu jamais faria isso; se Jesus for atacado eu cortarei [a orelha] de quem o ferir, manda-me e eu ando sobre a água, e… não acreditou que Cristo havia ressurgido. Mas depois de ressurreto, Jesus o incumbiu, além de ser pescador de homens, de ser pastor do rebanho de Deus. Nesse mister, Pedro escreveu palavras de ânimo a peregrinos e forasteiros da diáspora,  que havia perdido tudo e estavam sofrendo toda espécie de dificuldade: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1Pedro 1.6-9).

Mais no final de sua carta, Pedro continua com o tema: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1 Pe 4.12-16).

Escrevendo de experiência própria, Paulo disse que os sofrimentos presentes não se comparam com a glória do futuro (Rm 8.18) e que não somente crentes sofrem, como também toda a natureza, todo o ambiente em que estamos inseridos (Rm 8.19-26) – está gemendo angustiado. Muitas vezes, as pessoas citam o versículo 28, de Romanos oito, quase como se fosse um chavão, um dito comum e inócuo – ignorando o contexto em que está inserido: “aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos”; e, depois da afirmativa de que todas as coisas cooperam juntamente para o bem dos que amam a Deus, explica: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou…” vv.27-30.

Não temos espaço aqui para descrever os diversos tipos de sofrimento a que somos sujeitos nem propor como vencê-los todos. Tiago lembra que a provação produz perseverança e essa “deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes. Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.4-5). Há um hino antigo que diz:

Mais graça ele dá quando o fardo é pesado
mais força nos dá quando a obra falta acabar
para maior aflição ele acrescenta sua graça,
a múltiplas provas, sua magnífica paz.
Amor sem limites, graça sem barreiras,
poder sem medida aos filhos Deus dá,
pois dos seus tesouros infindos em Cristo,
ele dá mais, fortalece mais, e dá ainda mais…

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Elizabeth GomesElizabeth tem bacharelado em teologia; é escritora, tradutora e palestrante. Elizabeth é casada com Wadislau Gomes e tem três filhos e sete netos, todos envolvidos no ministério pastoral: Davi, Daniel e Deborah, casada com John Deaton, com os filhos Mathew (17 anos), Timothy (15 anos) e Jonathan (quase 6 anos), residentes nos Estados Unidos, onde John é pastor.