criancaelaptopPossível fonte de perigo dentro de casa

A mãe passa em frente ao computador e percebe que a filha de 15 anos o esqueceu ligado. Ao tentar desligá-lo, vê na tela algo que parecia ser um diálogo[1]:
– vc tem icq??!?!
– naum…issu eh koiza du passadu……
– entaum vo t addeah nu msn!!!!!
– tudu bem……
– daih vc me passa u teu orkut??!?!
– u enderessu tah nu meu blog……
– tem mtas foteenhas nu album??!?!
– devi te umas 9 +-……
– blz…dpois tc…xau!!!!!
– flw…t+……

Entendeu alguma coisa? Nada? Você precisa ler esse texto.
Entendeu tudo? Você precisa ainda mais.

I. Benefícios da modernidade

Deus colocou o ser humano em um jardim. Adão e Eva habitaram o Jardim do Éden e lá Deus os pôs como vice-gerentes da Criação. A vontade de Deus foi que usassem a natureza de forma sustentável a fim de que ela trabalhasse para o conforto e bem-estar do ser humano. Por isso, a Nova Jerusalém, a recriação de Deus, não é mais um Jardim e sim uma cidade. Deus considera que apesar do pecado, nem todo progresso deve ser descartado.

Com esse pressuposto, Deus criou o mundo para o ser humano aprendesse a manipulá-lo a fim de que seu conhecimento gerasse novos benefícios. A tecnologia é resultado desse processo; são infindáveis os benefícios que o ser humano recebe por conta das descobertas feitas nos mais diversos campos e de maneira especial, nos dois últimos séculos.

A popularização do computador e o advento da internet fez com que o ser humano tivesse acesso a outros incrementos; além de aposentar de vez a máquina de escrever ele pode se comunicar com o mundo todo sem gastar um centavo com o telefone. O Brasil, apesar de ser um país em desenvolvimento, não ficou de fora dessa revolução tecnológica. Para se ter uma idéia, no ano de 2007, pela primeira vez foram vendidos mais computadores do que televisores no país. O uso da internet em banda larga cresce a passos largos no país também. Além da quantidade de usuários subir consideravelmente a cada ano, as últimas pesquisas apontam que o usuário de internet brasileiro é o que mais gasta tempo com a internet se comparado aos usuários de outros países.

II. Perigos da Modernidade

Assim como o avião ou a energia nuclear, a internet é uma invenção que largamente é usada para fins destrutivos.

Embora o mundo da internet seja virtual, os perigos são extremamente reais. Há perigo de dano material com a perda de arquivos em conseqüência de vírus ou então de ser vítima de e-mails maldosos que contém pequenos programas espiões que servem para roubar senhas bancárias.

O pior prejuízo, porém, pode ser espiritual. A internet contém toda sorte de informações e facilmente qualquer um pode ser alimentado com intolerância racial, por exemplo. Outra constante ameaça na internet é a pornografia. Eis alguns dados sobre o assunto:

* 12% de todos os sites são pornográficos
* 25% das pesquisas feitas são sobre pornografia
* 35% de todos os downloads são de pornografia
* A cada segundo, 30.000 internautas acessam pornografia
* A cada segundo 89 dólares são gastos em pornografia
* 266 sites pornôs são criados na internet por dia
* Em 2006 a pornografia gerou um lucro de 2.84 bilhões de dólares
* 72% de consumidores de pornografia na internet são homens
* 70% dos acessos pornôs acontecem em horário comercial
* Há cerca de 372 milhões de sites pornôs na internet
Além dos dados internacionais acima, uma recente pesquisa feita em nosso país, constatou que 55% dos internautas brasileiros acessam sites pornôs.[2]

Todo esse universo de informações, quer sejam boas ou más, estão a um clique do mouse. Crianças, jovens e adultos podem, em uma fração de segundos, ser contaminados com toda a maldade que esse mundo pode produzir.

Como se prevenir?
III. Campo Minado

Alguns crêem que os perigos da internet limitam-se a exposição de material pornográfico às crianças. Embora realmente essa seja uma ameaça real, a internet apresenta malefícios a todas as faixas etárias, classes sociais e raças. Nessa lição, porém, abordaremos os perigos da internet trataremos dos principais problemas que crianças podem ter com a internet e como os pais podem e devem interagir coma questão.

1. Abismo de Gerações

A popularização da internet fez com que muitas crianças tivessem já contato com essa tecnologia e, de certa forma, criou um certo distanciamento tecnológico dentro dos lares: filhos conectados e pais alienados. Enquanto a geração que chega já está plugada (jargão usado para alcunhar aqueles que costumam navegar na internet), a geração anterior ainda prefere o uso da televisão e telefone para se divertir e se comunicar.
Esse distanciamento faz com que muitos pais estejam alheios ao modo que seus filhos usam a internet. O uso do computador deve ser feito sob a orientação dos mais velhos e, para isso, os pais devem se esforçar para entender e acompanhar as novas tecnologias aderidas com tanta facilidade por seus filhos e, assim, aproveitar para ensiná-los em todo o tempo, de todas as formas: “Guardem sempre no coração as leis que eu lhes estou dando hoje e não deixem de ensiná-las aos seus filhos. Repitam essas leis em casa e fora de casa, quando se deitarem e quando se levantarem. Amarrem essas leis nos braços e na testa, para não as esquecerem; e as escrevam nos batentes das portas das suas casas e nos seus portões. ” (Dt 6.6-9 – NTLH)

2. Diminuindo a Distância
A educação de filhos é uma tarefa que deve ser encarada de uma maneira profissional. Isso quer dizer que é uma empreitada que demanda tempo, interesse e planejamento. Se assim não o for, não haverá garantias de que a criança cresça permanecendo nos caminhos do Senhor.

A seguir, apresentamos algumas demandas, tendo como pano de fundo a ordem de Deus em Deuteronômio 6.6-9:
Empenho – Ensinar não é uma tarefa fácil, se o fosse, não passaríamos oito ou nove anos da nossa vida para cumprirmos apenas o ensino fundamental. É necessário dedicação por parte dos pais devido à importância desta tarefa. Os pais precisam se adiantar ao problema. Em vez de falar de pornografia somente quando descobrem (na maioria das vezes por acaso) que seus filhos fazem uso de pornografia pela internet, determine um momento para que juntos, investigando na Bíblia, possam ser orientados a respeito.
Perseverança – Muitos pais reclamam: “Já falei mil vezes a mesma coisa e parece que meu filho não aprende!” Nunca podemos nos esquecer de que é necessário perseverar para que haja aprendizado. É assim que Deus nos trata na sua Palavra. Existem muitas repetições na Bíblia. Elas não estão ali por acaso. É que somos teimosos mesmo; é de nascença.
Naturalidade – “…delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” Isso mostra que o processo de ensino tem que ser o mais natural possível. Os pais devem aproveitar as oportunidades que os momentos com os filhos propiciam para educá-los no caminho do Senhor. Isso está na contramão da prática atual da sociedade. Os pais modernos acham que ensinar se resume àqueles momentos em que o filho apronta alguma coisa e os pais dizem a célebre frase: “Filho, vamos conversar lá no seu quarto”. Essa não é a melhor educação. Isso nem sequer é educação, pois é correção. Mas como corrigir algo que nem sequer foi ensinado? Aproveite
Exemplo – “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos…” Como já vimos anteriormente, só podemos ensinar aquilo que está em nosso coração. Se assim não o for, correremos o perigo de borrar com o braço aquilo que escrevemos com a mão. Como você ensinará seu filho a fazer um bom uso da internet se você mesmo não faz?
3. Um exemplo de Educação

A atitude do Presbítero Solano Portela merece um destaque por em ao encontro daquilo que Deus espera de um homem na liderança de seu lar. Ele escreveu um “Pacto de Pureza” para toda sua família e pediu para que cada um o subscrevesse e, com isso, se comprometessem em fazê-lo cumprir. O texto está transcrito a seguir[3]:
Pacto de Pureza

Por Solano Portela

O documento a seguir está sendo postado como uma contribuição aos esforços que devem ser realizados por nós cristãos para manter a pureza no lar, especialmente em uma era onde nossas casas estão tão sujeitas à invasão da pornografia pela televisão e pela Internet. Este pacto tem sido mencionado em palestras ministradas sobre o assunto “Integridade” e distribuído aos solicitantes. O pensamento básico é que a formalização de um pacto familiar traz, em si, muito mais força e comprometimento pessoal do que a simples menção ou repetição de diretrizes, que são facilmente esquecidas. A Palavra de Deus nos dá muitos exemplos de pactos solenes e vivemos em uma era de informalidades, onde a confirmação pública de intenções vai desaparecendo. Não podemos esquecer a responsabilidade dos pais na administração do lar, formulando as regras de convivência e comportamento a todos os que ali habitam, principalmente aos filhos. A imposição de certos limites deve ser feita em amor, mas com firmeza. Eles nunca devem ser excessivos e irracionais, mas sim extraídos da Palavra de Deus e fundamentados nos princípios cristãos. Que Deus possa abençoar a cada um que veja utilidade na aplicação deste recurso.
Nós, abaixo assinados, pessoas responsáveis perante o nosso Soberano SENHOR e Criador; habitantes deste lar; conscientes dos males da nossa geração e, especialmente, dos perigos em potencial para os nossos corações e mentes, possibilitados pela utilização da Internet; desejosos de utilizar este meio unicamente como uma ferramenta abençoada providenciada pelo SENHOR para o fortalecimento do nosso conhecimento da criação de Deus, para entretenimento saudável, e para comunicação rápida e eficaz com nossos familiares e amigos; contribuindo, na medida de nossas possibilidades, com o avanço do Reino de Deus; nos achegamos, conjuntamente, nesta ocasião para pactuar e concordar nos seguintes pontos:
1. Não nos envolveremos em qualquer tipo de conversação, por “chat”, por “e-mail”, ou por outra forma qualquer, que não esteja em harmonia com as diretrizes da Bíblia. Da mesma maneira, teremos a coragem necessária de demonstrar nossa ética e convicções cristãs perante nossos amigos e conhecidos, fazendo uma dissociação de nossas pessoas de qualquer interação que, em seu andamento, der sinais de que está progredindo na direção errada.
2. Imediatamente “deletaremos” qualquer “e-mail”, anúncio, propaganda, ou material recebido pela Internet, que venha a sugerir (mesmo que o grau de sugestão seja mínimo) imoralidade, pornografia e linguagem imprópria; e não seguiremos os passos e laços contidos nessas comunicações, exercitando todo o esforço para não procurarmos leitura e exame demorados no material que contém estes tipos de apelo.
3. Não tomaremos a iniciativa de “pesquisar” e de dar andamento a “links” a quaisquer sites que apresentem ou promovam imoralidade e pornografia.
4. Depois de realizarmos uma pesquisa legítima, em qualquer assunto, não vamos “clicar” em qualquer “link” que possa vir junto da pesquisa legítima, mas que sugira ou atraia a sites de teor pornográfico ou imoral.
5. Procuraremos fazer com que nossos hóspedes, visitantes e amigos, que freqüentam o nosso lar, cumpram este pacto. Não teremos receio de falar explicitamente sobre estes padrões e demandaremos que qualquer envolvimento nas práticas condenadas neste pacto, cessem imediatamente.
6. Sabedores que apesar de sermos salvos pelo poder e pelo sangue de Cristo Jesus, temos ainda um coração que é enganoso; que Satanás espera oportunidades para agir, visando a destruição de nossas almas e vidas; que estaremos em uma melhor posição de guarda deste pacto se mantivermos prestação de contas, uns para com os outros, sem criar ocasiões para o pecado; estaremos restringindo o acesso à Internet aos computadores comuns existentes em nossa sala de estar, e não teremos acesso em nossos quartos.
7. Temos a percepção completa de que a questão da “privacidade” é secundária à questão da “pureza”, coberta por este pacto. Temos a convicção de cada subscritor tem direito à sua vida privada e seus relacionamentos individuais; entretanto, “privacidade” NUNCA deverá ser utilizada como uma cobertura ao pecado, ou para a quebra de nossas obrigações, como cristãos, às determinações que especificam a pureza como caminho a ser seguido pelo servo de Deus.
8. Não promoveremos, nem encaminharemos piadas sujas, ou qualquer outro tipo de material que contenha pontos objetáveis, impuros ou impróprios. Nos desligaremos de qualquer lista que demonstre costumeira remessa de matérias de conteúdo duvidoso, ou que dá mostras a estar caminhando nesta direção.
9. Entendemos que os nossos “portais”, provedores, ou “gateways” poderão conter chamadas a páginas e sites que levam a situações condenáveis ou colocadas perigosamente nos limites. Não seguiremos essas “chamadas” ou qualquer “link” que contenha pessoas com pouca roupa, sabedores de que tais situações destroem a dignidade daquelas pessoas, como criaturas de Deus, e que oferecem as nossas mentes e corações oportunidades de pecarmos contra o SENHOR.
10. Sabemos que apesar do propósito deste pacto ser a utilização da Internet, a questão da “pureza” não está restrita a esta área, mas cobre todos os aspectos de nossas vidas pessoais. Consequentemente, nos esforçaremos para nos lembrar de nossas responsabilidades semelhantes nos filmes que viermos a ssistir – em casa e com nossos amigos, nos programas de televisão que viermos a assistir, nas músicas e letras que viermos a ouvir e nos relacionamentos que tivermos com outras pessoas.
Baseamos essas decisões não no nosso próprio poder, mas confiantes no livramento divino da tentação e do pecado; considerando a questão da “pureza” não uma expressão de auto-justiça, mas um simples enquadramento nas diretrizes da Palavra de Deus, especialmente como lemos em Rm 6:19; Fp 4:8; 2 Co 12:21; Gl 5:19; Ef 5:3; Cl 3:5 – assinamos este pacto no ______ dia de _____________, no ano da graça do Nosso Senhor Jesus Cristo de Dois mil e Dois, na cidade de _________________________.
Conclusão

Há algum tempo, quando a televisão se estabeleceu no cotidiano humano, muitos cristãos tomaram atitudes radicais em relação ao uso dessa tecnologia. Alguns se renderam de tal forma, que não tiveram qualquer escrúpulo em aceitar qualquer coisa mostrada na programação, por mais imoral que fosse. Por outro lado, outros, decidiram extirpar qualquer contato com a TV determinando que “assistir televisão é pecado”.

Por incrível que pareça, atitudes radicais sempre são mais fáceis de serem tomadas do que tentar viver a vida de uma forma equilibrada priorizando critérios cristãos no relacionamento com a cultura. Isso se encaixa como uma luva no que tange ao uso da internet.

2015-08-17

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pr fernandoalmeida*Esse texto foi postado originalmente no revfernandoblogspot.com.br, republicado mediante autorização. Veja o original aqui.

** Fernando de Almeida é Ministro Presbiteriano. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano “Rev. José Manoel da Conceição”; Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pós Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília; Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutorando em Letras. Escritor de revistas para Escola Dominical pela Editora Cultura Cristã.