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A Bíblia nos diz que Deus tem um povo eleito – uma família neste mundo. Todos os pobres pecadores que foram convencidos dos seus pecados, e foram a Jesus para obter a paz, formam esta família. Todos nós que realmente cremos em Cristo para a nossa salvação somos membros dela. Agora Deus, o Pai, está sempre treinando os membros desta família para a sua eterna habitação com Ele no céu. Ele age como um lavrador podando as suas vinhas para que produzam mais frutos. Ele conhece o caráter de cada um de nós – os pecados que nos assediam, as nossas fraquezas, as nossas enfermidades peculiares, as nossas necessidades especiais. Ele conhece o nosso trabalho e onde nós moramos, quem são os nossos companheiros nesta vida, e quais são as nossas provações, as nossas tentações e os nossos privilégios. Ele sabe todas estas coisas e está sempre ordenando tudo isso para o nosso bem. Ele destina a cada um de nós, na Sua providência, aquelas mesmas coisas de que nós precisamos, a fim de que possamos produzir mais frutos – o máximo de sol que possamos suportar, e o máximo de chuva. O tanto de coisas amargas que possamos suportar, e o tanto de coisas doces. Leitor, se você deseja treinar os seus filhos sabiamente, veja bem como o Deus Pai treina os Seus filhos. Ele sempre faz o que é bom; o plano que Ele adota tem de ser o correto.

Veja, então, quantas coisas há que Deus retém dos seus filhos. Poucos podem ser encontrados, eu suspeito, dentre aqueles que nunca tiveram desejos que não aprouve a Ele atender. Sempre houve aquela uma coisa que eles desejavam obter, contudo sempre houveram barreiras que o impedissem de alcança-la. Tem sido como se Deus estivesse colocando esta determinada coisa acima do nosso alcance, e dizendo: “Isto não é bom para você; você não pode ter isso.” Moisés extremamente desejava cruzar o Jordão para ver a boa terra prometida, mas você lembrará que o seu desejo nunca lhe foi concedido.

Veja, também, o quão frequentemente Deus guia o seu povo por caminhos que parecem escuros e misteriosos aos nossos olhos. Nós não conseguimos ver o significado de todas as maneiras como Ele lida conosco; nós não conseguimos ver a razoabilidade da trilha na qual os nossos pés estão pisando. Às vezes, tantas provações nos têm assaltado – tantas dificuldades nos têm cercado – que nós não temos podido descobrir a razão de tudo isso. Tem sido como se o nosso Pai estivesse nos guiando pela mão por dentro de um lugar escuro e dizendo: “não pergunte nada, apenas Me siga”. Havia uma estrada direta do Egito para Canaã, contudo Israel não foi guiado por ela, mas ao redor dela, por meio do deserto. E isso foi difícil para eles naquela época. “o povo”, nos é dito, “se tornou impaciente no caminho” (Ex. 13:17; Num.21:4).

Veja, também, o quão frequentemente Deus castiga o seu povo com provações e aflições. Ele os envia cruzes e desapontamentos. Ele os aflige com doenças. Ele retira deles as suas propriedades e os seus amigos; Ele os coloca em diferentes posições; Ele os visita com as coisas mais difíceis para a nossa carne e sangue; e alguns de nós têm praticamente desmaiado debaixo dos fardos que têm sido colocados sobre nós. Nós temos nos sentido pressionados além das nossas forças; e temos ficado quase prontos para murmurar contra a mão Daquele que nos castiga. O apóstolo Paulo tinha um espinho na carne que foi designado para ele, uma amarga tentação corporal, sem dúvida, embora nós não saibamos exatamente do que se tratava. Mas uma coisa nós sabemos: ele três vezes suplicou ao Senhor para que aquilo lhe fosse retirado, mas o Senhor não o fez (2 Cor. 12:8-9).

Agora, leitor, apesar de todas estas coisas, você já ouviu sequer um filho de Deus dizer que acha que o seu Pai não o tratou sabiamente? Não, eu tenho certeza de que você nunca ouviu isso. Os filhos de Deus sempre lhe contarão, a longo prazo, que foi uma bênção eles não terem tudo como queriam, e que Deus tem feito, de longe, melhor para eles do que eles poderiam ter feito para si próprios. Sim! E eles poderiam lhe dizer também que o lidar de Deus tem lhes providenciado muito mais alegria do que eles poderiam pensar obter por si mesmos, e que o Seu caminho, embora às vezes seja escuro, foi o caminho da alegria e a estrada da paz.

Eu peço que você guarde em seu coração a lição que o modo como Deus lida com o Seu povo quer lhe ensinar. Não tema reter da sua criança tudo o que você pensa não ser bom para ela, sejam quais forem os seus próprios desejos. Este é o plano de Deus.

Não deixe de castigar e corrigir os seus filhos sempre que você ver que a saúde das suas almas requer disciplina, não importa o quão doloroso isso pode ser para os seus sentimentos; e lembre sempre que os remédios para a mente não devem ser rejeitados simplesmente por serem amargos. Este é o plano de Deus.

E não tema, acima de tudo, que tal plano de treinamento deixará a sua criança infeliz. Eu lhe admoesto contra esta ilusão. Dependa disto: não há um caminho mais seguro para a infelicidade do que sempre ter tudo do seu próprio jeito. Ter as nossas necessidades conferidas e negadas é uma bênção para nós; isso faz com que possamos gozar melhor dos prazeres quando eles vêm a nós. Ter sempre os nossos desejos atendidos é o melhor jeito de nos tornar egoístas. E creia em mim, pessoas egoístas, assim como crianças mimadas, dificilmente são felizes.

Leitor, não tente ser mais sábio que Deus: treine os seus filhos como Ele treina os Seus.

2014-09-02

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j-c-ryle-profile2* Esse artigo foi publicado em português originalmente no blog Maçãs de Ouro e re-publicado com autorização da tradutora. Trata-se da tradução de um capítulo do livro “Os Deveres do Pais”.  Observação: Esse livro foi publicado em português pela Editora Letras, porém esse texto não foi tirado da edição em português, é uma tradução independente.

** John Charles Ryle, comumente referido com J.C.Ryle foi um clérigo inglês, e o primeiro bispo da diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool. Ele foi espiritualmente despertado em 1838 enquanto ouvia a leitura de Efésios 2 na igreja e foi ordenado em Winchester em 1842. Ryle ficou muito conhecido por defender a doutrina evangélica da Igreja da Inglaterra contrária ao Anglo catolicismo, por meio de diversos tratados e livretos, chegando a ser reconhecido como um dos lideres da chamada “Baixa Igreja” da Inglaterra. Alem desses tratados, Ryle procurou sempre escrever material para que o povo pudesse compreender as doutrinas cristãs evangélicas, e escrever diversos livros práticos, como “Santidade” , e os “Comentários aos Evangelhos”.

*** Tradução:  Anna Layse Anglada Davis