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VI. Treine-as a possuírem o hábito de orar

A oração é o verdadeiro fôlego de vida da verdadeira religião. É uma das primeiras evidências de que uma pessoa é nascida de novo. Pois como disse o Senhor de Saulo, no dia em que enviou Ananias até ele: “Pois ele está orando.” (Atos 9:11) Ele havia começado a orar e isto já era prova suficiente da obra que o Espírito começou a realizar em seu coração.

A oração era a marca distintiva do povo do Senhor no dia em que começou a haver separação entre eles e o mundo: “daí se começou a invocar o nome do Senhor” (Gên. 4:26).

A oração é a peculiaridade de todos os verdadeiros cristãos agora. Eles oram, pois eles contam a Deus as suas necessidades, os seus sentimentos, os seus desejos, os seus medos, e o fazem com sinceridade. O cristão nominal pode repetir orações, e até mesmo boas orações, mas ele não passa daí.

A oração é o ponto de virada na alma do homem. O nosso ministério não terá proveito algum, e todo o nosso labor será em vão até que você seja trazido aos seus joelhos. Até que isso aconteça, não podemos ter esperança alguma em você.

A oração é o grande segredo da prosperidade espiritual. Quando há muita comunhão privada com Deus, a sua alma cresce como a grama após a chuva; quando há pouca comunhão, tudo fica estancado e você mal pode manter a sua alma com vida. Mostre-me um cristão crescendo na fé, um cristão seguindo avante, um cristão forte e florescendo na fé, e com toda a certeza, ele será alguém que fala constantemente com o seu Senhor. Ele pede muito, e assim tem muito. Ele conta tudo a Jesus, e por isso ele sempre sabe como agir.

A oração é a ferramenta mais poderosa que Deus tem colocado em nossas mãos. Ela é a melhor arma a ser utilizada em qualquer dificuldade, e o remédio mais certo para qualquer problema. Ela é a chave para abrir o tesouro das promessas, e a mão que se estende para receber graça e ajuda no tempo da necessidade. Ela é a trombeta de prata que Deus nos ordena a tocar em toda a nossa necessidade, e ela é o pranto que Ele prometeu sempre atender, assim como uma amorosa mãe atende à voz do seu filho.

A oração é o meio mais simples que o homem pode fazer uso para se achegar a Deus. Ela está ao alcance de todos – do doente, do idoso, do enfermo, do paralítico, do cego, do pobre, do homem de pouco entendimento – todos podem orar. De nada lhe adiantará clamar falta de memória, ou falta de conhecimento, ou falta de livros, ou falta de escolaridade nesta questão. Desde que você tenha uma língua para falar do estado da sua alma, você pode e deve orar. As seguintes palavras: “nada tens, porque não o pedistes” (Tiago 4:2), serão uma temerosa condenação para muitos no dia do julgamento.

Pais, se vocês amam aos seus filhos, faça tudo que está ao seu poder para treiná-los ao hábito da oração. Mostre a eles como começar a orar. Diga a eles o que dizer. Encoraje-os a perseverar. Lembre-os de que precisam orar, quando eles se tornarem negligentes e descuidados nesta questão. Que não seja culpa sua, em qualquer grau, se eles nunca chamarem pelo nome do Senhor.

Lembre-se, este é o primeiro passo da religião que uma criança é capaz de tomar. Muito antes de ela poder começar a ler, você pode ensiná-la a se ajoelhar ao seu lado e a repetir simples palavras de oração e de louvor que você coloca em sua boca. E como os primeiros passos em qualquer tarefa são sempre os mais importantes, assim também a maneira como os seus filhos oram deve ser um ponto que merece a sua maior atenção.

Poucos parecem entender o quanto depende disso. Você deve ter cuidado para que eles não venham a repetir as suas orações de um modo apressado, descuidado ou irreverente. Você não deve delegar a vigilância quanto a isso a servos ou babás, ou confiar demais que os seus filhos irão orar quando deixados por si próprios. Eu não posso louvar uma mãe que nunca toma para si mesma a supervisão sobre o aspecto mais importante da vida diária de seus filhos. Certamente, se há algum hábito que a sua própria mão e os seus próprios olhos devem ajudar a formar, este hábito é o da oração.

Acredite em mim, se você mesma nunca ouvir os seus filhos orarem, você se encontra em grande culpa. Você é pouco mais sábia do que o pássaro descrito em Jó: “Ele deixa os seus ovos na terra, e os aquenta no pó, e se esquece de que algum pé os pode esmagar ou de que podem pisá-los os animais do campo. Trata com dureza os seus filhos, como se não fossem seus; embora seja em vão o seu trabalho, ele está tranquilo…” (Jó 39:14-16).

A oração é, dentre todos os hábitos, aquele do qual nós nos recordamos por mais tempo. Muitos homens, já em suas cãs, poderão lhe contar como a sua mãe costumava fazê-lo orar nos dias da sua infância. Muitas outras coisas talvez tenham se esvaziado da sua memória: a igreja para a qual ele era levado ao culto, o ministro que ele ouviu pregar, os companheiros com os quais costumava brincar – tudo isso talvez possa ter saído da sua memória sem deixar marca alguma. Mas você frequentemente verá que isso não acontece com as suas primeiras orações. Muitas vezes, ele poderá lhe dizer onde se ajoelhava, e o que era ensinado a dizer, e até mesmo como a sua mãe lhe parecia durante todo o tempo. Tais coisas ressurgirão com tanto frescor diante da sua mente como se tivessem ocorrido ontem.

Leitor, se você ama os seus filhos, eu o admoesto, não deixe que o momento de semear o hábito da oração passe sem que você tome proveito dele. Se você treinar os seus filhos a qualquer coisa, treine-os pelo menos ao hábito da oração.

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j-c-ryle-profile2* Esse artigo foi publicado em português originalmente no blog Maçãs de Ouro e re-publicado com autorização da tradutora. Trata-se da tradução de um capítulo do livro “Os Deveres do Pais”.  Observação: Esse livro foi publicado em português pela Editora Letras, porém esse texto não foi tirado da edição em português, é uma tradução independente.

** John Charles Ryle, comumente referido com J.C.Ryle foi um clérigo inglês, e o primeiro bispo da diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool. Ele foi espiritualmente despertado em 1838 enquanto ouvia a leitura de Efésios 2 na igreja e foi ordenado em Winchester em 1842. Ryle ficou muito conhecido por defender a doutrina evangélica da Igreja da Inglaterra contrária ao Anglo catolicismo, por meio de diversos tratados e livretos, chegando a ser reconhecido como um dos lideres da chamada “Baixa Igreja” da Inglaterra. Alem desses tratados, Ryle procurou sempre escrever material para que o povo pudesse compreender as doutrinas cristãs evangélicas, e escrever diversos livros práticos, como “Santidade” , e os “Comentários aos Evangelhos”.

*** Tradução:  Anna Layse Anglada Davis