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A óbvia (às vezes nem tanto!) necessidade da boa saúde do pastor .

Naturalmente, muito se espera do pastor uma clara saúde espiritual. Ele deve estar em comunhão com Deus, deve amar a Palavra de Deus, ter vida de oração, participar e ministrar corretamente da Santa Ceia do Senhor, vida de comunhão com os irmãos etc. Isso é de fato prioridade! Contudo, não é incomum encontrarmos pastores com vários problemas de saúde. Problemas de pressão, dores nas costas, nervo ciático, gastrite, obesidade, colesterol alto, diabetes descontroladas são até comuns, infelizmente, e pouco falado (e cobrado!) na igreja. Alguns até mesmo têm uma ideia gnóstica de que o importante é cuidar do espírito, pois o corpo é mau, uma prisão da alma, temporário e descartável. Creio que muitos desses problemas têm raízes espirituais, mas não será o foco do texto. Procurarei nesse artigo expor resumida e biblicamente por que o cuidado com a saúde é importante e, num artigo posterior, dar algumas sugestões práticas para o pastor e igreja.

        Primeiramente, Deus criou o homem com corpo e alma (Gn 2.7), e após finalizar toda a criação, disse claramente que tudo era “muito bom” (Gn 1.31). Isso implica naturalmente que o corpo humano não é inerentemente mau. Deus criou o corpo humano santo e bom, embora o pecado o tenha corrompido. A encarnação e a ressurreição de Cristo também evidenciam a importância do corpo humano para Deus (Jo 1.14; Lc 24.37-43). Além disso, o cuidado com a saúde não é apenas bom para o homem, mas faz parte do cumprimento do sexto mandamento, “Não matarás” (Ex 20.13). Esse mandamento envolve mais do que apenas não cometer assassinato, mas também a justa preservação da vida humana. O Catecismo Maior de Westminster, na resposta à pergunta 135, nos instrui que devemos “estudar criteriosamente e esforçar-se licitamente para em tudo preservar a nossa vida e a dos outros; (…) de comer, beber, medicar-se, dormir trabalhar e recrear-se com sobriedade”[1]. Um texto muito claro que ilustra a importância que os apóstolos davam para a saúde física se encontra em 3 João 2, onde João escreve para um cristão chamado Gaio, companheiro do apóstolo Paulo e cooperador do evangelho: “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma”. Igualmente, o apóstolo Paulo escreve para o jovem pastor Timóteo acerca do cuidado de sua saúde: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades” (1Tm 5.23). Aos Efésios, escreve: “Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida”, explicando ser natural uma pessoa cuidar do próprio corpo. Além do texto bem conhecido que afirma que o corpo do cristão não pertence mais a si próprio, mas a Deus, como templo do Espírito Santo, comprado pelo sangue de Cristo (1Co 6.19,20). Tiago, irmão do Senhor, preocupado com a saúde dos membros da igreja, escreve: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor” (Tg 5.14). O próprio Senhor Jesus, não apenas pregava o evangelho, mas se compadecia dos doentes, curando suas enfermidades e alimentando-os para não desmaiarem no caminho (Mt 9.35; Mc 8.3), cumprindo assim a essência do sexto mandamento.

        Entendendo a importância do cuidado com a saúde, algo mais precisa ser mencionado. “A duração da vida física não é prioridade máxima na Escritura”, pois mesmo os apóstolos, bem como os santos do capítulo 11 de Hebreus e o próprio Senhor Jesus se submeteram à perigos, fome, sede, violência e morte por amor a Deus. Ademais, a Escritura afirma que enquanto vivemos num mundo de sofrimento, devemos esperar a glória que há de ser revelada (Rm 8.17; 1Pe 4.12,13),[2] a transformação de nosso corpo de humilhação à igualdade do corpo glorioso e incorruptível de Cristo, em sua segunda vinda (Fp 3.21; 1Co 15.53).

        Sabendo dessas exortações da Palavra de Deus, reconhecemos tanto a responsabilidade do pastor em cuidar de si, como da igreja em cuidar de seu pastor. O cuidado com a família e com o povo de Deus exige naturalmente que o pastor tenha saúde, e esta, é incumbência primária dele. Pouco se produz doente ou fadigado. Sermões e estudos não terão a devida profundidade, visitas e aconselhamentos se tornarão um grande fardo. Até mesmo as leituras da Bíblia e de livros teológicos terão menos concentração. Portanto, pastor, “atendei por vós e por todo o rebanho de Deus” (At 20.28) por amor ao Senhor, e igreja, atentem amorosamente para a saúde de seus pastores, “pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hb 13.17). Acima de tudo, dependamos da graça do Senhor Jesus, pois sem ele nada podemos fazer (Jo 15.5).


[1] VOS, Gehardus Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. Recife: Editora Puritanos, 2015, p. 417.

[2] FRAME, John M. A Doutrina da Vida Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013, p. 706.

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Daniel Aoki está cursando o Magister Divinitatis (MDIV), com área de concentração em Estudos Pastorais e linha de pesquisa em Aconselhamento Bíblico, no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (São Paulo-SP), e Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, pela Universidade de Mogi das Cruzes (Mogi das Cruzes-SP). É pastor-efetivo na Igreja Presbiteriana do Brasil de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes-SP.