“Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (João 4.34).

            Ao contrário do que se possa crer ou imaginar, falar e escrever sobre paixão pelo ministério não é nada fácil, muito pelo contrário, é algo realmente complexo. Complexo porque envolve muitas coisas, entre elas, o pleno entendimento do que é o ministério, o entendimento da vocação para o ministério e o referencial ou paradigma para a realização desse ministério.

            Ministério é um “termo usado, na linguagem cristã, tanto em um sentido mais amplo, como mais estrito. Em seu sentido mais amplo, refere-se ao serviço prestado por qualquer pessoa a Deus ou a seu povo. Em uso mais estrito, denota o serviço reconhecido oficialmente, de determinadas pessoas, devidamente designadas para isso (geralmente por meio de ordenação formal) pelas igrejas”.[1]

            A segunda definição que julgo importante, para entendermos nosso tema, é vocação pastoral. Trata-se de uma palavra latina para “chamado”, indicando o convite de Deus à salvação ou a papéis particulares de serviço.

            Quanto ao paradigma para o ministério, julgo não poder existir outro, senão o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o nosso Pastor. Afinal de contas, foi ele quem disse: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Cf. Jo 10.11).

            Dito isso, quero lembrar que o ministério pastoral tem um duplo aspecto; ao mesmo tempo em que é espinhoso, é altamente honroso e motivador. Contudo, alguns têm perdido esta visão e focam apenas nas dificuldades, nos espinhos, inclusive se escudando neste motivo para deixarem de cumprir cabalmente o seu ministério.

            Destaco aqui neste artigo três componentes, que alavancam, ou deveriam alavancar a paixão pelo ministério em cada pastor, senão vejamos.

            Vida devocional. O pastor mais do que ninguém sabe a necessidade de manter uma vida devocional com Deus. Isto envolve oração, leitura e meditação na Palavra de Deus. Em pesquisa realizada nos Estados Unidos com pastores de diversas denominações, a média de tempo gasto em oração é vinte e dois minutos. Conquanto não se tenha números no Brasil, a situação não deve ser muito diferente. Já quando o assunto é leitura e meditação da Palavra de Deus, muitos mantêm a prática de lerem a Bíblia apenas quando vão preparar seus sermões. Não faz muito tempo que participei de uma comissão para selecionar obreiros para servir um dos órgãos de missões da nossa igreja. Foi quando me deparei com um pastor, que já tinha mais de vinte anos de ministério, mas ainda não havia lido a Bíblia completamente. Tentando se explicar ele afirmou que  já havia lido o Novo Testamento diversas vezes, mas que até aquele momento não havia lido o Antigo Testamento completamente, nem ao menos uma vez, durante todo o seu tempo de vida e ministério.

            Pregação da Palavra. A fiel pregação da Palavra de Deus é uma das marcas de uma igreja verdadeira. John A. Broadus dizia que a Pregação da Palavra é a coroa do ministério pastoral. Mas, infelizmente para muitos, esta não tem sido uma realidade. Pregar fielmente a Palavra de Deus, exige do pastor paixão pela verdade, até porque Jesus em sua oração sacerdotal rogou ao Pai que santificasse o seu povo na verdade, e destacou, “a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17b). Infelizmente muitos têm perdido a paixão por pregar a verdade de Deus, muitas vezes, por questões pessoais, ou outras vezes porque prefere ser politicamente correto, não explicitando a verdade, mas acomodando-a ao gosto do seu ouvinte.

            Aconselhamento Bíblico e Visitação Pastoral. Estas são duas atividades que também devem causar grande alegria ao coração do pastor. Talvez estas sejam as tarefas mais desgastantes a se fazer no ministério pastoral, porém, também são gratificantes. Aconselhar biblicamente pessoas que estão passando por dificuldades, deve ser uma grande paixão do ministério. É no gabinete pastoral que o pastor sentirá a verdadeira necessidade da ovelha. É no gabinete pastoral que o pastor sentirá o cheiro da ovelha. E desta perspectiva detectará que tipo de alimento dará a sua ovelha. E o que falar a respeito da visita pastoral? Esta é uma incumbência que vem sendo negligenciada por muitos, que preferem ficar no conforto dos seus gabinetes, sem se preocupar ou procurar a ovelha doente, perdida e desgarrada. Esquecem do que ensinou o nosso Senhor Jesus, quanto à atitude correta do pastor em buscar da ovelha perdida (Cf. Lc 15.2-7). Um pastor que desempenha o seu ministério com paixão, deixa as noventa e nove no aprisco, vai procurar a ovelha desgarrada, quando encontra-a, põe-na nos seus ombros, cura suas feridas e declara a todos os seus amigos e vizinhos que achou a sua ovelha perdida. Isto é paixão pelo ministério.

            Por fim, destaco que paixão pelo ministério envolve a renúncia do “eu”, e até das minhas necessidades em prol da ovelha. O exemplo clássico foi dado pelo Bom Pastor, Jesus Cristo, quando do seu encontro com uma mulher samaritana. Mesmo cansado e faminto, Jesus responde as indagações dos seus discípulos, afirmando que a sua comida consistia em fazer a a vontade de Deus e cumprir a sua tarefa, prazerosamente.

            Concluo este artigo dizendo que se estivermos fazendo isto na nossa vida e ministério, aí sim poderemos, não somente afirmar, mas também demonstrar em nossa vida, que temos Paixão pelo Ministério.

            Em Cristo,

            Rev. Marcos André Marques.


[1] FERGUSON, Sinclair B., WRIGHT, David F. Novo Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2009. p.678.

Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife-PE), Especialista em Revitalização e Multiplicação de Igreja, Mestre em Teologia Sistemática e Doutorando em Ministério pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (São Paulo-SP).

É pastor efetivo da Igreja Presbiteriana de Brotas em Salvador-BA.

Casado com Jane há 39 anos com quem tem três filhos e dois netos.