Dentre os motivos pelos quais as igrejas devem orar, ao Senhor, pelos seus pastores está a proteção do coração deles dos perigos do pecado. Deus chamou seus ministros, como seus embaixadores, para alertarem ao Seu povo contra o perigo do pecado (Ezequiel 3.17, 33.1ss; Tito 2.15). Tal tarefa, entretanto, não diminui o fato de que eles mesmos têm de estar atentos a tais perigos. O apóstolo Paulo adverte, incansavelmente, os presbíteros (docentes e regentes) da necessidade de atentarem para suas próprias vidas (1 Timóteo 4.7, 16; Atos 20.28; 1 Coríntios 9.27).[1]

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Então, POR QUE uma igreja orar por isso, comunitária e individualmente, é fundamental? A tentação de desconsiderar os perigos do pecado assola a todos, porém pode vir de maneira mais sorrateira aos ministros. Por lidarem, o tempo todo, pública (pregação da Palavra) e privadamente (aconselhamento), com alertas contra o pecado, eles mesmos podem cair na tentação de racionalizar e justificar (até piedosa e teologicamente) pecados em seu coração. Podem existir, pelo menos, duas finalidades para tal atitude: (1) não parecerem fracos ao rebanho, a quem ministram[2] e (2) sufocarem uma consciência culpada. Tornam-se, então, “autoenganadores muito habilidosos”.[3] Visto que aprendem a refutar todo engano, serão tentados a armarem suas próprias ciladas. Essa trilha os conduzirá à hipocrisia. A igreja deve orar porque é um perigo real no coração de seus pastores.

Os ministros não são menos necessitados da graça de Deus em Cristo; nem menos ordenados a fazerem uso dos meios de graça. Muito pelo contrário, quanto mais é dado a alguém, mais é cobrado dele (Lucas 12.48; Tiago 3.1); quanto maior a cobrança, maior a percepção de fraqueza e incapacidade (Isaías 6.5; Jeremias 1.6-7); quanto maior a percepção de fraqueza, maior a busca pela graça de Deus em oração (2 Coríntios 12.9). Que a Igreja de Cristo clame, constantemente, ao Seu Supremo Pastor (João 10.11; 1Pedro 2.25, 5.4), por essa graça para seus respectivos embaixadores de Cristo (2Coríntios 5.20ss; Ezequiel 34.8).

Dentre todos os MOTIVOS E BENEFÍCIOS que podem ser elencados para impelir a igreja a orar por isso constantemente, destaco dois: (1) orar por tal proteção aos ministros é orar pelo bem da Igreja de Cristo e da pregação do evangelho. Quando os príncipes e mestres de Israel se apartavam da piedade, isso afetava, diretamente, o povo (Oséias 4.6-9, Malaquias 2.1-9; Ezequiel 34.1ss). Quando tais príncipes caem, eles podem ser pedra de tropeço na Igreja de Deus (Salmo 69.6). O Supremo Rei e Perfeito Mestre da Igreja nunca cairá. Por isso, nunca a Igreja será destruída (Hebreus 7.25). Mas, sim, ai daqueles que forem pedras de tropeço para os pequeninos desse Rei (Mateus 18.6).

Na História, sempre que houve degeneração na Igreja, “as correntes da religião cristã foram poluídas por mestres corruptos”.[4] Os ouvintes do evangelho estão observando o quanto essa mensagem afeta seus embaixadores (Mateus 7.29); segue-se que “é dever dos ministros designados representar, por meio de sua vida e de seu ministério, o poder e a verdade das grandes e santas doutrinas que pregam”.[5] Se o coração do ministro está tomado pelo pecado, a Igreja sob o seu ministério padecerá profundamente, bem como, a pregação do evangelho aos ímpios. Que isso a leve orar por seus ministros.[6]

(2) Orar por tal proteção aos ministros é orar pela glória do nome de Deus. Ora, se Deus é glorificado quando todo e qualquer crente procede de forma santa (Mateus 5.16), muito mais, quando estes crentes são príncipes em Israel. Paulo teve um cuidado especial ao instruir Timóteo sobre a percepção dos de fora com relação aos presbíteros (1Timóteo 3.7).

A experiência tem mostrado que o mundo pode até “tolerar” um crente que tropeça, mas, se os próprios ministros têm seus corações tomados pelo pecado, o mundo escarnecerá deles para, assim, desmoralizar a pregação do evangelho. Como disse Richard Baxter: “outras pessoas poderão pecar e passar despercebidas, mas não os ministros de Deus”.[7] Satanás sabe que se atacar os ministros com maior intensidade, levará com eles os fracos e, assim, envergonhará o evangelho.

Crente, há suficientes, fortes e piedosas razões para que o seu pastor esteja sempre em suas orações. Se não sabe pelo que orar? Eis aqui um motivo: que o Senhor proteja o coração de seu pastor do pecado. Se você sabe, por sua experiência, das possíveis ciladas do pecado e as tentações comuns aos homens: ore para que Deus o livre dessas; se você sabe das tentações que envolvem o ministério: ore para que Deus o sustente para não cair nelas. Assim, toda a Igreja de Cristo será beneficiada; seu pastor será muito amado; e Cristo glorificado.


[1] Como Richard Baxter disse: “Atentem que não estejam vazios da mesma graça salvadora de Deus que oferecem a outros, alheios à operação efetiva do evangelho que pregam, para que, enquanto proclamam ao mundo a necessidade um Salvador, seu próprio coração não esteja o negligenciado e acabem perdendo o interesse no próprio Senhor e em Sua obra. Cuidem que não pereçam, morrendo de fome enquanto preparam o alimento para o povo” (BAXTER, Richard. Manual Pastoral de Discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 36).

[2] TRIPP, Paul. Vocação Perigosa: os tremendos desafios do ministério pastoral. São Paulo: Cultura Cristã, 2014. p. 16-18.

[3] Ibid., p. 27, p. 147-157.

[4] OWEN, John. Apostasia do Evangelho. Recife: Os Puritanos, 2002. p. 147.

[5]  Ibid., p. 150.

[6] O Catecismo Maior de Westminster diz, na pergunta 160: “Que se exige dos que ouvem a Palavra pregada? Exige-se dos que ouvem a Palavra pregada que atendam a ela com diligência, preparação e oração” (grifo nosso). A oração como exigência para ouvir a Palavra pregada não é apenas por si mesmo, mas pelo ministro que a ministrará; para que Deus o capacite na interpretação do texto, na apresentação do sermão e na vivência das verdades pregadas. Quão mais abençoados seriam os sermões se as igrejas orassem durante a semana pelo seu pastor, em especial, para que Deus guarde seu ministro do pecado e pregue a Palavra com a consciência pura.

[7] BAXTER, Richard. Manual Pastoral de Discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 56.

Christopher Vicente é bacharel em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN); Pós-graduado em Teologia Pastoral (Aconselhamento Bíblico) pelo SPN; Especializado em Pregação Expositiva pela Organização Pregue a Palavra; Pastor Efetivo da Igreja Presbiteriana Manancial do Natal (Natal-RN). Esposo de Narah Vicente e pai de Thomas Vicente.