family-prayingProposição 1
Deus é o Fundador de todas as famílias, logo famílias deveriam orar a Ele.

A sociedade dos lares geralmente é composta de três combinações: marido e esposa, pais e filhos, mestres e servos, e todas elas vêm de Deus (embora haja famílias em que nem todas as três estejam presentes, ainda assim pode-se vê-las num sentido amplo). A instituição de marido e mulher provém de Deus (Gn 2:21-24), bem como a de pais e filhos e de mestres e servos. A autoridade de um sobre o outro e a sujeição de um para com o outro é instituída por Deus e fundamentada na lei da natureza, que é a lei de Deus. Não só as pessoas, individualmente consideradas, têm suas existências provenientes de Deus, como a própria sociedade também. Assim, da mesma forma que uma única pessoa é ordenada a devotar sua vida ao serviço de Deus e a orar a Ele, a sociedade do lar é também ordenada a fazer o mesmo em conjunto, uma vez que uma sociedade é proveniente de Deus. Acaso Deus destinou a sociedade do lar apenas para o conforto mútuo dos seus membros ou do seu conjunto? Não a destinou também para Sua própria glória, mesmo a partir do conjunto? Acaso uma sociedade do lar vive para a glória de Deus sem servi-lo e sem orar a Ele? Porventura Deus deu autoridade para um comandar e governar, e para outro o encargo de obedecer, apenas em relação a coisas mundanas e não também espirituais? Pode o conforto da criatura ser o fim último de Deus? Não, é a Sua própria glória. Alguém é pela autoridade de Deus e pela ordem da natureza o “chefe da família” – assim chamado tanto em relação a seus servos, quanto a seus filhos – por causa do cuidado que ele deve ter com as almas dos seus servos e filhos e do culto que prestam a Deus juntamente com ele? E o chefe de família não deveria empregar o poder que Deus lhe deu sobre eles para Deus e para o bem-estar de todas as suas almas, chamando-as para cultuarem e orarem juntas a Deus? Que a razão e a religião respondam tais perguntas.

Proposição 2
Deus é o Dono das nossas famílias, logo elas devem orar a Ele.

Sendo Deus nosso absoluto Dono e Proprietário, não somente pela superioridade da Sua natureza, mas também pelo Seu direito de criador – dando-nos a existência e tudo o que temos –, nós mesmos e tudo que possuímos é mais d’Ele do que nosso, pelo que é inquestionável que devemos nos devotar a Deus naquilo em que formos mais úteis para o interesse e glória do nosso Dono. De quem são suas famílias, senão de Deus? Vocês irão negar Deus como seu Dono? Se vocês fizerem isso, ainda assim, de alguma forma, vocês são d’Ele, embora não por submissão e inteira devoção de a Ele. De quem vocês gostariam que sua família fosse: de Deus ou do diabo? Acaso o diabo tem algum direito sobre suas famílias? E devem suas famílias servir ao diabo, que não pode as reivindicar, nem a sua criação, preservação ou redenção? Você não servirá a Deus, que por todas essas coisas tem direito e completa e absoluta propriedade sobre você? Se vocês disserem que suas famílias são do diabo, então sirvam a ele. Entretanto, se vocês disserem que são de Deus, então sirvam a Ele. Ou vocês dirão “Nós somos de Deus, mas nós servimos o diabo”? Se vocês não disserem isso, mas ainda assim fizerem isso, não é tão ruim quanto? Por que vocês não se envergonham de fazer isso, mas se envergonham de falar e dizer ao mundo que o fazem? Falem, portanto, no temor de Deus. Se suas famílias, como tais, são de Deus, não é razoável que vocês devam servi-lo e orar a Ele?

Proposição 3
Deus é o Mestre e o Governador das suas famílias, logo, como tais, elas devem servi-lo orando a Ele.

Se Ele é o seu Dono, Ele é o seu Governador também. Não deu Ele leis para vocês seguirem e obedecerem, não apenas como pessoas individuais, mas também como uma sociedade, em conjunto? (Ef 5:25-33, 6:1-10; Cl 3:19-25, 4:1). É Deus, então, o Mestre da sua família e ela não deveria, portanto, servi-lo? Os súditos não devem prestar obediência a seus governantes? “O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor: Se eu sou pai, onde está a minha honra? E se eu sou o senhor, onde está o respeito para comigo?” (Ml 1:6). Onde está, então? Não em famílias que não oram e que não tem temor de Deus.

Proposição 4
Deus é o Benfeitor das suas famílias, logo elas devem servi-lo orando a Ele e louvando-o.

Deus não faz bem a vocês e lhes dá bênçãos apenas como pessoas individuais, mas também como uma sociedade, em conjunto. Não é a preservação da vida do chefe de família não só misericórdia para com ele, mas para com toda a família? Não é preservar a vida e a saúde da mãe, dos filhos e dos servos misericórdia para com a família? Ter uma casa para morarem juntos e comida para comerem juntos não são misericórdias familiares? E essas misericórdias não clamam aos seus ouvidos e a suas consciências que, juntos, vocês deem louvores ao seu generoso Benfeitor e, juntos, orem pela continuidade delas, concedendo mais conforme delas necessitem? Seria interminável enumerar as várias formas pelas quais Deus é um Benfeitor para suas famílias como um todo; e vocês são culpáveis se não O louvam em conjunto por Sua generosidade. Uma casa assim é antes um chiqueiro de porcos do que um lar para criaturas racionais.

Não pode Deus convocar tais famílias que não oram, como em Jeremias 2:31? “ Oh! Que geração! Considerai vós a palavra do SENHOR. Porventura, tenho eu sido para Israel um deserto? Ou uma terra da mais espessa escuridão? Por que, pois, diz o meu povo: Somos livres! Jamais tornaremos a ti?” Esqueceu-se Deus de vocês? Falem, ó famílias que não oram e que não O temem. Esqueceu-se Deus de vocês? Não! Cada bocado de pão que vocês comem lhes diz que Deus não se esquece de vocês. Toda vez que se vê a mesa posta e a comida em cima, vê-se que Deus não se esquece de vocês. “Porque, então”, diz Deus, “essa família não vem a mim? Quando vocês têm comida para dar a seus filhos, quando eles não choram pedindo pão – de forma que vocês ficariam constrangidos a dizer ‘Eu daria, minha pobre criança faminta! Eu daria, mas eu não tenho!’ –, por que, então, vocês não vêm a mim? Vocês vivem juntos e comem juntos a meu custo, cuidado e encargo, mas, ainda assim, passam-se meses inteiros e nunca vêm a mim? E com suas crianças tendo razão, roupas, membros, visão, fora outras mil bênçãos que lhes dei”, poderia Deus dizer, “Por que, então, vocês vivem anos inteiros juntos e nunca juntos vêm até mim? Porventura vocês acharam alguém mais capaz ou mais desejoso de fazer-lhes bem? Isso vocês nunca acharão. Por que, então, vocês são tão ingratos ao ponto de não virem até mim?”

Vejam: quando Deus é um Benfeitor para um povo (e o mesmo se aplica às famílias) e ele não O serve, que perversão monstruosa é esta! Deus os guardou durante a noite e, mesmo assim, vocês não dizem de manhã “Onde está o Senhor que nos preservou? Venham, venham, vamos louvar a Ele juntos!”. Deus fez bem a vocês e a suas famílias por tantos anos e, ainda assim, vocês não dizem “Onde está o Senhor que fez grandes coisas por nós? Venham! Vamos reconhecer Sua misericórdia juntos”. Deus carregou vocês durante a aflição e a doença na família: a praga esteve em sua casa, mas vocês vivem ainda assim; febres estiveram em suas casas, mas vocês estão vivos; seus cônjuges estiveram doentes, mas se recuperaram; seus filhos quase morreram, mas foram restaurados. Por tudo isso, vocês não dizem “Onde está o Senhor que nos livrou da sepultura e nos salvou da cova, de forma que não estamos entre os mortos!”. Ainda assim, vocês não oram e nem louvam conjuntamente esse maravilhoso Benfeitor. Que as próprias paredes dentro das quais esses ingratos miseráveis vivem fiquem chocadas com isso! Que as próprias vigas e pilares de suas casas tremam! Que o próprio chão em que eles andam e caminham se horripile! Que absurdo que pessoas que moram juntas numa casa vão dormir antes de orarem juntas! Que a terra fique chocada com as famílias que são rebeldes e ingratas, embora delas o Senhor cuide e as sustente, pois são piores que o próprio boi que conhece seu possuidor e menos entendidas que o próprio jumento (Is 1:2-3)!.

De tudo que foi dito, eu argumento dessa forma: se Deus é o Fundador, Dono, Governador e Benfeitor das famílias, então as famílias devem, em conjunto, cultuar Deus e orar a Ele.

2015-09-28

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ArthurPink*Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth (Edição online de Abril de 2015), traduzido com permissão do editor.

**Arthur W. Pink (1886-1952) foi um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século XX. Erudito bíblico de persuasão reformada e puritana, Pink escreveu várias obras literárias e pastoreou diversas igrejas nos EUA, além de ter servido como ministro na Inglaterra e Austrália. (Informações retiradas do site Voltemos ao Evangelho)

***Tradução: Rebeca Romero