486153_531508243566227_689376238_nRecentemente li o artigo “A legalização do aborto nos Estados Unidos e no Brasil” de Mary VerWys e fiquei profundamente impactado e perplexo diante dos motivos que levam muitas pessoas a matarem uma criança: “Meu namorado quer que eu faça”, “Eu não quero ficar gorda”, “Eu sou divorciada e não quero que meu marido saiba que eu tive um caso”, “Eu não quero entristecer os meus pais”, “Meu namorado é de uma raça diferente”, “Eu estou sem dinheiro e não quero pedir ajuda”, “Eu tenho um novo emprego e quero ser promovida”, “Eu já tenho um menino e uma menina e não preciso de outro filho”, “Eu sinto enjoo toda manhã e quero me livrar desse mal-estar”, “Pode ser que tenha alguma coisa errada com o bebê”. Segundo a autora, 50 milhões de bebês já foram mortos nos Estados Unidos, é como se uma Argentina inteira fosse dizimada, quase a população inteira da Inglaterra. Você consegue imaginar o que é isso?

Mas esses dados, infelizmente, só constatam uma triste realidade: o mundo odeia as criancinhas. Satanás odeia as criancinhas. E quem irá protegê-las? Aqueles que se identificam com o protetor delas, aqueles chamados para viverem de acordo com os valores de Jesus, que um dia também foi protegido em sua infância contra a fúria do mundo e de Satanás: a igreja redimida pelo sangue do Cordeiro.

É interessante a pessoa de José que vemos nas Escrituras. Até hoje, não vi uma única peça teatral de natal em que José tivesse uma fala. Em geral, até os animais presentes tem mais falas do que José. Mas, apesar de José não participar dos diálogos em grande parte das peças teatrais, ele sempre é apresentado como protetor: protetor da sua família, protetor de Maria e protetor de Jesus. Mas não era esse mesmo José que queria abandonar secretamente a Maria? E por quê? Porque ela estava grávida, e o filho não era dele. Ou seja, José não era pai biológico de Jesus. Jesus não tinha o DNA de José. José era pai adotivo do Salvador. E, ao resolver adotar Jesus, José entrou em uma guerra, uma guerra espiritual.

O Evangelho segundo Mateus nos traz um quadro apavorante. O rei Herodes se levanta contra as crianças e decreta um infanticídio, manda matar todos os meninos com menos de dois anos de idade de Belém e seus arredores. Imagine o quadro de terror, crianças inocentes sendo arrancadas dos braços de seus pais e mortas! Imagine o pranto e tristeza que tomaram conta de Belém e seus arredores por muitos anos. Mas, infelizmente, não é a primeira vez que vemos as Escrituras demonstrarem o ódio do mundo e Satanás contra crianças. Em Êxodo temos um quadro igualmente apavorante. Moisés nos descreve o rei do Egito como um homicida de crianças, ao declarar que os “meninos” nascidos de hebreias deveriam ser mortos por suas parteiras (interessante que a maioria das famílias quer adotar meninas, será que não estamos seguindo o mesmo raciocínio de Herodes e Faraó?).

O que há de comum entre o rei do Egito e Herodes? Ambos viram o que era benção como sendo maldição, ambos se colocaram entre Deus e seu plano de salvação para o homem. O Salmo 127 diz: “Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão.” Mas não foi assim que os dois governantes viram as crianças, eles as viram em termos completamente pessoais, as crianças representavam uma ameaça aos seus planos de sucesso e poder.

Os dois governantes representam nações enfurecidas contra o Cristo de Deus, nações enfurecidas contra crianças inocentes. Será que hoje é diferente? Será que muitas vezes não olhamos para as crianças e, portanto, para a adoção como um obstáculo à realização de nossos planos? Quando se trata de reafirmação do ego humano, crianças sempre saem feridas. Mas não se engane, a questão não é só econômica ou sociológica, como muitos afirmam, ela é acima de tudo, espiritual. O inferno odeia crianças, ao meu ver, principalmente os meninos. Meninos que poderiam ser futuros líderes de seus lares, futuros líderes da igreja, futuro líderes da nação. Ao destruírem crianças eles destroem a herança que Deus nos dá. Crianças são expressões visíveis das bênçãos de Deus à humanidade. E quantas delas estão neste momento em abrigos, indefesas, vulneráveis, necessitadas de um protetor? Elas são um alvo perfeito para os que buscam somente matar e destruir.

Quando olhamos para as posturas do Rei do Egito e de Herodes, ou para os telejornais que noticiam pais matando filhos, crianças sendo jogadas no lixo, crianças sofrendo maus tratos é fácil nos indignarmos e termos repugnância. Mas você já parou para se olhar sob este aspecto e ver a forma como você mesma vê as crianças e como você encara a adoção? Será que quando fazemos cara feia para um criança que Deus chama de bênção não a tratamos como se ela fosse uma maldição? Analise os seu motivos para não adotar ou ter um filho? Será que no fundo no fundo, você não faz isso porque ela vai ameaçar seus planos? Neste sentido, não somos diferentes de Herodes e do governante do Egito.

Não vou negar, as crianças interrompem planos. O Samuel já interrompeu e tem interrompido vários dos nossos e, sim, eu me iro quando isso acontece! E, analisando a minha ira, vejo-me disposto a atacá-lo em ira que, segundo as Escrituras, é a semente do assassinato (Mt 5.21-22). Meu Deus, tenha misericórdia de mim, pois não sou diferente de Herodes e do Rei do Egito!

Portanto, proteger um criança por meio da adoção é muito mais que um ato de caridade, muito mais que uma ideologia, é entrar em uma guerra espiritual! É exatamente assim que me sinto e de uma forma muito mais intensa desde que adotei o Samuel; em constante guerra, em uma guerra que às vezes me leva às lágrimas, outras ao ápice da ansiedade, do medo, da tristeza, da insegurança, da falta de fé.

Quando o Senhor condenou a oferta de crianças a Moloque (Lv 20.1-8), ele não só condenou o sacrifício, mas também aqueles que fechassem “os olhos para não ver” quando alguém sacrificasse o próprio filho a Moloque. Sim, o deus Moloque continua operando em nosso meio. Tanto naqueles que sacrificam seus filhos em prol de suas conquistas pessoais, quanto naqueles que veem outros sacrificando e se omitem diante dessa realidade. Meu Deus, há crianças sendo jogadas no lixo, há ossos de bebês sendo triturados em clínicas de abortos, há crianças virando lixo hospitalar, há crianças vendo a vida passar, olhando através de um portão ou janela de um abrigo. Há crianças que nunca terão alguém para chamar de pai! Não seja ingênuo, o mundo está em guerra contra elas, a velha serpente, o dragão está em guerra contra elas!

Há dois mil anos alguém aceitou o desafio, alguém se interpôs entre o poder do Estado, o poder de Satanás e uma criança: José, o protetor do messias. Um simples carpinteiro, casado com uma mulher grávida de um filho que não era seu, resolveu corajosamente desafiar esses dois poderes. José não era o pai biológico de Jesus, mas era seu pai (Lc 2.41-48). O próprio Senhor do Universo, criador e sustentador de todas as coisas reconheceu isso; Jesus direcionou a sua obediência a José (Lc 2.51), adotando inclusive a profissão de seu pai. A identidade de Jesus como o Cristo está intimamente ligada a José. Jesus é identificado como o herdeiro do trono de Davi, prometido nas Escrituras, por meio de qual genealogia? Da genealogia de José (Mt 1.1-17). Jesus compartilhou da linhagem de José, a identidade humana de Jesus veio por meio da adoção. Russell Moore[i] referindo-se a essa questão afirma: “Foi por meio de José que Jesus encontrou a sua identidade como o cumprimento da promessa do Antigo Testamento. É por meio da paternidade legal de José que as esperanças e os temores de todos os tempos encontram a sua concretização no último filho de Abraão, filho de Davi e filho de Israel.”

José protegeu Maria, José protegeu a criança da espada do Estado (Herodes) e da presença silenciosa de Satanás por trás dessa iniciativa. De certa forma, como protetor do Messias, José é singular, mas em outro sentido ele é como todos nós. Pois todos que somos redimidos pelo Messias somos chamados a proteger crianças. Mas proteger crianças não é apenas protestar contra o aborto, ficar horrorizado com as notícias de maus tratos vistas na televisão, mas imitar a paternidade de Deus, ou seja, reduzir a maldição da falta de um pai. [ii]

A intenção deste artigo de hoje é chamá-lo(a) para ser um José, um(a) protetor(a) de criancinhas. Sim, isso vai exigir sacrifício, José teve que se sacrificar por isso, largou parentes, amigos, negócios, para proteger Maria e Jesus. E tenho certeza que talvez você pudesse evitar esse sacrifício, você poderia evitar tristezas, ansiedades, se preocupar em alimentar apenas a sua própria boca, proteger apenas a você mesmo(a). Sim, o desafio é grande, é difícil. Mas não é esse o chamado do Evangelho? Viver uma vida de fé e esperança, não na minha própria capacidade de superação ou de sucesso, mas Naquele que morreu pelos meu pecados e que me capacita a viver a missão que Ele tem para minha vida. Quando nos envolvemos no projeto de adoção, estamos fazendo o que o Pai tem feito desde o princípio dos tempos, proteger órfãos, lutar por eles, fazendo deles filhos e filhas.

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[i] Moore, Russel D. Adoção – Sua extrema prioridade para famílias e igrejas cristãs. Monergismo, Brasília, 2013,

[ii] Idem.

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Screen Shot 2014-03-12 at 1.53.54 AMPr. Carlos Mendes é casado com Roberta Mendes há 10 anos, pai do Samuel há 2, pastoreando a Igreja Presbiteriana Aliança – DF, mestre em Aconselhamento Bíblico pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.

 

 

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