Screen Shot 2015-02-02 at 8.21.47 AMEsta é uma conclusão precipitada a que muitas moças têm chegado. Após entenderem seu papel de esposas, mães e donas de casa, várias delas entram neste conflito. Com vistas a ajudar estas moças e também esclarecer mães de meninas que estão crescendo neste contexto de mudança de mente, é que este texto foi escrito.

Nossa vocação

Em primeiro lugar gostaria de falar um pouco sobre a questão da vocação. Existe aquela vocação específica, que Deus dá a cada um, concedendo-lhes assim, dons para cumpri-la, e existe a vocação geral. Esta não precisa ser descoberta, já está descrita na bíblia e tem a ver com nosso chamado geral de homens e mulheres. Os homens foram chamados para serem líderes e provedores e as mulheres foram chamadas para serem suas auxiliadoras. Eles são maridos e pais. Elas são esposas e mães. A menos que uma pessoa seja chamada ao celibato, elas já nascem com estas vocações, com estes chamados da parte do Senhor. Esta é uma questão seríssima, pois quando nos afastamos do chamado que o Senhor tem para nós, nos metemos em muitas dificuldades e artimanhas, afinal, estamos indo contra a ordenação de Deus. Calvino nos faz séries advertências quanto a isso:

“É também nosso dever observar diligentemente que Deus ordena que cada um de nós leve em conta a sua vocação em todas as ações da sua existência. Pois ele sabe muito bem quanto o homem se inflama de inquietação e com que facilidade passa de um lado a outro; como também sabe com quanta ambição e cobiça ele é solicitado a abarcar muitas coisas ao mesmo tempo. Por isso, para que não compliquemos tudo por nossa temeridade e loucura, ele ordenou a cada um o que fazer… É suficiente que saibamos que a vocação de Deus é como que um princípio e fundamento baseados no qual podemos e devemos governar bem todas as coisas, e que aquele que não atentar para ela jamais encontrará o caminho reto e certo para desincumbir-se devidamente do seu dever. Poderá por vezes fazer algo cuja aparência exterior inspire louvor, mas não será aceito pelo trono de Deus, seja qual for o valor que os homens lhe atribuam. Além de tudo mais, se não tivermos a nossa vocação como uma regra permanente, não poderá haver clara consonância e correspondência entre as diversas partes da nossa vida. Assim, será muito bem ordenada e dirigida a vida de quem a conduzir tendo em vista esse propósito. Desse modo de entender e de agir nos resultará esta singular consolação: não há obra, por mais humilde e humilhante que seja, que não brilhe diante de Deus e que não lhe seja preciosa, contanto que a realizemos no serviço e cumprimento da nossa vocação.” João Calvino – As Institutas da Religião Cristã

Nestas palavras, fica claro para nós que, tanto o homem quanto a mulher devem buscar cumprir o chamamento de Deus para a sua vida. Ora, se o homem foi chamado primeiramente para ser o provedor de sua família, decorre daí, que precisa descobrir qual a sua vocação no trabalho para, assim, trazer o sustento e o conforto à sua família. E quanto à mulher? Como conciliar sua vocação no lar com uma carreira fora dele? Existe mesmo esta possibilidade, como as feministas afirmam? É realmente possível cumprir a vocação de esposa e auxiliadora, mãe, dona de casa com sucesso e ainda assim galgar degraus numa carreira fora de casa?

Médica ou advogada?

Alguém, em sã consciência, teria alguma dúvida de que seria impossível exercer bem e com sucesso estas duas carreiras? Como poderia alguém se dedicar a duas áreas com interesses tão distintos? Como alguém poderia fazer uma pós-graduação em problemas renais enquanto estuda o novo código Civil brasileiro para defender uma causa importante? Da mesma sorte, se entendermos a complexidade do serviço que temos de prestar a Deus em nosso lar, logo chegaremos à conclusão que esta tarefa é grande demais para nós e que mesmo sem ter outra atividade fora de casa, sua realização está fora do alcance de nossas mãos, se o Senhor não nos der forças. Ser uma auxiliadora idônea como a bíblia requer, criar filhos para Deus, manter uma casa cuidada e suprida, ser uma esposa atenciosa e amorosa, uma “ namorada” sempre disposta, um ombro amigo sempre atento e carinhoso para o marido, fazer mercado,levar as crianças ao médico, à escola, frequentar reuniões de pais…ufa!! Quem é esposa e mãe sabe que esta lista de atribuições não tem fim.

Querendo cumprir nosso chamado primário, descobriremos que esta vocação não permite que abraçemos outra devido à sua complexidade, grau de responsabilidade e por pura falta de tempo. É uma mentira perniciosa dizer que se tem uma carreira de sucesso e se cumpre BEM TODAS as funções que Deus estabeleceu para uma mulher em seu lar. Quantas mulheres você conhece que estão em uma eterna guerra por não conseguir dar conta de tudo, dentro e fora do lar? Quantas delas têm perdido seus filhos, têm acabado com seus casamentos e estão completamente distantes do conhecimento de Deus? Mulheres exaustas, mal-humoradas, que nunca encontram tempo para um lanche com as amigas, que não podem aconselhar uma jovem de sua igreja, que não frequentam a reunião de mulheres durante a semana. Elas estão sempre assoberbadas, sempre sem tempo, sempre correndo… E por que? Porque acreditaram na mentira que diz que elas podem ter tudo: um lar ajustado, filhos crentes, um casamento forte, conhecimento profundo de Deus e uma carreira de sucesso. E quantas se sentem culpadas por não conseguir ser esta Mulher Maravilha que o mundo moderno cultua? Esta não é uma questão de perspectiva, é uma questão de TEMPO, de matemática: você continua sendo uma só, e não podendo estar em dois lugares ao mesmo tempo, não importa o tamanho da boa vontade que você tenha!

A diferença entre carreira e trabalho

Existe uma diferença abissal entre ter uma carreira e trabalhar fora. Descrevendo-as podemos perceber onde a mulher é capaz de se encaixar. Desenvolver uma carreira é como criar um filho. Há que se ter planejamento, investimento de tempo e de dinheiro, esforço e dedicação exclusiva. Uma carreira exige horas a fio do seu dia. Exige competitividade, reciclagem, cursos, pós-graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado, trabalho científico, publicações, viagens. Tudo isso desemboca num emprego que exige demais da pessoa, pressupõe um chefe meticuloso, prazos e pressões com as quais se tem que lidar diariamente. Conciliar tudo isso com a vocação de esposa e mãe é, evidentemente, impossível. Lidar com a doença de um filho e ao mesmo tempo com demandas que necessitam agilidade, ter que viajar a trabalho quando o marido tira férias, não poder estar no jantar que sua sogra vai oferecer por ter de fazer horas extras… são tantas as incompatibilidades…

Além do exposto acima, precisamos levar em consideração que quando a mulher deixa sua função de auxiliadora para ter uma carreira que compete em pé de igualdade com a de seu marido, ela está lançando sobre ele uma carga que não foi dada por Deus ao homem. Vejamos: a esposa precisa fazer uma especialização depois do horário de expediente: quem busca as crianças na creche? O relatório que precisava estar na mesa do chefe na manhã do dia seguinte não foi concluído: quem dá uma passadinha no mercado para comprar os ingredientes, fazer o jantar e colocar as crianças na cama? Haverá uma auditoria na empresa daquela esposa esta semana inteira: quem levará as crianças ao pediatra, quem pegará no ferro de passar para ajeitar as roupas, quem dará uma corridinha na feira e levará os meninos para o inglês? E quem deixou de ler a Bíblia, de continuar aquele livro, de ir à reunião de oração, de fazer uma visita a um irmão doente, de poder exercer liderança e serviço na igreja por pura falta de tempo? O marido!!! Ele agora precisa cuidar de todos aqueles “detalhes” que sua auxiliadora não pôde cuidar por estar fazendo aquilo que ela deveria fazer.

Este marido também provará a dor da solidão, quando chegar cansado do trabalho ansioso para desabafar com a esposa, e encontrá-la em frangalhos por causa de uma discussão com seu chefe. Este marido provará a dor de ter sempre os restos da mulher que um dia ele admirou e desejou passar o resto de seus dias ao lado. Ela não tem mais paciência para ele. O melhor de si ela entrega de bandeja ao escritório… sua paciência, seu bom humor, suas risadas, sua competência, seu companheirismo são entregues a pessoas que não têm nada a ver com sua família. Sobra para o marido e para os filhos uma mulher exausta, um substrato do que ela realmente é.

Outra coisa bem diferente é aquela mulher que deseja aumentar a renda da família por causa de alguma necessidade, e trabalha por um pequeno período de tempo do seu dia e tem a possibilidade de mexer no seu horário de acordo com as prioridades da sua vida: o cuidado dos seus e o bem-estar da sua casa. Esta mulher não se preocupa se tem de largar o trabalho, caso este esteja prejudicando um milímetro sequer da sua vocação primeira. Ela é capaz de reduzir sua carga horária sem medo de perder a competitividade, não se dobrará a exigências que a façam gastar mais tempo do que o previsto fora de casa. Lançará mão, com facilidade, de um trabalho que demande dela uma carga que prejudicará sua família. Seu chamado é preservado. O melhor de si é reservado para os seus e se, a qualquer momento deixar de ser assim, ela será capaz de virar as costas para tudo aquilo que a estiver fazendo perder o foco.

Continua…

2015-02-02

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simone* Simone Quaresma é casada há 24 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (22 anos), Israel (20 anos), Davi (18 anos) e Júlia (16 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler… de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por seu marido; trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.