Fui convidado certa vez para falar em uma programação de mulheres. A ocasião era o Dia Internacional da Mulher e a presidente do departamento de mulheres foi enfática: “Pastor, pregue um sermão que exalte as mulheres…”.

O Dia Internacional da Mulher foi uma data instituída por causa de grupos de militância feminista que lutavam, e lutam, por direitos iguais para homens e mulheres em todos os aspectos da vida. Há mulheres que se ofendem até por serem chamadas de “o sexo frágil”, como se essa expressão as rebaixasse e muitas querem ser reconhecidas segundo os parâmetros feministas, inclusive dentro das igrejas, como é o caso da que foi citada acima.

Como a mulher cristã deve se pautar pela Palavra de Deus, na ocasião resolvi falar sobre Maria, para demonstrar como deveria ser a vida de uma mulher que quer andar de acordo com a vontade de Deus.

Maria foi a mulher escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador. No texto de Lucas 1.26-38, ao saudá-la, o anjo Gabriel a chama de “muito favorecida”. Ele fazia menção à grande bênção que lhe estava reservada, conceber o Messias prometido. O anjo anunciou que ela havia achado graça diante de Deus e conceberia um filho que seria chamado Jesus.

Ela não entendia como isso seria possível, afinal de contas, nunca havia estado com homem algum. Foi-lhe anunciado então que o Espírito Santo desceria sobre ela e ela conceberia um ente santo. A resposta de Maria demonstra fé no Senhor: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”.

Bastou uma interpretação equivocada para os católicos-romanos adorarem a Maria e passarem a considerá-la comediadora e corredentora. Por causa da idolatria da igreja de Roma, os protestantes têm deixado de lado a figura de Maria e há quem diga que, enquanto o catolicismo tem Maria demais, os protestantes têm Maria de menos.

Maria foi uma irmã piedosa e temente a Deus. Muito temos a aprender olhando para a sua vida. Ainda no Evangelho de Lucas vemos o registro daquele que é chamado “Cântico de Maria”. Este fabuloso louvor ao Senhor muito tem a nos ensinar sobre como ela se via diante de Deus e serve de parâmetro para todas as irmãs que buscam também uma vida de piedade. Vejamos:

  1.  Uma pecadora carente de salvação“A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (vs. 46,47).Já de início percebemos algo maravilhoso. Maria estava engrandecendo e se alegrando em seu Salvador. A despeito dos romanistas dizerem que ela foi concebida sem pecado, ela própria se vê nesta condição. É por isso que chama Deus de seu Salvador. Só necessita de Salvador aquele que pecou. Esse entendimento de que ela se via como pecadora fica ainda mais claro quando nos lembramos do que o anjo afirmou a José sobre a criança no ventre de Maria: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21).
  2. Uma humilde servaMaria continua no versículo 48: “Porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada”(v 48).Ela agora se coloca como uma escrava do Senhor. Esse é o sentido da palavra traduzida por “serva” neste versículo. Maria se via como uma humilde serva e isso foi o que Deus contemplou nela. O entendimento de que era uma pecadora carente também da salvação produzia nela essa humildade.Entretanto, as palavras seguintes parecem contradizer isso. Isabel havia afirmado ser Maria uma bem-aventurada (Lc 1.45) e ela agora assume que, de fato, todas as gerações a considerariam assim.     Será que agora Maria estaria reconhecendo seus méritos? De forma alguma. Vejamos o próximo versículo:
  3. Uma fiel que sabe a quem dar a glória“Porque o Poderoso me fez grandes cousas. Santo é o seu nome” (v. 49).Ela sabia exatamente a causa de ser uma bem-aventurada e entendia que o mérito era todo do Senhor. Seria bem-aventurada não por causa de quem era, mas por causa das grandes coisas que Deus estava fazendo em sua vida.Esse é o entendimento de Maria e é por esta razão que ela se coloca humildemente na condição de serva, sabendo que toda a glória era do seu Senhor, e que, mesmo com o privilégio e a bênção de ser a mãe do Salvador, continuava sendo apenas uma humilde serva de Deus.

Para terminar…

Maria demonstra em seu cântico que conhece muito bem o seu Senhor. Para ela, além de “Salvador” (1.47), Deus é “o Poderoso” que faz grandes coisas, aquele que é “Santo” (1.49) e que exerce misericórdia sobre os que o temem (1.50). Entendendo quem ela é e diante da majestade de Deus, Maria só tem a engrandecer o Senhor e se alegrar em seu Salvador (1.46,47), por isso, louva a Deus com esse cântico.

Se essas características estiverem presentes também em você, mulher cristã, sua vida será de louvor ao Deus bendito.

Sabendo que é uma pecadora, tal qual todas as pessoas desse mundo, não pensará de si mesma mais do que convém (Rm 12.3), nem será seduzida pelo movimento feminista que tenta a todo custo disseminar a ideia maligna de que a mulher é superior ao homem, pois saberá que ambos carecem da graça de Deus.

A convicção de pecado a levará à humildade e ao entendimento de que é também uma humilde serva do Senhor. Essa verdade é libertadora, pois a livra do jugo de ter de provar o tempo todo que é superior a outros.

Diante disso, esforce-se para cumprir fielmente tudo aquilo que o Senhor ordena para a sua vida. Utilize seus talentos, ponha em ação os seus dons, faça tudo o que lhe vier à mão conforme as suas forças (Ec 9.10), mas sem nunca se esquecer de dar a glória àquele que opera em nós “tanto o querer como o realizar, segundo sua boa vontade” (Fp 2.13).

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*Rev. Milton Jr. é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano “Rev. José Manoel da Conceição” e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestrando em Teologia pastoral (Aconselhamento) pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo-SP. Pastoreia a Igreja Presbiteriana da Praia do Canto desde 2007 e escreve no blog Mente Cativa. Ele é casado com Poliana e pai da Fernandinha.