“E estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Esta era já avançada em idade, e tinha vivido com o marido sete anos, desde a sua virgindade; E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia. E sobrevindo na mesma hora, ela dava graças a Deus, e falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém.” Lucas 2:36-38

Lucas 2:21-38

O início do nosso texto narra a ocasião em que José e Maria, obedecendo a Lei de Moisés, levam o Senhor Jesus para ser circuncidado quando ele tinha oito dias de idade. A circuncisão era o sinal e selo da aliança que Deus fez com Abraão (Gênesis 17) e era exigida de todos os homens judeus. Mas a circuncisão era apenas o começo: quando a criança tinha quarenta dias de idade, José e Maria teriam que vir ao templo e apresentar  Jesus para os ritos de purificação descritos em Levítico 12. Eles também tinham que “resgatar” o menino uma vez que Ele era o primogênito de Maria (Êxodo 13:1-12). É engraçado pensar que eles tiveram que pagar certo valor para “redimir” o Redentor, aquele que um dia iria redimir-nos com Seu sangue precioso (1 Pedro 1:18-19). Todo esse processo é muito importante, pois a relação de Nosso Senhor com a Lei é parte essencial de seu ministério de salvação. Ele nasceu sob a lei (Gálatas 4:4), e embora tenha rejeitado as tradições religiosas do homem, obedeceu a Lei de Deus perfeitamente (João 8:46), e desta forma carregou a maldição da Lei por nós! (Gálatas 3:13).

Nesse episódio de apresentação do Senhor Jesus no templo, somos apresentados a irmãos muito preciosos, dentre eles: Simeão, que fazia parte do remanescente fiel de Israel e que esperava ansiosamente pelo Messias. Em Lucas 2:9-32 encontramos a linda resposta de Simeão ao ver Jesus: ele compõe um belo hino (na verdade uma das canções de natal descritas por Lucas) e bendiz a Deus por manter sua promessa e enviar o Messias. Simeão louva a Deus com alegria por ter tido o privilégio de ver o Filho de Deus.

Então, a partir desse momento, a narrativa nos apresenta a uma mulher maravilhosa: Ana. Nossa personagem era uma viúva piedosa, avançada em idade. A Bíblia diz que Ana era da tribo de Aser, uma pequena tribo do Reino do Norte (o que já prefigurava um tema que Lucas iria trabalhar em seu segundo livro, Atos dos Apóstolos – o reconhecimento da divindade de Cristo pelos samaritanos).

Nos tempos de Jesus, as viúvas não tinham uma vida fácil. Muitas vezes elas eram abandonadas e até mesmo exploradas, apesar do mandamento da Lei (Êxodo. 22:21-22; Deuteronômio 10:17-1). Mas a despeito de possíveis dificuldades, Ana dedicou-se a servir a Deus e adorá-lo com jejuns e orações. Deus, então, concedeu uma bênção toda especial a Ana: na mesma ocasião em que Simeão estava louvando ao Senhor pelo Menino Jesus, ela esteve presente e adorou a Deus pelo nascimento do Cristo! Que bênção, Ana comtemplara com seus próprios olhos o redentor de Israel! Ana, entretanto, fez muito mais do ver, e quem sabe, cantar (junto com Simeão): ela também espalhou a Boa Nova entre os que esperavam a redenção. Nesse sentido, não poderia haver melhor designação dada a ela do que profetiza. Assim como Simeão, Ana foi uma espécie de testemunha profética de Cristo!

As vezes, nossos anos mais produtivos no serviço espiritual a Deus podem vir após os anos mais produtivos de labuta terrestre. A Bíblia não nos apresenta um relato pormenorizado da vida de Ana, mas nós podemos perceber que em sua velhice ela deu-se em tempo integral ao ministério da intercessão. Era uma mulher de oração, que tinha sua esperança posta em Deus e aprendeu a confiar Nele. Como Simeão, ela esperava a “redenção de Jerusalém”.

Ana também era uma testemunha fiel de Cristo! E tudo isso nos seus quase 90 anos de idade! Que preciosa lição para os crentes mais idosos… Acredito que a idade e o testemunho de Ana lembra-nos que a expressão “crente aposentado” é imprópria. Na verdade, o que deveria acontecer era o contrário. Explico: muitos idosos são “liberados”, pela aposentadoria, a dedicar-se mais ao ministério, com não poderiam fazê-lo quando estavam empregados por falta de tempo, mesmo que fossem mais jovens.

É claro que a terceira idade carrega suas dificuldades, como por exemplo, uma senhora com problemas sérios de coluna que não consegue se locomover direito, mas se como Ana, for piedosa e temente a Deus, poderá dedicar-se ao jejum, a oração, e ao anuncio de Cristo para, assim, encontrar contentamento fazendo a vontade de Deus.

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* Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (STPJMC-SP) e em Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior (FAMETTIG-BA); Pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE-SP); Pós-graduando em Educação Cristã pela Faculdade Guanambi/UNIGRAD Pós-graduação e Extensão; Mestrando em Teologia Sistemática pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie – Centro de Pós-graduação Andrew Jumper (CPAJ-SP) e em Memória: Linguagem e Sociedade (Memória e Discurso Religioso em Diferentes Narrativas) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Atualmente é pastor na Congregação Presbiteriana de Candeias em Vitória da Conquista (BA). Leciona nas variadas áreas da Teologia Sistemática nos bacharelados em teologia do Instituto Presbiteriano do Sudoeste da Bahia e do Instituto Betânia; Leciona também Fundamentos Bíblicos da Educação Cristã no curso de Pós-graduação em Educação Cristã na UNIGRAD.