girl-with-her-violinA leitora pergunta:

Eu ouço músicas não-cristãs, porém tomo cuidado com letras. Entretanto, alguns irmãos são contra, mesmo que as músicas não tenham letras ofensivas à vontade de Deus nem palavras torpes. Então gostaria de esclarecer essa dúvida. – A.B.

Mulheres Piedosas responde:

Sua pergunta é excelente. Permita-me expandi-la para outras áreas: Um cristão pode ouvir músicas, ler livros e assistir programas seculares? A resposta é simples: SIM!!! Fico feliz em lhe dizer que no seu próprio texto já existem algumas respostas para sua pergunta. A chave é SELEÇÃO. Mas antes de falar sobre a escolha, é preciso discutir sobre algo mais importante e que tem acometido muitos cristãos. Falo do isolamento cultural e social.

A sociedade que vivemos tem se apresentado tão libertinosa, imoral e promíscua que nos assusta e provoca em nós um desejo de vivermos isolados. Outdoors com mulheres seminuas; novelas com cenas explícitas de sexo, ou de carícias hetero e homossexual; desenhos animados com papel de personagens invertidos, com vilões engraçados e heróis chatos; músicas e livros que fazem apologia às drogas, ou incentivam o sexo antes do casamento. A lista das situações de hoje que são contrárias a Deus são inúmeras. Vivemos a pior era da sociedade!!!! Será? Essa foi uma pergunta que sempre me incomodou. Se avaliarmos outras civilizações, como a greco-romana, perceberemos que esta também estava imersa nos pecados da carne. A prostituição era geral e legalizada, as artes famosas retratavam sexualidade e era comum a prática da homossexualidade. E o que falar da cultura indígena que mata bebês gêmeos, ou crianças com algum tipo de deficiência? E pior, enterrando-os vivos? E se voltarmos ainda mais no tempo, podemos ler relatos bíblicos semelhantes, como o de Tamar que foi estuprada pelo próprio irmão, Amnon (2 Sm 13), ou de Caim que matou seu irmão Abel (Gn 4:8). Resumindo, nada disso é novo. E a Bíblia confirma isso quando nos diz que Todos nós nascemos em pecado (Sl 51:5), que nosso coração busca o que não agrada a Deus (Ec 8:11; Jr 17:9) e que vivemos num mundo mal (1 Jo 2:16 e 5:19). Talvez o que tem acontecido é que com o avanço tecnológico, esses padrões anti-bíblicos ganham maior notoriedade e, por sua construção e repetição contínua na mídia, acabam tornando-se modelos. Não seria essa a justificativa de tantos cristãos não observarem o comportamento antibíblico da protagonista da animação “Valente” em se rebelar contra os pais, em busca da felicidade? Apesar da tecnologia, o fato é que o pecado sempre existiu em nosso meio. Os escolhidos de Deus sempre viveram em sociedades permissivas ao pecado, mas não se corrompiam. O que dizer de Ló que vivia pela fé em Sodoma, ou o próprio cristianismo, que emergiu no Império Romano? Assim, o papel do cristão é claro e não inclui necessariamente o isolamento. É estarmos nesse mundo, mas não nos conformarmos a ele; mas sim influenciando-o com testemunho vivo de Cristo, através das suas palavras e ações. E isto, em todas as áreas da vida (Jo 17:15; Rm 12:2; Fl 4:8; 1 Tm 5:8). Esta é a nossa função, que não teria como ser exercida vivendo em isolamento. Isto é parte do mandato cultural deixado por Deus para nós.

Após esta afirmativa, retomemos a sua pergunta: o cristão pode ouvir música não cristã? A principal análise que devemos fazer é se existe separação de fato entre música cristã e secular. Alguns estudiosos consideram um erro, que tem origem na Igreja Católica, fazer divisão do que é sagrado e profano. E, afirmam ainda que a dicotomia clara na Bíblia é do que é santo e do que é pecaminoso (leia mais sobre isso aqui). Outro argumento que derruba esta ideia tão difundida nas nossas igrejas, fundamenta-se em 1 Coríntios 10:31: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” Ora, se tudo que fazemos tem como objetivo principal glorificar a Deus, logo, todas as nossas ações tem cunho espiritual, seja ouvir uma música de letra não gospel, ou cantar na igreja. É o mesmo foco: Deus. Assim, a escolha de ouvir música não deve se basear nela ser “secular” ou não, mas se o seu conteúdo vai de encontro aos preceitos bíblicos. E, para isso, temos o Espírito Santo que habita em nós e nos orienta, através da Palavra, a selecionar aquilo que faz parte da cultura da sociedade, mas que não nos faz pecar contra Deus. O presbítero Solano Portela resume bem em seu artigo (leia aqui) como o cristão deve agir em relação a cultura de uma forma geral: “O crente tem que ter sempre o discernimento moral para separar formas comportamentais que não condizem com a Palavra de Deus, independentemente se são classificadas como “cultura”, popular ou não.” Porém, minha irmã em Cristo, é bom lembrar que esse discernimento provém de uma vida santa, que busca a Deus diariamente através da leitura da Palavra e da oração. Esta é a ferramenta do cristão. Quando não estamos munidos delas, deixamos que o pecado entre em nossa vida, também através dos nossos ouvidos (Ef 6:10).

Você poderia me dizer: mas a música gospel está diretamente adorando a Deus e foi escrita por homens de Deus, para adoração do Criador. Sim, ela tem letras para o público cristão. Porém, isso não garante que a música seja de qualidade. Ou mais, que não tenha heresias ou erros doutrinários (temos muitos exemplos disso). E não podemos esquecer a intenção de cantores góspeis em criar melodias e cantar de forma que induzem o ouvinte a se emocionar e, como consequência, este passa a nem observar o que está cantando. Aliado a isso, tem-se o fato de que no meio artístico, seja ele gospel ou não, existem duas palavras corriqueiras para definir o coração de alguns desses profissionais: ganância e vaidade. Como só Deus conhece o nosso coração, não sabemos discernir a motivação por trás das músicas e se elas foram escritas por corações pecaminosos (1 Sm 16:7; Jr 17:10). O que reforça a ideia de que a seleção da música seja por seu conteúdo. Por outro lado, temos músicas seculares que exaltam a criação de Deus, ou que falam sobre relacionamentos humanos (amizade e amor), ou traz uma análise crítica dos valores morais contemporâneos. Dito isso, espero que tenha ficado claro que esta divisão não tem sentido.

Quero abrir uma exceção para este tema: filhos imaturos na fé. Como escrevi lá em cima, para ter discernimento na escolha das músicas é preciso direcionamento do Espírito Santo. Alguns dos adolescentes e jovens ainda estão no início do processo de santificação, ou ainda não tiveram o encontro com Cristo e não conseguem diferenciar as músicas que convém ou não ouvir. Além disso, estes sofrem forte influência das músicas ouvidas por seus amigos de escolas, ou vizinhos não-cristãos e estão na fase conhecida cientificamente, pelas incertezas e inseguranças. Neste sentido, a Bíblia é clara quanto a função dos pais em orientá-los e guiá-los pelo caminho correto, e dos filhos em ouvir e obedecer (2 Tm 3:16; Pv 1:8; Pv 10:17; Pv 13:1; Pv 22:6). Acredito que alguns pais têm falhado na forma de instrução. Isso serve quanto a ouvir músicas, ser fã de artistas, ler revistas teens e programas de televisão. Não podemos esquecer que nosso foco com nossos filhos é tratar o coração em amor. Sente com seu filho, escute a música do cantor que ele vem admirando (faça esse sacrifício), discuta com ele quais as simbologias negativas que as letras trazem, utilize versículos para mostrar o que está em desacordo a Palavra de Deus, fale sobre o cristão ser diferente, ore com seu filho e entregue diariamente sua vida a Deus. Faça a mesma atividade, com músicas boas que ele gosta. Mostre o lado bom de sua letra, como associá-la a comportamentos cristãos que testemunhem a Cristo. Com esse tipo de atitude, você ensina ao seu filho a amadurecer na fé, a ter uma análise crítica do que está ao redor. Isso o ajudará em diversos contextos da vida dele.

Bem, agora a parte prática. 🙂 Como escolher as músicas para ouvir? O que é mais claro para o cristão é evitar músicas com palavras torpes, com letras que envolvem sexo, ou apologia a coisas que desagradam a Deus, como drogas, luxúria, vaidade. O que nos resta então para ouvir? Quero finalizar este texto postando aqui músicas de diferentes estilos musicais, para mostrar que a escolha não está relacionada ao estilo em si, dando bons exemplos de sons para ouvirmos. Vamos nos divertir? Escolha músicas que:

— Sejam simples, porém inteligente (Samba). “Samba de uma nota só”, Tom Jobim/Newton Mendonça.
— Revele a grandeza da criação (MPB): “Planeta Água”, Guilherme Arantes.
— Fale sobre amizade (MPB): “Canção da América”, Milton Nascimento.
— Nos anima para cuidar do lar (Forró): “A Feira de Caruaru”, Onildo Almeida. Cantado por Luiz Gonzaga.
— Descreve situação social (Rap): “Rap do Mensalão”, Marcos Antônio Pires de Oliveira. Cantado por Gabriel, O Pensador.
— É poética (Bossa Nova): “Wave”, Tom Jobim.
— Com qualidade musical (Sertanejo): “O Menino da Porteira”, Teddy Vieira/Luizinho. Cantado por Sérgio Reis.

Observação 1: não esqueça que o cantor produz diversas músicas. Algumas, você terá o prazer de ouvir. Outras, você se apressará em pular.

Observação 2: propositalmente, não citei música clássica por esta ter maior aceitação do público cristão.

Fique atenta e aprecie a boa música!!!!! Deus nos abençoe nas escolhas e decisões diárias para que todas sejam para Sua glória.

Em Cristo,

Leilane Sena

2015-04-17

 

Ps. Se você também gostaria de ver a sua pergunta respondida aqui no blog Mulheres Piedosas, envie-a para mulherespiedosas@gmail.com

______________

‎Leilane* Leilane é casada com Jairo Sena e mãe do pequeno Caleb. Formada em Fonoaudiologia e com mestrado em Educação. Porém, hoje dedica-se integralmente ao lar. É membro da Igreja Presbiteriana de Aracaju, mas atualmente frequenta a Faith Presbyterian Church, em Vancouver-Canadá.