crianças Leia aqui a parte 01!

Todas as coisas cooperam para o nosso bem!

É incrível como temos dificuldades para entender este texto quando “todas as coisas” não são coisas que nós consideramos boas! Mas Paulo não está dizendo que todas as coisas boas cooperam para o bem dos que amam a Deus. Não! Paulo diz que TODAS as coisas, boas ou ruins aos nossos olhos, são vindas das mãos de um Deus misericordioso e são para o nosso bem, para o bem eterno de nossas almas. Além de visar a glória do Seu santo nome, o Senhor também visa aperfeiçoar, provar, santificar os seus filhos. E as lutas que enfrentamos contra o pecado, os acidentes que nos ocorrem, as doenças, a morte dos nossos queridos, a deficiência de nossos filhos são alguns, dentre tantos instrumentos que o Senhor usa para nos trazer para mais perto de si! Sendo assim, como podemos ser ingratos e murmurar ou lamentar? Devemos parar de chorar, parar de olhar a nossa própria dor e contemplar o que o Senhor tem feito em nós e por meio de nós,através da situação dolorosa que estamos passando! Esta foi a declaração que Jó fez lá no finzinho do livro: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem”. Toda a sua dor redundou em glórias ao nome de Deus, e em um conhecimento a respeito do seu Deus, que ele jamais teria se não tivesse passado por tudo aquilo!

Como educar um filho que tem uma deficiência?

Neste texto não pretendo falar sobre crianças com deficiências mentais ou cognitivas. Os aspectos abordados até agora também dizem respeito a estas crianças, mas daqui para frente só se aplicarão a filhos que têm entendimento das coisas que acontecem ao seu redor. As dificuldades para educar uma criança com algum défciti cognitivo, são um caso à parte e devem ser tratados por quem entenda do assunto (e este não é o meu caso). Tratarei de casos de crianças com a cognição preservada, e que tenham uma deficiência apenas física, seja ela qual for.
O que mais ouvi de especialistas durante todos estes 19 anos como mãe de um deficiente físico foi: “trate-o como os seus irmãos são tratados.” Este é um princípio que deve ser obedecido. Nossos filhos não devem ser mimados ou poupados demais, sem necessidade, apenas por causa de sua deficiência. Ele é seu filho como os outros, e necessita de regras, correção, disciplina. Ele não deve ter primazia sobre os outros irmãos, como se você quisesse compensá-lo de alguma forma. Assim, você apenas contribuiria para que ele se sentisse diferente dos irmãos. Quanto mais equidade houver no tratamento dado a todos os filhos, menos ele se sentirá um ser à parte, diferente dos irmãos. Seus filhos lavam a louça? Ele deve estar na escala. Têm hora para dormir? Ele também deve ter. São disciplinados se são rudes ao te responder? Ele não deve escapar se fizer o mesmo. Deixe claro através do dia a dia da família que não existem diferenças entre eles. Seu filho deficiente não tem prioridade sobre os outros. Não permita que ele use a deficiência como “muleta” para escapar de suas responsabilidades. Seu filho deficiente deve ser criado para ser independente, na medida do possível, e do quanto sua deficiência permita. Ele deve ser criado para ir o mais longe possível, assim como seus irmãos, como cidadão, homem de bem, servo do Senhor. Não o aprisione, não o encha de mimos e de excessos de cuidados. Não exagere. Não faça do problema dele um outro problema ainda maior!

E na hora da disciplina?

Até hoje me lembro da dor que senti na primeira vez que disciplinei o Davi. Não posso negar, foi muito mais difícil do que fazê-lo com os outros filhos. Quando o via chorando, não tinha como evitar que viesse à minha mente todo o sofrimento físico pelo qual ele havia passado, todas as agulhadas, as cirurgias, os procedimentos dolorosos… devo confessar que era uma luta. Mas eu estava convicta de que aquele filho tão amado necessitava ser corrigido do seu pecado, e que, justamente por lhe amar tanto, eu não poderia me furtar ao dever de corrigi-lo. Muitas mães, entretanto, se deixam levar, e acabam fazendo mal à alma de seu filho, quando deixam de tratar o seu pecado, por causa da dor física que seu filho carrega.

Não se deixe manipular

Quando seu filho tem alguma deficiência e descobre que, de alguma forma, isso mexe com você, pode ter a absoluta certeza de que ele usará esta arma para te manipular! Crianças deficientes continuam tendo um coração corrompido pelo pecado! Crianças são mestras na arte da manipulação, mesmo que nem saibam o pronunciar esta palavra! Davi era assim! Sabe aquela criança que quando sorri, sorri com os olhinhos? Ele era dócil e sempre meigo. Se não abríssemos o olho… cairíamos direitinho no seu dengo! Não podemos deixar que nossos filhos usem sua deficiência para nos comover, para tentar nos comprar, para nos convencer ou para fazerem o que querem.

Lidando com a curiosidade

Esta é uma parte que também não é muito fácil de lidar, mas precisa ser encarada de frente. Você precisa cuidar de você e dos seus sentimentos para ajudar seu filho a lidar com seus próprios sentimentos. A curiosidade das pessoas, muitas vezes, pode ser desagradável. Ninguém gosta de ser olhado de cima a baixo, por ter algo diferente da maioria. Mas não dê importância demais a isso. Seu filho encarará esta situação da maneira como você encara, da maneira como você o está instruindo. Se você der valor demais a isso, ele aprenderá a dar também. Se você sofrer com isso, ele aprenderá a sofrer também. Durante sete anos o Davi precisou usar uma órtese nas pernas que iam dos pés até os joelhos. Era algo incomum, que quase ninguém usava. Era grande e chamava atenção. Era impossível passar por ele sem notar. As pessoas às vezes perguntavam, apontavam. Quando ele começou a ficar grandinho, passou por uma fase de não querer usar shorts, mas conversamos com ele, e o fizemos enxergar a bobagem que era passar calor por causa do que os outros pensariam ao olhar a órtese. Num instante ele se convenceu e nunca mais usou calça comprida para esconder seu problema! Eu procurava dizer a ele que as pessoas achavam estranho apenas porque as órteses eram diferentes, porque elas nunca haviam visto uma. Ele passou, então, a encarar de forma natural e a explicar às pessoas o que era aquilo e para quê servia. A órtese deixou de ser um motivo para vergonha e acanhamento, e passou a ser instrumento para conversas e aproximação de pessoas. Ele se aceitava porque nós o aceitávamos! Nem no começo da adolescência ele teve problemas como fato de uma perna ter ficado menor que a outra e o levado a ter uma marcha irregular.

Lidando com o preconceito

Muitas vezes tivemos que ir nas escolas que ele estudava para chamar a atenção das professoras! Crianças são malvadinhas de verdade, e às vezes abusavam do direito! Numa das escolas que ele estudou aos três anos, os meninos não deixavam ele jogar futebol, pois diziam que ele iria atrapalhar, já que era “aleijado”. Chamavam-no de “chocolate torto”, porque era moreno e mancava. Aquilo doía fundo em nós. Mas tínhamos que aprender a lidar de forma santa com a situação. Não temos controle quanto ao pecado dos outros. Tenho que aprender a lidar com o meu! Mais uma vez, quando o preconceito surgir, precisamos pedir forças a Deus para não darmos vazão ao nosso eu. Não devemos valorizar demais essas coisas, nos magoar demais, nos ferir demais. Eu também tive apelidos horrorosos na escola e estou viva! Por que o Davi não poderia enfrentar o que eu enfrentei? A deficiência não faz dele um fraco! Eu sim, poderia torná-lo um fraco se o ensinasse a se roer de autopiedade a cada apelido maldoso que ouvisse. Precisamos ensinar a nossos filhos que o valor que eles têm, eles o têm diante de Deus! É o que o Senhor Deus pensa a respeito deles que realmente conta. E esta lição vale para todos os filhos. Cuidado para não criar filhos viciados na aceitação das pessoas! Cuidado para não ser viciada na aprovação das pessoas! Ensine-o a dar valor ao que realmente tem valor!

Nossa jornada nesta terra não é fácil. Seja qual for a deficiência de nosso filho, devemos sempre ter em mente que o estamos criando para a glória de Deus e que ele não nos pertence. Devemos depositar nossa dor pelos sofrimentos de nossos filhos aos pés do Senhor. E por fim, precisamos ser gratas por termos sido presenteadas com filhos que necessitam mais de nós, por termos o privilégio de cuidar destas preciosidades! E exultemos ao nos lembrar que um dia estaremos todos juntos diante do Senhor, o Reto juiz. Naquele dia, seus corpos serão perfeitos. Ali não haverá mais choro, não haverá mais nenhum tipo de deficiência ou dor que o pecado trouxe junto de si ao entrar no mundo! Ali seremos todos transformados, com corpos glorificados e finalmente livres do nosso maior problema, que não é a deficiência física, mas o pecado contra o Deus santo!

2014-12-08

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simone* Simone Quaresma é casada há 24 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (22 anos), Israel (20 anos), Davi (18 anos) e Júlia (16 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler… de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por seu marido; trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.